NOSSA
SENHORA DO CARMO
16 de Julho
Evangelho: Mt 12, 45-50
Naquele tempo, 46
enquanto Jesus estava falando às multidões, sua mãe e seus irmãos ficaram do
lado de fora, procurando falar com ele. 47 Alguém disse a Jesus: “Olha! Tua mãe
e teus irmãos estão aí fora, e querem falar contigo”. 48 Jesus perguntou àquele
que tinha falado: “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?” 49 E, estendendo
a mão para os discípulos, Jesus disse: “Eis minha mãe e meus irmãos. 50 Pois
todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão,
minha irmã e minha mãe”.
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Celebramos neste dia (16 de julho) a
festa de Nossa Senhora do Carmo (Carmelo). Nossa Senhora do Carmo é um dos títulos
do século XIII dado à Nossa Senhora.
A festa de Nossa Senhora do Carmo
(Carmelo) nos traslada espontaneamente para a terra da Bíblia, para o monte
Carmelo (cf. Is 35,2; Ct 7,6; Am 1,2). O Carmelo sempre foi um monte sagrado.
No século IX antes de Cristo, o profeta Elias converteu esse lugar no refúgio
da fidelidade ao Deus único (monoteísmo) e no lugar dos encontros entre o
Senhor e seu povo (cf. 1Rs 18,39). Durante as Cruzadas, os ermitãos cristãos se
recolheram nas grutas daquele monte emblemático, até que no século XIII
formaram uma família religiosa à qual o patriarca Alberto de Jerusalém deu uma
regra em 1209, confirmada pelo Papa Honório III (1216-1227) em 30 de janeiro de
1226. O mesmo Papa também confirmou o reconhecimento de outras ordens: os
dominicanos (22 de dezembro de 1216) e os franciscanos (29 de dezembro de
1223).
O Monte Carmelo está situado na
planície de Galileia, perto de Nazaré, onde viveu Maria, a Mãe do Senhor que
conservava tudo em seu coração (cf. Lc 2,51). Por isso, a Ordem do Carmelo se
põe desde suas origens sob a proteção da Mãe dos contemplativos. É natural que
no século XVI, os dois doutores da Igreja e reformadores da Ordem, Santa Teresa
de Jesus e São João da Cruz converteram o Monte Carmelo no sinal do caminho
para Deus.
Desde aqueles ermitãos que se
estabeleceram no monte Carmelo, os carmelitas se distinguiram por sua profunda
devoção à Santíssima Virgem Maria.
Quando Palestina foi invadida pelos
sarracenos (árabes), os Carmelitas tiveram que abandonar o Monte Carmelo.
Enquanto cantavam o cântico Salve apareceu lhes a Virgem Maria e lhes prometeu
que seria sua Estrela do Mar, pela analogia da beleza do Monte Carmelo que se
alça como uma estrela junto ao mar Mediterrâneo. A ordem se difundiu pela
Europa, e a Estrela do Mar lhe acompanhou e a Ordem foi se propagando pelo
mundo e eram chamados de “Irmãos de Nossa Senhora do Monte Carmelo”. Em sua
profissão religiosa se consagravam a Deus e a Maria, e tomavam o habito em sua
honra, como lembrança (aviso) de que suas vidas pertencem a ela, e por ela a
Cristo.
Simon Stock, nomeado superior da
Ordem dos Carmelitas (1245), compreendeu que sem a intervenção da Virgem Maria,
a Ordem teria vida curta. Recorreu a Maria a qual chamou de “Flor do Carmelo” e
“Estrela do Mar” e pus a Ordem sob seu amparo, suplicando-lhe sua proteção para
toda a comunidade. Na resposta à sua oração, no dia 16 de julho de 1251
apareceu-lhe a Virgem Maria (em Cambridge na Inglaterra) e deu-lhe o
escapulário para a Ordem com a seguinte promessa: “Este deve ser um sinal e
privilégio para ti e para todos os Carmelitas: quem morre com o escapulário não
sofrerá o fogo eterno”.
Nós nos comunicamos por símbolos,
bandeiras, emblemas, escudos e uniformes que nos identificam. As comunidades
religiosas levam seu habito ou outro sinal ou símbolo como sinal de sua
consagração a Deus. Os leigos que desejam associar-se aos religiosos no caminho
da santidade podem usar escapulários, miniatura de habito, com rosário e a
medalha milagrosa. São Afonso Ligório disse: “Os homens se orgulham quando os
outros usam sua uniforme, e a Virgem está satisfeita quando seus servidores
usam seu escapulário como prova de que se dedicaram a seu serviço, e são
membros da família da Mãe de Deus”. O escapulário foi instituído pela Igreja
como sacramental e sinal que nos ajuda a viver santamente e a aumentar nossa
devoção e que propicia a renúncia ao pecado.
Por isso, é preciso que estejamos
conscientes de que o escapulário de Nossa Senhora do Carmo, como qualquer
outro, não é um objeto para uma proteção mágica (um amuleto); nem uma garantia
automática de salvação; nem uma dispensa para não ouvir as exigências da vida
cristã. O escapulário é um sinal “forte” aprovado pela Igreja desde séculos que
representa nosso compromisso de seguir a Jesus como Maria: abertos a Deus e a
sua vontade, guiados pela fé, pela esperança e pelo amor, ser próximos dos
necessitados, orando constantemente e descobrindo Deus presente em todas as
circunstâncias, ser um sinal que alimenta a esperança do encontro com Deus na
vida eterna.
Quem usa o escapulário deve estar
consciente de sua consagração a Deus e à Virgem Maria e ser consciente em seus
pensamentos, palavras e obras. Maria, a Mãe do Senhor foi a primeira discípula
de Jesus Cristo, pois ela viveu segundo a Palavra de Deus: “Eis me aqui a Serva
do Senhor. Faça-se em mim segundo a Tua Palavra” (Lc 1,38). Para são João da
Cruz a Virgem Maria foi sempre dócil aos impulsos do Espírito Santo, pois “jamais
teve impressa na alma forma de alguma criatura, nem se moveu por ela; mas
sempre agiu sob a moção do Espírito Santo” (III Subida 2,10). E
para Santa Teresa de Jesus Maria “estava sempre firme na fé” (VI Moradas 7,14),
cheia de “tão grande fé e sabedoria” que sempre aceitou em sua vida os caminhos
de Deus, escutando humildemente a Palavra (cf. Conceitos do Amor de Deus 6,7).
O evangelho lido neste dia é
escolhido em função da festa de Nossa Senhora do Carmo. Na passagem do evangelho
Jesus pergunta e afirma: “Quem é minha mãe? Quem são meus irmãos. Todo
aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha
irmã e minha mãe” (Mt 12,50). Trata-se de uma família ou uma comunidade de
Deus, e por isso, de uma comunidade de salvação. A pergunta não significa um
desprezo de Jesus aos seus parentes ou familiares. Ninguém amou Sua mãe melhor
do que o próprio Jesus. E nenhuma mãe amou melhor seu Filho, Jesus, do que a
própria Maria. Jesus oferece aos homens a qualitativa intimidade de sua
família. A família humana de Jesus viveu conforme a vontade de Deus: José que
criou Jesus era chamado de “o justo”, aquele que vive segundo os mandamentos de
Deus (cf. Mt 1,19). Maria, a Mãe de Jesus foi chamada pelo anjo do Senhor de
“cheia de graça” (cf. Lc 1,28) e “Bendita entre as mulheres” e a “Mãe do meu
Senhor” por Isabel (Lc 1,42-43).
Por isso, a família humana de Jesus
serve de exemplo para todas as famílias humanas sobre a face da terra. Que é
possível formar uma família de Deus nesta terra. A única maneira de salvar a
família humana é transformá-la em família de Deus, família que vive de acordo
com os mandamentos de Deus, família que coloca Deus como o centro de sua vida e
a família que se funda sobre a rocha da Palavra de Deus (cf. Mt 7,24-25).
“Todo aquele que faz a vontade do
meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”,
disse Jesus. Os frutos da participação no Reino anunciado por Jesus são:
a fraternidade, a maternidade, a comunhão de todos na mesma fé, na mesma esperança
e no mesmo amor. Nossa Senhora soube educar bem seu filho a ponto de Jesus
menino crescer na estatura, na sabedoria e na graça diante de Deus e diante dos
homens (cf. Lc 2,52). Por isso, a Mãe do Senhor é uma grande educadora na qual
todas as famílias devem se espelhar.
Maria concebeu Jesus antes com a fé do
que em seu seio virginal. Maria acreditou e logo foi mãe. Todos nós, cristãos,
temos algo de filhos gerados no amor e algo de mães e irmãos gerados na fé que
nos faz filhos no Filho de Deus, Jesus Cristo. Vivamos como Maria: creiamos em
Cristo, vivamos com Ele e n’Ele, e assim contribuiremos a gerar filhos para
Deus.
A Virgem Maria, Nossa Senhora do
Carmo, nos ensina a vivermos abertos diante de Deus e de Sua vontade, manifestada
nos acontecimentos da vida; a escutarmos a voz ou a Palavra de Deus na Bíblia e
na vida, para meditá-la, pondo depois em prática as exigências desta voz; a
orarmos fielmente sentindo Deus presente em todos os acontecimentos; a vivermos
próximos de nossos irmãos e a sermos solidários com eles em suas necessidades.
A Mãe do Senhor e nossa mãe (cf. Jo 19,26-27) jamais pode nos abandonar, pois
somos seus filhos no seu Filho Jesus Cristo. Nenhuma mãe normal é capaz de
abandonar seu filho.
Senhora gloriosa, bem mais que o sol
brilhais.
O Deus que vos criou ao seio
amamentais.
O que Eva destruiu, no Filho
recriais;
do céu abris a porta e os tristes
abrigais.
Da luz brilhante porta, sois pórtico
do Rei.
Da Virgem veio a vida. Remidos, bendizei!
Ao Pai e ao Espírito, poder, louvor,
vitória,
e ao Filho, que gerastes e vos
vestiu de glória (Hino de Laudes).
“Ó Virgem Maria, tomai nossa defesa e mostrai que sois nossa Mãe!” (Simão Stock).
P. Vitus Gustama, SVD
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