MISTÉRIOS DE DEUS
SOMENTE SÃO COMPREENDIDOS COM CORAÇÃO
Quinta-Feira Da XVI Semana Comum
24 de Julho de 2014
Evangelho: Mt 13, 10-17
Naquele tempo, 10os discípulos
aproximaram-se e disseram a Jesus: “Por que tu falas ao povo em parábolas?” 11Jesus
respondeu: “Porque a vós foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino dos
Céus, mas a eles não é dado. 12Pois à pessoa que tem, será dado ainda mais, e
terá em abundância; à pessoa que não tem, será tirado até o pouco que tem. 13É
por isso que eu lhes falo em parábolas: porque olhando, eles não veem, e
ouvindo, eles não escutam, nem compreendem. 14Deste modo se cumpre neles a
profecia de Isaías: ‘Havereis de ouvir, sem nada entender. Havereis de olhar, sem
nada ver. 15Porque o coração deste povo se tornou insensível. Eles ouviram com
má vontade e fecharam seus olhos, para não ver com os olhos nem ouvir com os
ouvidos, nem compreender com o coração, de modo que se convertam e eu os cure’.
16Felizes sois vós, porque vossos olhos veem e vossos ouvidos ouvem. 17Em verdade
vos digo, muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram, desejaram
ouvir o que ouvis, e não ouviram”.
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Estamos ainda no terceiro discurso
de Jesus sobre o Reino de Deus em parábolas (Mt 13). Para a multidão entender a
realidade do Reino de Deus Jesus usa parábolas da vida cotidiana como comparação.
No texto do evangelho de hoje os discípulos
lançaram a seguinte pergunta para Jesus:“Por que tu falas em parábolas ao
povo?”. As parábolas de Jesus têm claridade e pedagogia para fazer entender
sua intenção para todos, menos aos que não querem entendê-las.
Na sua resposta Jesus enfatiza que
Deus é “mistério”. A palavra “mistério” é usada no AT, a partir de Daniel, para
denotar uma realidade dos tempos finais que Deus somente pode revelar (Dn
2,27-30.47), a realidade de um Reino eterno (Dn 2,44). Por Deus ser mistério
trata-se, por isso, de uma realidade difícil de entender e de conhecer. Jesus
conhece o mistério de Deus. Ele sabe que as coisas do Espírito necessitam de
uma certa sensibilidade para poder captar seu sentido. Deus não está no nível
das coisas. Deus não é da ordem das coisas. O mistério de Deus, em toda sua
riqueza, não é uma verdade que se impõe para a inteligência humana. É um
mistério que somente se dá aos que estão dispostos a escutar. Por isso, o ouvinte
tem que se esforçar para escutar. Escutar é ouvir com atenção. É participar da
mensagem ouvida para entender seu recado. É estar no outro para entender e
compreender aquilo que ele quer transmitir.
“Olhando, eles não vêem e,
ouvindo eles não escutam nem compreendem”. É a segunda razão dada por
Jesus. Há duas maneiras de “ver” e de “ouvir”. Há um modo estritamente
material: eu ouço palavras ditas por alguém, ruído de vozes etc. E outro modo é
o modo espiritual; é “ver” e “ouvir” com o coração. O mistério de Deus somente
é entendido com o coração. Deus cabe no nosso coração e não na nossa cabeça. É
preciso compreender tudo com o coração. Quando calarmos a inteligência, o
coração começará a compreender. O coração entende e compreende aquilo que a
razão desconhece.
Toda nossa vida é uma parábola na
qual Deus está escondido e pela qual Deus nos fala. Um pode ficar no exterior
das coisas e dos acontecimentos, ou pode “ouvir” e “ver” Deus no fundo e na
profundidade dos acontecimentos da vida. Uma pessoa com coração sempre vê além
das coisas, pois o coração entende aquilo que a inteligência desconhece. Com
efeito, uma pessoa que “vê” e “ouve” com coração os acontecimentos de cada dia,
capta as mensagens de Deus e vive com mais sabedoria e prudência. Mas aquele
que vive sem coração, vê apenas as coisas negativas e reclama da vida apesar de
ela ser um dom de Deus. Aquele que vê e ouve com coração vê longe e vê além das
aparências. Aquele que vê e ouve com coração compreende os outros e entende o
significado do silêncio do outro.
Uma pessoa com coração é uma pessoa
profunda, próxima, compreensiva, capaz de ir ao fundo das coisas e dos
acontecimentos. Uma pessoa com coração não é dominada pelo sentimentalismo e
sim é uma pessoa que alcançou uma unidade e uma coerência, um equilíbrio e uma
maturidade. Ela nunca é fria, mas cordial, nunca é cega diante da realidade,
mas realista, nunca é vingativa, mas pronta para perdoar e para reconciliar-se. A espiritualidade do coração é uma verdadeira
espiritualidade, pois inclui a oração, a conversão, a escuta do Espírito, o
cuidado para o próximo, a compaixão, a solidariedade e a partilha. o amor transforma
tudo que é pesado em leveza e a oração se torna prazerosa.
“Felizes sois vós, porque vossos
olhos veem e vossos ouvidos ouvem. Em verdade vos digo, muitos profetas e
justos desejaram ver o que vedes, e não viram, desejaram ouvir o que ouvis, e
não ouviram”, disse Jesus aos seus seguidores.
Os olhos dos simples são os que
descobrem os mistérios do Reino e o sentido da vida, em geral e de cada
acontecimento em particular. Jamais acontecerá isso para os olhos dos
arrogantes ou complicados. Recebemos de Deus o dom da fé com o qual somos
capacitados a descobrir o sentido das coisas, pois a “fé é a antecipação daquilo
que se espera e a certeza daquilo que não se vê” (Hb 11,1).
A revisão de vida consiste, por
isso, em “olhar de novo” com os olhos da fé, os acontecimentos, que na primeira
vez eram vistos com um olhar simplesmente humano, para entender os “recados” de
Deus para cada um de nós em particular e para a humanidade toda, em geral. Esta
revisão é necessária, pois também pode acontecer conosco aquilo que Jesus disse:
“... olhando, eles não veem, e ouvindo, eles não escutam, nem compreendem”.
Muita das vezes, não queremos ouvir ou entender algo porque , no fundo, não nos
interessa em aceitar o conteúdo daquilo que ouvimos ou que vemos. Não há pior
surdo do que aquele que não quer ouvir e não há pior cego do que aquele que não
quer ver. Porventura, fazemos caso, cada dia, da Palavra de Deus que
ouvimos/escutamos? Será que nos deixamos interpelar por ela quando ela se torna
exigente para nossa maneira de viver? Nós, que temos ouvido a Palavra de Deus,
devemos dar mais frutos do que os outros que nunca ouviram diretamente a
Palavra de Deus. Se levássemos a sério a Palavra de Deus que temos escutado,
nossa vida seria bastante distinta e faríamos diferença na família, na
comunidade, no trabalho e na sociedade em geral.
“Felizes sois vós, porque vossos
olhos veem e vossos ouvidos ouvem”. Daí-nos, Senhor, uns olhos novos
e uns ouvidos finos, para podermos ver e entender seus mistérios na nossa vida.
P. Vitus Gustama,svd
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