UM DEUS QUE CABE NO
CORAÇÃO DO HOMEM, MAS NÃO NA SUA CABEÇA
Segunda-Feira Da XVI Semana Comum
21 de Julho de 2014
Evangelho: Mt 12,38-42
Naquele tempo, 38 alguns mestres da
Lei e fariseus disseram a Jesus: “Mestre, queremos ver um sinal realizado por
ti”. 39 Jesus respondeu-lhes: “Uma geração má e adúltera busca um sinal, mas
nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal do profeta Jonas. 40 Com efeito, assim
como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim também o
Filho do Homem estará três dias e três noites no seio da terra. 41 No dia do
juízo, os habitantes de Nínive se levantarão contra essa geração e a condenarão,
porque se converteram diante da pregação de Jonas. E aqui está quem é maior do
que Jonas. 42 No dia do juízo, a rainha do Sul se levantará contra essa geração,
e a condenará, porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão.
E aqui está quem é maior do que Salomão”.
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“Mestre, queremos um sinal realizado
por Ti”.
Sempre estamos tentados em fazer para
Deus esta pergunta: “Senhor, queremos um sinal realizado por Ti”. Além disso,
queremos ainda mais fazer uma ladainhas de perguntas para Deus. Por que Deus
não escreveu seu Nome no céu para o ser humano ler e acreditar nele sem
dificuldade? Por que Ele não nos dá uma prova expressa de Sua existência de
maneira que nossa dúvida se torne impossível? Assim os ateus, os pagãos e os
adeptos de qualquer religião ficariam tranqüilos? Por que Deus não faz, então,
este sinal? Simplesmente porque Deus não é o que pensamos.
A imagem de Deus que temos nem
sempre é o próprio Deus. Até acontece muitas vezes que ficamos mais com uma
suposta imagem de Deus do que com o próprio Deus. Agarramos, muitas vezes, uma
suposta imagem de Deus do que o próprio Deus.
Deus é um Deus de amor (1Jo 4,8.16), e estamos sempre tentados a
atribui-lhe outro papel. Deus não quer ser servidor dos caprichos dos homens. Deus
é diferente e é o Diferente por excelência.
O sinal de Deus, por excelência, é a
morte de Jesus na cruz por amor aos homens (Jo 3,16; 13,1) e a sua
ressurreição, pois Deus é a Vida (Jo 14,6). É o mistério pascal de Jesus
Cristo.
Pedimos “sinais” a Deus. E ele nos dá muitos sinais na nossa vida; mas
não sabemos vê-los nem sabemos interpretá-los. O mundo e a história estão
cheios de sinais de Deus. Um dos objetivos da “revisão de vida” é o de aprender
uns dos outros a ver e a ler os sinais de Deus nos acontecimentos e na própria
vida de cada um de nós. Deus trabalha no mundo. Nele é que o mistério pascal
continua se realizando. Deus nos dá sinais, mas são sinais discretos e não espetaculares.
É preciso ter muita serenidade para captar e entender os sinais de Deus na
nossa vida e os sinais que estão ao nosso redor.
Deus está tão próximo de nós. “Estava
no mundo e o mundo não O conheceu”, escreveu são João (Jo 1,10). Deus continua
atuando nos olhos dos que choram, nos que sofrem por serem justos, honestos, e
verdadeiros; nos que trabalham pela paz apesar da resistência diante da
reconciliação; em quantos trabalham pela erradicação da fome e da pobreza
apesar da exploração e da corrupção de alguns grupos insensíveis às questões
sociais; em todo o homem e a mulher que procuram Deus com coração sincero
apesar das dores encontradas na vida. A sua vontade de rezar e de meditar a
Palavra de Deus é sinal de que o Espírito de Deus continua atuando em você. O
Espírito de Deus continua atuando em você quando reza por si e pelos outros; está
em quantos estão sempre prontos para ajudar quem está em necessidade. Numa
palavra, em tudo o que é bondade e amor, paz e bem porque tudo isto é reflexo e
semente do sinal básico do sacramento perene do próprio Deus. Em tudo que
aconteceu e acontece e acontecerá na nossa vida Deus quer nos dizer alguma
coisa a respeito de nossa salvação, mas que nem sempre sabemos criar o silêncio
para ouvir a mensagem de Deus. O silêncio é o vazio fecundo que possibilita a
presença do Eterno, ou da Plenitude na nossa vida.
Jesus não quer que nossa fé se
baseie unicamente nas coisas maravilhosas e sim na Sua Palavra: “Se vocês não
vissem sinais, não acreditariam” (Jo 4,48). Temos sorte do dom da fé. Para crer
em Jesus Cristo não necessitamos de milagres novos. Basta ter a fé, seremos
felizes (Jo 20,29; cf. Hb 11,1). Sua ressurreição é suficiente para qualquer
cristão. A ressurreição de Jesus é o maior de todos os milagres que nos leva a
termos a esperança de que temos um futuro com Deus. A fé não é ciosa de provas
exatas, nem se apóia em novas aparições nem em milagres espetaculares ou em
revelações pessoais. Jesus já nos felicitou: “Felizes os que crêem sem terem
visto” (Jo 20,29). Deus está muito mais no nosso coração do que na nossa
cabeça. O coração sente aquilo que os olhos não vêem. Deus cabe no nosso coração
e não na nossa cabeça.
O Concilio Vaticano II, através de
um dos seus famosos documentos, chamado Gaudium et Spes, afirma:
“é dever da Igreja investigar a todo o momento os sinais dos tempos, e
interpretá-los à luz do Evangelho; para que assim possa responder, de modo
adaptado em cada geração, às eternas perguntas dos homens acerca do sentido da
vida presente e da vida futura, e da relação entre ambas. É, por isso,
necessário conhecer e compreender o mundo em que vivemos, as suas esperanças e
aspirações, e o seu caráter tantas vezes dramático” (GS, no.4).
Para Refletir: ONDE ESTÁ TEU DEUS?
“Deus está ali; naquele cantinho
mais secreto da tua vida, aonde ninguém chega, em que uma voz que não sabes
donde vem, nem para onde vai, te diz o que não querias ouvir, te recorda o que
desejarias ter esquecido, te profetiza o que nunca desejarias saber. Nessa voz
que não ouves, mas que te desaprova. Nessa voz que não é tua, mas que nasce em
ti e que nem o sono, nem o barulho, nem a bebida, nem a carne conseguem fazer
calar. Está nessa resposta que ainda não te atrevestes a dar e que verificas ir
ser dolorosa mas eficaz, como uma operação cirúrgica. Deus está nesse abismo
profunda da tua incredulidade. É aquilo que lamentas ter perdido, que temes
reencontrar e que quererias possuir, ainda que te envergonhes de o confessar
aos outros. Deus está no gozo do bem que fizeste sem que ninguém o soubesse. Deus
está na paz do lago sereno das tuas lágrimas quando te reconcilias com a tua
consciência e que te dá a sensação de renasceres. Deus está em todo o gesto de
amor. Está em cada mão que se abre para o bem. Está no trabalho que te
sensibiliza para a vida, que te fortalece para o amor. Está em todo o bem que
desejas para os que amas. Está nas coisas mais insignificantes que te podem dar
serenidade. Deus está em tudo que não chamas Deus, mas que te sentes tentado a
adorar, a beijar, a abraçar. Está no gosto da inocência intacta. Deus está nessa força misteriosa que nos mantém vivos,
que nos impede de enlouquecer, que nos evita o suicídio depois de certas provas
dramáticas da vida, depois de certos desgostos mais cruéis e trágicos do que a
morte. Deus está no coração de toda a verdadeira esperança; a esperança pode, por
vezes, esconder-se como as estrelas, mas nunca apagar-se porque é o reflexo do
sol e o sol não “morre” porque é a luz de Deus. E Deus não fecha os olhos a
ninguém. Se o fizesse, não seria o Amor. Por isso, Deus está sobretudo onde
reina o amor”
(Juan Arias: O Deus Em Quem Não Creio).
P. Vitus Gustama,svd
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