MANTER CONTATO COM
JESUS PARA SER VIVO E SALVO
Segunda-Feira da XIV Semana Comum
07 de Julho de 2014
Evangelho: Mt 9, 18-26
18 Enquanto Jesus estava falando, um chefe aproximou-se, inclinou-se profundamente diante dele, e disse: “Minha filha acaba de morrer. Mas vem, impõe tua mão sobre ela e ela viverá”. 19 Jesus levantou-se e o seguiu, junto com os seus discípulos. 20 Nisto, uma mulher que sofria de hemorragia há doze anos veio por trás dele e tocou a barra de seu manto. 21 Ela pensava consigo: “Se eu conseguir ao menos tocar no manto dele, ficarei curada”. 22J esus voltou-se e, ao vê-la, disse: “Coragem, filha! A tua fé te salvou”. E a mulher ficou curada a partir daquele instante. 23 Chegando à casa do chefe, Jesus viu os tocadores de flauta e a multidão alvoroçada, 24 e disse: “Retirai-vos, porque a menina não morreu, mas está dormindo”. E começaram a caçoar dele.25 Quando a multidão foi afastada, Jesus entrou, tomou a menina pela mão, e ela se levantou. 26Essa notícia espalhou-se por toda aquela região.
1. Um Chefe Que Suplica a Jesus Pela Filha Morta: Jesus É
a Ressurreição e a Vida
Os dois episódios no evangelho de
hoje (uma menina morta que voltou a viver e uma mulher curada de sua
hemorragia) se encontram também em Marcos (Mc 5,21-43) e em Lucas (Lc 8,40-56).
Em Mateus, no primeiro episódio,
aquele que se aproxima de Jesus que suplica pela filha morta não tem nome.
Simplesmente ele é “um chefe”. Não se diz que é um chefe da sinagoga como em
Marcos e Lucas nos quais se fala de Jairo. Este chefe que manifesta sua fé em
Jesus nos leva ao episódio do centurião que pediu a cura para seu empregado (Mt
8,5-13). Mas o caso do chefe é grave, pois trata-se da filha morta.
Neste primeiro episódio do evangelho
deste dia Jesus se encontra, então, diante da morte de uma menina e o pai desta
pede a Jesus para impor sua mão sobre ela a fim de ela voltar a viver: “Minha
filha acaba de morrer. Mas vem, impõe tua mão sobre ela e ela viverá”.
Trata-se de um pobre chefe esmagado pela dor: a morte de sua filha. Há
situações diante das quais a força humana (chefe) fica impotente, como diante
da morte. Nessas situações só a fé é que pode nos ajudar, como fez o pai da
menina falecida. É algo surpreendente a confiança posta por esse homem em
Jesus. É uma verdadeira fé no impossível: fé no poder de Jesus de fazer sua
filha voltar a viver. Lá onde a força humana terminar, a fé a continuará. Jesus
não se resiste a este tipo de oração. “Jesus se levantou e o seguiu junto com
seus discípulos”, assim relatou Mateus.
Quando chegou à casa da menina
morta, Jesus disse à multidão: “Retirai-vos porque a menina não morreu e sim
está dormindo”. Jesus quer dizer que
para ele e para o poder de Deus a morte não significa mais que um sono ligeiro.
Morrer é descansar em paz nos braços do Pai celeste. Da mesma maneira Jesus
também falou de Lázaro morto: “Nosso amigo Lázaro está dormindo e vou
despertá-lo” (Jo 11,11). A morte para Deus não é um poder insuperável. As
coisas têm um aspecto muito distinto diante do olhar de Deus e diante da experiência
do homem. Mas se aprendermos a olhar tudo a partir de Deus, então a morte
perderá seu caráter arrepiante. Para Jesus, a morte não tem o caráter temível e
definitivo. Para ele, a morte é uma espécie de “sono” do qual Deus tem o poder
de despertar. Se para Jesus a morte não tem nenhum caráter temível, pois é
apenas uma passagem para uma vida eterna, deve ser também para quem quiser
segui-lo. O cristão é chamado a proteger a vida no seu inicio, na sua duração e
no seu término na história, pois Deus é a Vida por excelência e por isso, chama
todos à vida, especialmente para aqueles que vivem no desespero e na falta de
esperança. A menina morta voltou a viver por causa do poder de Jesus.
Quem é este “chefe”? Ele não tem
nome nem determinada função (se é chefe de sinagoga ou se é chefe dos judeus ou
se é chefe do sinédrio). Ele é simplesmente um chefe. Pode ser qualquer um de nós, pois, de alguma
forma, cada um é chefe: seja dentro da família, seja fora dela (na sociedade).
Uma pessoa pode ser muito importante (“chefe”) entre os homens ou muito
poderosa do ponto de vista humano, mas ela precisa também de salvação. O poder mundano
não salva, pois diante da morte tudo que é humano cai no chão. O brilho falso
tem seu fim. Somente Deus salva e nos garante a vida eterna. Do ponto de vista
humano, paradoxalmente, o aparente superpotente ou super-poderoso é, na
verdade, impotente. Mas “quando me sinto fraco, então é que sou forte”,
escreveu São Paulo à comunidade de Corinto (2Cor 12,10).
Um ser humano precisa de outro ser
humano para possibilitar seu crescimento como ser humano. Podemos possuir tudo
que o mundo tem a oferecer em termos de status, realizações e bens, no entanto,
sem nos sentirmos integrados, tudo isso parece vazio e inútil. A integração
(viver em comunidade como irmãos/família) sugere calor, compreensão e abraço.
Quando ficamos isolados, estamos propensos a ser prejudicados. Sentir-se
integrada mantém a pessoa em equilíbrio. Sempre que há distância, há também
anseio.
E o ser humano, enquanto criatura,
precisa do Salvador que dá sentido para tudo na sua vida. Por isso, Santo
Agostinho dizia: “Ninguém está tão só do que aquele que vive sem Deus. E,
o homem, para onde se dirija, sem se apoiar em Deus só encontrará a dor”.
Nas suas Confissões, Santo Agostinho rezou: “Fizeste-nos para Ti, Senhor, e
inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em Ti. Dá-me, Senhor, saber
e compreender qual seja o primeiro: invocar-Te ou louvar-Te; conhecer-Te ou
invocar-Te. Mas quem Te invocará sem Te conhecer? (...) Que eu Te busque,
Senhor, invocando-Te; e que eu Te invoque, crendo em Ti: Tu nos foste anunciado”
(Conf. 1,1).
2. Mulher Curada da hemorragia
Dentro do primeiro episódio Mateus insere
outro episodia: uma mulher que sofria de hemorragia há doze anos. Em primeiro
lugar, essa mulher não tem nome, nem se menciona sua família nem sua tradição. Menciona-se,
além disso, seus doze anos de sofrimento! O número “doze” aplicado aos anos de
sua enfermidade é clara alusão a Israel. A mulher enferma representa, então, o
povo que para que seja salvo (cura) é preciso renunciar à Lei para entrar
contato direto com Jesus. Jesus seria “impuro”, isto é, não tem acesso a Deus (salvação)
por seu contato com os “pecadores” (Mt 9,10-13). Mas Jesus é Emanuel, Deus-Conosco
(Mt 1,23; 18,20; 28,20) que vem para salvar. Para encontrar a salvação nele é
preciso se aderir a ele e fazer contato com ele.
Segundo o texto do evangelho de hoje
essa mulher não pede nada e não diz nada a Jesus. Mas ela mostra sua fé total
em Jesus. A fé dessa mulher é comparável à do chefe do primeiro episódio; sua
certeza de cura é total. Ela somente pensa e silenciosamente se aproxima de
Jesus para tocar a barra do seu manto: “Se eu conseguir ao menos tocar no manto
dele, ficarei curada”, pensou essa mulher.Jesus tinha curado o leproso com seu
contato (Mt 8,15).
A mulher que sofre de hemorragia se
aproxima e toca a orla do manto de Jesus. Este gesto era proibido na cultura
judaica. Uma mulher não podia olhar para um homem em publico, muito menos tocá-lo.
A situação fica pior ainda porque a mulher está com a hemorragia que pode
causar a impureza legal para a pessoa tocada. Por ser mulher e pela sua
enfermidade essa mulher estava duplamente excluída. Mas ela não quer saber das
proibições. Ela quer encontrar-se com Jesus e tocar seu manto. Ela não quer ser
escrava das regras e dos costumes desumanos. Pois de fato, as regras culturais
e de culto a afasta da convivência e da salvação.
Quantas pessoas são escravas das
regras. A graça produz as regras, mas as regras não produzem a salvação, pois
elas são apenas meios e não o fim. Os costumes que não salvam, não podem ser
mantidos.
Jesus reconhece nessa mulher a fé
que transforma sua situação triste em alegria por encontrar o Salvador, Jesus:
“Coragem, filha! A tua fé te salvou”. O termo “filha” coloca essa mulher em relação
com “a filha” do chefe. Ambas são figuras de Israel. A partir de então, a
mulher voltou a viver sua vida saudavelmente.
Os dois (chefe cuja filha estava
morta e a mulher que sofria de hemorragia há doze anos) se aproximam de Jesus
com muita fé e obtêm o que pedem. Eles confiam, se apóiam e se abandonam
totalmente em Jesus. E receberam uma
resposta adequada da parte de Jesus: a volta da filha para a vida e a cura da
mulher sofrida de hemorragia de longos anos. Por causa da fé eu preparo o
espaço necessário para que Deus possa atuar. A fé é sempre e continua sendo a
condição e o fundamento da ação salvadora de Deus no homem. A novidade do Reino
trazido por Jesus não é somente a cura, mas principalmente a ressurreição ou a
salvação.
A dor daquele pai e o sofrimento
daquela mulher podem ser um bom símbolo de todos os nossos males, pessoais e
comunitários. Também agora, como em sua
vida terrena, Jesus nos quer atender e nos encher de sua força e de sua
esperança. É preciso manter nosso contato diário com Jesus para que sejamos
vivos e salvos. Na Eucaristia ele mesmo se dá como alimento, para que, quando
nos aproximamos dele e o recebemos com fé, possa curar também nossos males. Mas
a cura-salvação não é um toque mágico e sim um encontro de pessoas com Jesus. É
o encontro com Jesus na fé que cura e salva, e somente depois do encontro é que
Jesus diz as seguintes palavras: “A tua fé te salvou!”.
Para Refletir:
1.
A fé nasce no encontro com o Deus vivo, que nos
chama e revela o seu amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos
apoiar-nos para construir solidamente a vida. Transformados por este amor,
recebemos olhos novos e experimentamos que há nele uma grande promessa de
plenitude e nos é aberta a visão do futuro. A fé, que recebemos de Deus como
dom sobrenatural, aparece-nos como luz para a estrada orientando os nossos
passos no tempo (Papa Francisco: Lumen Fidei, Carta Encíclica).
2.
A fé está ligada à escuta. Abraão não vê Deus, mas
ouve a sua voz. Deste modo, a fé assume um caráter pessoal: o Senhor não é o
Deus de um lugar, nem mesmo o Deus vinculado a um tempo sagrado específico, mas
o Deus de uma pessoa, concretamente o Deus de Abraão, Isaac e Jacob, capaz de
entrar em contato com o homem e estabelecer com ele uma aliança. A fé é a
resposta a uma Palavra que interpela pessoalmente, a um Tu que nos chama por
nome... A fé “vê” na medida em que caminha, em que entra no espaço aberto pela
Palavra de Deus (idem).
3.
O contrário da fé é a idolatria. O ídolo é um pretexto para se
colocar a si mesmo no centro da realidade, na adoração da obra das próprias
mãos. A idolatria é sempre
politeísmo, movimento sem meta de um senhor para outro. A idolatria não oferece
um caminho, mas uma multiplicidade de veredas que não conduzem a uma meta
certa, antes se configuram como um labirinto. A fé, enquanto ligada à conversão, é o contrário da
idolatria: é separação dos ídolos para voltar ao Deus vivo, através de um
encontro pessoal (idem).
4.
Acreditar significa confiar-se a um amor
misericordioso que sempre acolhe e perdoa, que sustenta e guia a existência,
que se mostra poderoso na sua capacidade de endireitar os desvios da nossa
história. A fé consiste na disponibilidade a deixar-se incessantemente transformar
pela chamada de Deus. Paradoxalmente, neste voltar-se continuamente para o
Senhor, o homem encontra uma estrada segura que o liberta do movimento
dispersivo a que o sujeitam os ídolos.
P. Vitus Gustama,svd
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