A PALAVRA DE DEUS NÃO
CONHECE O FRACASSO E A CADUCIDADE
Sexta-Feira da XXXIV
Semana Comum
28 de Novembro de 2014
Evangelho: Lc 21,29-33
29 Jesus contou-lhes uma
parábola: “Olhai a figueira e todas as árvores. 30 Quando vedes que elas
estão dando brotos, logo sabeis que o verão está perto. 31 Vós também, quando virdes
acontecer essas coisas, ficai sabendo que o Reino de Deus está perto. 32 Em verdade, eu vos digo:
tudo isso vai acontecer antes que passe esta geração. 33 O céu e a terra passarão,
mas as minhas palavras não hão de passar.
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Continuamos a acompanhar o discurso
escatológico ou apocalíptico de Jesus na versão do evangelho de Lucas (Lc
21,5-36). É um discurso que Jesus faz
antes de sua morte iminente em Jerusalém. Jesus acabou de anunciar, no texto do
evangelho do dia anterior, sobre o fim de Jerusalém e simbolicamente sobre o
fim do mundo, e a parusia (segunda vinda do Senhor). O que para muita gente
aparece como uma destruição e um juízo terríveis, para os que vivem de acordo
com a Palavra de Deus, pelo contrário, deve aparecer como o começo da
verdadeira salvação: “Quando virdes acontecer essas coisas, ficai sabendo
que o Reino de Deus está perto... O céu e a terra passarão, mas as minhas
palavras não hão de passar”. Para o cristão, cada acontecimento da história
é considerado como uma etapa que o aproxima da redenção ou do Reino de Deus.
Jesus toma uma comparação da vida do
campo para que os ouvintes entendam a dinâmica dos tempos futuros ou dos novos
tempos. “Olhai a figueira e todas as árvores. Quando vedes que elas estão
dando brotos, logo sabeis que o verão está perto”. No lugar em que existem
quatro estações, esta imagem é bastante formosa e convidativa para uma contemplação.
A condição de uma árvore num verão é diferente de sua condição no outono, como
também na estação do inverno.
“Quando vedes que as árvores
estão dando brotos...”. É o momento do surgimento de uma vida nova. A
natureza se renova permanentemente. As folhas velhas vão caindo para dar lugar
aos novos brotos numa árvore. Uma árvore cresce dessa maneira! As folhas caídas
para a terra se transformam em adubo para a própria árvore. A natureza sabe se
virar quando não houver a intervenção forçada do homem a não ser numa situação em
que a mão humana precisa interferir para melhorar a natureza. Como as folha
velhas caídas que dão lugar para novas folhas, assim também cada dia que se
despede é o momento da lua e demais estrelas brilharem na escuridão da noite.
Cada noite que se despede é o aparecimento do novo dia, da luz que brilha com
uma maior intensidade. A infância dá lugar para a adolescência e a adolescência
dá lugar para a juventude e a juventude dá lugar para a idade adulta e assim
por diante. Ninguém tem poder para segurar o tempo e os efeitos causados pela
passagem do tempo na natureza, incluindo a natureza humana.
O homem precisa aprender a lição da
natureza que cresce renovando-se. Em
cada novo dia nascem novas oportunidades, novo ânimo, nova página da vida para
escrever muitas lições. Sobre esta nova página posso construir minha vida e
salvação. Sobre esta nova página da vida posso conhecer mais e viver melhor;
escutar e estudar mais para compreender melhor; compreender mais para ponderar
melhor; comprometer-me mais para omitir-me menos; refletir mais para reagir
menos; para amar mais e buscar-me menos; para representar mais e menos
apresentar: é uma passagem da apresentação para a representação, do fingimento
para a transparência. Viver é aprender a virar página para poder ler coisa nova
a fim de renovarmos nossa vida e a força de caminhar.
Perante o discurso de Jesus sobre o
fim do mundo ou de uma história precisamos adotar duas atitudes. A primeira
atitude é a esperança. Quem tem fé deve ter esperança e quem tem a esperança é
porque tem muita fé. A esperança nos faz caminharmos, em cada momento, um passo
adiante, pois a esperança está sempre na nossa frente chamando-nos a caminhar. A
fé e a esperança em Deus que é fiel renovam nossas forças e nos animam para
lutar sem cessar. “A fé é a certeza daquilo que não se vê e a antecipação daquilo
que se espera”, assim afirma a Carta aos hebreus (Hb 11,1).
A segunda atitude é a confiança. Confiança
é crença ou certeza de que suas expectativas serão concretizadas; é crença de
que algo não falhará. É a certeza de que Deus jamais pode fracassar, que as
palavras divinas são sólidas, não são frágeis nem caducas, pois são palavras da
vida eterna (cf. Jo 6,69). “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras
não hão de passar”, disse-nos Senhor (Lc 21,33). Somos chamados por Jesus a
confiar plenamente na Palavra de Deus, pois é a Palavra Eterna, Palavra Divina.
Além das duas atitudes mencionadas
anteriormente, Jesus nos convida a termos o discernimento em qualquer momento
ou em qualquer estação da vida: “Quando vedes que as árvores estão dando
brotos, logo sabeis que o verão está perto” (Lc 21,30). Falar em
discernimento significa reconhecer a necessidade de que todos nós temos que
compreender bem o sentido da vida, os rumos a ser tomados e os desafios a ser
enfrentados. É decifrar a mensagem ou o recado de Deus em cada acontecimento de
nossa vida, pois com Deus e para Deus não há acaso. É descobrir o apelo de Deus
todos os dias de nossa vida. “Qual é o apelo de Deus para mim hoje” é a
pergunta que deve ser feita por cada um de nós diariamente. Cada dia Deus
sempre tem algum apelo ou algum recado para cada um de nós. Por isso, deve
haver, durante o dia, um momento para cada um de nós se retirar. A vida, que se
apresenta com todos os seus enigmas cobra de cada um de nós uma postura interior
de busca e de abertura espiritual, que se for conforme com a verdade, se torna
motivo de alegria e de realização. O discernimento pede capacidade de silêncio.
O silêncio possibilita a presença da Eternidade; possibilita a presença do Céu.
Jesus quer nos dizer: “Olhai e sabereis; silencie e escute para perceber uma
presença”.
Permaneçamos vigilantes! Em poucos
dias começaremos o tempo do Advento na preparação da festa da primeira vinda do
Senhor na história (cf. Jo 1,14). Mas estejamos atentos para a vinda do Senhor
em cada momento de nossa vida ou de nossa história. Depois da primeira vinda do
Senhor na carne, cada momento de nossa vida se transformou em “Kairós”, um
tempo de graça e de encontro com o Deus que nos salva: “... ficai sabendo
que o Reino de Deus está perto”. Não nos esqueçamos da Palavra do
Senhor que nos diz hoje: “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras
não hão de passar”. Esta frase é a razão de nossa fé esperança e de nossa luta
de cada dia. A Palavra de Deus não conhece a caducidade.
P. Vitus Gustama,svd
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