terça-feira, 8 de julho de 2014

SER MISSIONÁRIO É SER PARCEIRO DO BEM

Quarta-Feira Da XIV Semana Comum
09 de Julho de 2014
 

Evangelho: Mt 10,1-7
Naquele tempo, 1Jesus chamou os doze discípulos e deu-lhes poder de expulsar os espíritos maus e de curar todo tipo de doença e enfermidade. 2Estes são os nomes dos doze apóstolos: primeiro, Simão chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João; 3Filipe e Bartolo­meu; Tomé e Mateus, o cobrador de impostos; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; 4Simão, o Zelota, e Judas Iscariotes, que foi o traidor de Jesus. 5Jesus enviou estes Doze, com as seguintes recomendações: “Não deveis ir aonde moram os pagãos, nem entrar nas cidades dos samaritanos! 6Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel! 7Em vosso caminho, anunciai: ‘O Reino dos Céus está próximo’”.
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Terminada a serie de milagres narrados depois do Sermão da Montanha, entramos agora no segundo dos cinco grandes discursos de Jesus no evangelho de Mateus chamado o Discurso missionário que abrange Mt 9,36-11,1.


Há cinco grande discurso de Jesus no evangelho de Mateus:

·        Mt 5,1-7,28: Sermão da Montanha;

·        Mt 9,36-11,1: Discurso missionário;

·        Mt 13,1-52: Discurso sobre o Reino em parábolas;

·        Mt 18,1-35: Discurso sobre a vida comunitária/Igreja;

·        Mt 24,1-25,46: Discurso sobre o Julgamento final/ a Vinda do Filho do Homem).

Notemos que a missão em Mt não se limita apenas aos doze, mas para todos aqueles que queriam seguir a Jesus. Por isso, neste discurso sobre a missão não se fala nem da partida dos doze (Mc 6,12-13;Lc 9,6) nem do seu regresso (Mc 6,30;Lc 9,10). O discurso sobre a missão não é endereçado para a multidão e sim para os discípulos que serão enviados. Podemos dizer que este discurso serve como um tipo de “manual” para os seguidores de Jesus na tarefa de exercer a missão neste mundo. Todos os batizados são missionários. Cada batizado é discípulo-missionário.


Além disso, precisamos estar conscientes de que Jesus não buscou primeiro reunir pessoas ilustres e sim pessoas disponíveis, capazes de segui-Lo até o fim. São aqueles que darão sua vida por Ele. Judas Iscariotes faz parte de seu grupo. Ele também foi enviado para a missão, para uma grande missão. Jesus tomou esse risco ao confiar a responsabilidade de sua obra para pobres humanos. Por isso, há que rezar sempre por aqueles que têm responsabilidade na Igreja. Cada um de nós também tem uma missão, cada um é responsável, em uma parte da obra de salvação de Jesus.


Também Jesus é muito consciente da amplitude de sua obra. É necessário ter muito tempo. Sem pressa Jesus limita a missão no momento só dentro do território de Israel. Ele mesmo, durante sua vida terrena, se limitou ao que podia fazer: dirigir-se às ovelhas agarradas da casa de Israel. Mais tarde ele enviaria os discípulos pelo mundo inteiro (Mt 28,18-20). Em outras palavras, é preciso arrumar primeiro a casa. É preciso evangelizar os que estão dentro de casa para depois evangelizar os que estão fora dela que nem sempre é fácil. É o desafio de cada missionário-evangelizador.


O papel essencial dos escolhidos é expulsar os “espíritos imundos” e “curar os homens” de seus males. Em outras palavras são enviados para fazer o bem e destruir o mal. São chamados e enviados para ser parceiros do bem e enviados em busca de outros parceiros do bem. Ao fazer o bem, o mal não tem vez nem voz. Que os bons não fiquem em silêncio e que não se escondam em silêncio.


Os Doze são enviados com algumas instruções básicas. A primeira instrução de Jesus é “Não tomeis o caminho dos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos” (v.5). Podemos ter duas interpretações deste versículo. Primeiro, ele reflete uma tensão viva na comunidade de Mt onde certos grupos de origem judia não compreendiam nem aceitavam a missão aos pagãos. Segundo, na cultura de Jesus, a palavra “estrada/caminho” significa caminho ou modo de viver. Jesus pode ter querido dizer que não sigam o modo de viver dos pagãos que são idólatras.
   

A segunda instrução, “Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel” (v.6). Em Mt encontramos duas etapas da missão. Na primeira etapa (Mt 10), a missão de Jesus e de seus discípulos é limitada para as “ovelhas perdidas de Israel”. Aqui não se fala da seleção entre os melhores, mas trata-se de gente necessitada. Foi para as pessoas necessitadas de Israel que foram enviados os Doze. Na segunda etapa (Mt 28,19), o mandato missionário será para espalhar a Boa Nova a todos os povos.
     

Estas duas etapas da missão nos trazem uma lição muito importante para nossa comunidade: somos chamados a cuidar tanto dos de dentro da comunidade (missão ad intra), como dos de fora (missão ad extra). A Igreja ou comunidade sem caridade interna, não tem força para dar testemunho crível para os de fora da comunidade. O testemunho interno de comunhão é o primeiro passo para um anúncio mais eloqüente. Mas o cuidado com os de dentro não pode ser uma desculpa para ignorar os de fora. Ou, o cuidado com os de fora não justifica a falta de tempo ou atenção para com os de dentro. Temos, muitas vezes, mais facilidade de sorrir para os de fora do que para os de dentro. “É mais fácil simular virtudes que possuí-las. Por isso, o mundo está cheio de farsantes” (Santo Agostinho).


Pela profissão de cada escolhido percebemos que Jesus não buscou primeiro reunir pessoas ilustres e sim pessoas disponíveis, capazes de segui-Lo até o fim. São aqueles que darão sua vida por Ele (pelo Reino de Deus e sua justiça). Ouvimos muitas vezes a seguinte frase: Deus não escolhe os capacitados, mas Ele capacita os escolhidos. A vocação divina é sempre um mistério no sentido de que não temos capacidade para entender tudo, pois está fora de nosso alcance humano.


Jesus é um grande organizador de comunidades de homens e mulheres.  Havia muitas pessoas inquietas, mas necessitavam de um fator de coesão, de um líder que os vinculava e os ajudava a crescerem como pessoas. Esta faceta de organizador e de promotor de organizações comunitárias está condensada nos relatos de eleição dos doze missionários ou apóstolos para continuar a missão. E aqui está condensado um dos seus ensinamentos fundamentais: a comunidade cristã (pastorais, movimentos, grupos eclesiais ect.) existe para evangelizar. Não há outro motivo maior do que este. A comunidade cristã existe porque há um “povo cansado e abatido” diante do qual cada membro da comunidade cristã é chamado a ser solidário capaz de aliviar a dor alheia e de dar resposta a partir de sua própria insignificância e debilidade. Cada um de nós, apesar das fraquezas, tem algo de bom para ser partilhado para os outros. Se cada um tirar um pouco de bom de dentro de seu coração o cristianismo vai fazer diferença na sociedade.


Segundo o texto do evangelho deste dia, o papel essencial dos escolhidos é expulsar os “espíritos imundos” e “curar os homens” de seus males. Em outras palavras são enviados para fazer o bem e destruir o mal. São chamados para ser parceiros do bem e enviados em busca de outros parceiros do bem.


Ao enviá-los Jesus dá-lhes o poder. Mas este poder deve ser entendido como um dom de autoridade. A palavra autoridade provem do latim augere que significa crescer. Somente tem autoridade aquele que é capaz de fazer o outro crescer. A autoridade dada por Jesus tem as seguintes características:

1.    Está orientado por inteiro ao ministério apostólico, ou para o serviço (do bem) e não para dominar ou mandar e desmandar: expulsar o mal, fazer o bem, pregar o Reino. É um dom completamente missionário. Por isso, não se trata de nenhum poder de direção ou de governo.

2.    É uma autoridade conferida, mas não abandonada por Jesus a seus discípulos. É Jesus quem dá o poder. Esse poder pertence a Jesus. Conseqüentemente, não pode abusar desse poder para o próprio interesse. É para o bem de todos.

3.    Jesus reconhece que haverá oposição por causa do jogo de interesses mesquinhos. A presença do justo é uma censura viva para o desonesto e corrupto.

Nem todos são sucessores dos apóstolos, mas todos são seguidores de Jesus e por isso, devem continuar, cada um em seu ambiente, a missão que cada um recebeu no batismo. Todos nós formamos a Igreja “apostólica” e “missionária”. Por isso, não vamos à missa para ir à missa. Que a missa é, de uma parte, a expressão de nossa fé, de nossa esperança e de nossa caridade. Mas de outra parte, a missa é sempre um imperativo, uma exigência para fazer operativa nossa fé, nossa esperança e nossa caridade. Por isso, quando finaliza a missa, começa a realidade na vida; quando termina a celebração eucarística ou qualquer reunião eclesial, deve começar nosso compromisso cristão; quando termina a missa, deve começar a missão. Se não a missa careceria de sentido.
   

Somos chamados por Jesus Cristo para estar com ele a fim de aprendermos a ser parceiros do bem. Somos enviados depois do encontro com ele para fazer o bem e em busca dos novos parceiros do bem. A alma da missão é caridade. A única coisa que nos faz bem é fazer o bem. A vida não é uma luta para superar os outros, mas uma missão a ser exercida para dar o melhor de nós para a humanidade conforme os talentos recebidos de Deus. Estamos aqui neste mundo com um objetivo único, com um objetivo nobre que nos permitirá manifestar nosso mais alto potencial enquanto, ao mesmo tempo, acrescentamos valor às vidas das pessoas que estão a nossa volta. Descobrir a própria missão significa trazer mais de você mesmo para o trabalho, para a convivência e concentrar-se nas coisas que você sabe fazer melhor e dar sempre o melhor de você para os outros sem esperar nada em troca. 


O que você faz e pode fazer pelo Senhor e pela sua Igreja? “Faze o que podes. Deus não te pede mais” (Santo Agostinho. Serm. 128,10,12). Deus não condena quem não pode fazer o que quer, e sim quem não quer fazer o que pode” (Santo Agostinho. Serm. 54,2).

P.Vitus Gustama, SVD

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