VIGIAR PARA DECIFRAR O
SENTIDO DOS ACONTECIMENTOS
Quinta-Feira da XXXIV Semana Comum
27 de Novembro de 2014
Evangelho: Lc 21,20-28
20“Quando virdes Jerusalém
cercada de exércitos, ficai sabendo que a sua destruição está próxima. 21Então, os que estiverem na Judeia,
devem fugir para as montanhas; os que estiverem no meio da cidade, devem
afastar-se; os que estiverem no campo, não entrem na cidade. 22Pois esses dias são de
vingança, para que se cumpra tudo o que dizem as Escrituras. 23Infelizes das mulheres
grávidas e daquelas que estiverem amamentando naqueles dias, pois haverá uma
grande calamidade na terra e ira contra este povo. 24Serão mortos pela espada
e levados presos para todas as nações, e Jerusalém será pisada pelos infiéis,
até que o tempo dos pagãos se complete. 25Haverá sinais no sol, na
lua e nas estrelas. Na terra, as nações ficarão angustiadas, com pavor do
barulho do mar e das ondas. 26Os homens vão desmaiar de
medo, só em pensar no que vai acontecer ao mundo, porque as forças do céu serão
abaladas. 27Então eles verão o Filho do Homem,
vindo numa nuvem com grande poder e glória. 28Quando estas coisas
começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa
libertação está próxima”.
__________
Ser Fiel Na Vivência Dos
Ensinamentos De Jesus
Estamos ainda no discurso
escatológico (sobre o fim) ou apocalíptico (porque quer revelar algo além do
acontecimento) na versão de Lucas. Desta vez o evangelista Lucas nos descreve a
destruição da cidade de Jerusalém e o Templo e suas tremendas conseqüências. A
destruição de Jerusalém (e o Templo de Jerusalém) aconteceu em 70 d.C.
“Quando virdes Jerusalém cercada de exércitos...”. A palavra “cercada” aqui
literalmente significa “acampamentos”. Os acampamentos que cercam Jerusalém são
os de Tito, comandante das legiões romanas, enviadas para sufocar e acabar com
a rebelião judaica. O perigo é muito grande porque se trata de um período designado
como “dias de vingança” (Lc 21,22. Alude ao Os 9,7). Essa guerra catastrófica
termina com a destruição da cidade e do Templo de Jerusalém em agosto de 70
d.C. sob as legiões romanas do imperador Tito (79 d.C.- 81 d.C.). E a segunda
no ano 135 d.C. nos tempos do imperador Adriano (117 d.C. -138 d.C.). Segundo
alguns especialistas, muitos cristãos realmente conseguiram fugir da cidade
quando as tropas romanas se aproximaram de Jerusalém.
Segundo os exegetas o evangelho de
Lucas foi escrito depois dos anos 70 (em torno do ano 85 depois de Cristo).
Isto significa que a destruição de Jerusalém já tinha acontecido. Lucas
considera a destruição de Jerusalém como o fim de uma etapa da historia da
salvação e por isso, não é o sinal da chegada do momento final (escatologia).
Lucas aproveita o acontecimento da
destruição de Jerusalém para falar da vinda do Filho do Homem no fim dos tempos
(parusia) a fim de que todos vivam vigilantes e preparados, pois a segunda
vinda do Senhor (parusia) é certa, mas o momento é incerto, pois essa vinda vem
como ladrão sem avisar (cf. Mt 24,43; Lc 12,39; 1Ts 5,2; 2Pd 3,10; Ap 3,3). É preciso viver o
momento presente com uma visão do futuro. O próprio futuro está no presente.
Nossa vida se move no presente entre uma história (passado) e um projeto
(futuro). Aprendemos das lições do passado com otimismo e desejo de superação. Como
escreveu o filósofo Sören Kiekergaard: “A vida só pode ser compreendida
olhando-se para trás. Mas só pode ser vivida olhando-se para frente”.
Sobretudo, aprendemos a viver intensamente o presente, o único instante que
temos em nossas mãos para construir. Não podemos perder o presente
lamentando-nos pelos erros do passado e muito menos ainda, temendo o que pode
chegar a ser no futuro. O melhor caminho para afrontar o futuro é aproveitar o
momento presente: “No mundo tereis tribulações, mas tende coragem: Eu
venci o mundo!”, diz-nos Jesus (Jo 16,33b).
Por isso, a finalidade desse
discurso não é para descrever os acontecimentos que precederão o fim e sim para
encorajar os cristãos a viverem de acordo com os ensinamentos de Cristo apesar
das dificuldades, provações e perseguições. “É
pela perseverança que mantereis vossas vidas”, lembra-nos o Senhor (Lc 21,29b). A Palavra de Deus vai ser a ultima
palavra para a humanidade e não a palavra do homem.
Um Alerta para Estar
Despojado
“Ai daquelas mulheres que estiverem
grávidas e que estiverem amamentando naqueles dias” (Lc 21,23), clama o
Senhor ao contemplar o fim do mundo.
Esta exclamação significa muito
mais do que uma simples compaixão humana por aquelas mulheres desamparadas.
Para o Senhor que contempla e adverte, elas se tornam imagem e tipo daqueles
que para os quais o fim do mundo ou o fim de uma história vai surpreender no
preciso instante em que não se sentirão livres para poder seguir a voz do
Senhor e sair ao encontro da eternidade feliz. Seus pés não são fortalecidos para
seguir o caminho da cruz que termina na ressurreição. Pesa sobre seus ombros a
carga do falso reino deste mundo. Seus braços abraçam as alegrias caducas de um
mundo condenado a perecer. Não conhecem a linguagem dos sinais celestes. São
escravos das próprias paixões que os fazem amarrados e cegos diante da
eternidade.
Vale a pena cada um se perguntar:
“O que é que me pesa no encontro derradeiro com o Senhor no fim da minha
história? E o que é que me amarra que dificulta minha caminhada ao encontro do
Senhor no fim da minha vida?”. Quem carrega coisas caducas acaba dificultando o
próprio vôo até Deus. É preciso ter as “asas” livres do Senhor para voar com
liberdade.
Uma Mensagem de Consolo
e de Esperança
“Quando essas coisas
começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa
libertação está próxima” (Lc 21,28).
O anúncio de Jesus sobre o fim do
mundo ou sobre o fim da história de cada um de nós não é um anúncio que quer
entristecer e sim animar: “… levantai-vos e erguei a cabeça, porque a
vossa libertação está próxima”. Todos nós somos convidados a ter
confiança na vitória de Cristo Jesus: “O Filho do Homem vem numa nuvem com
poder e glória” (Lc 21,27). Seja no momento de nossa morte, que não é final
e sim início de uma nova maneira de existir, muito mais plena. Seja no momento
do final da história, basta estar com Cristo e permanecer nele, ele virá não na
humildade e pobreza de Belém e sim na glória e majestade, sinal de sua vitória
sobre a morte. Ele já atravessou na sua Páscoa a fronteira da morte e inaugurou
para si e para nós a nova existência, os novos céus e a nova terra.
A glória de Jesus se irradia
através de todos os portadores da paz e da bondade, através de todos os homens
e mulheres que trabalham para construir uma sociedade mais justa e honesta, que
põem seus talentos e potencialidades a serviço dos marginalizados e
desamparados. É a outra História que se escreve dia após dia, não com letras de
molde nem com slogans televisivas, mas com atos de serviço. É a história de
salvação. É a história com Deus. É a historia que humaniza. E por isso, é a
história que diviniza o humano.
Precisamos fazer este tipo de
história para que o Senhor possa vir na sua glória ao nosso encontro. Neste dia
ouviremos o Senhor nos dizer: “… levantai-vos e erguei a cabeça, porque a
vossa libertação está próxima!” (Lc 21,28). Que Deus nos conceda a
graça de passar nossa vida fazendo sempre o bem para todos, e que isso façamos
não por simples filantropia e sim porque amamos nosso próximo, nosso semelhante
e imagem viva de Deus como o Senhor nos amou. “No entardecer de nossa
vida seremos julgados sobre o amor” (São João da Cruz).
Nossa vida se move no presente
entre uma história (passado) e um projeto (futuro). Aprendemos das lições do
passado como otimismo e desejo de superação. Mas, sobretudo, aprendemos a viver
intensamente o presente, o único instante que temos em nossas mãos para
construir. Não podemos perder o presente lamentando-nos pelos erros do passado
e muito menos ainda, temendo o que pode chegar a ser no futuro. O melhor
caminho para afrontar o futuro é aproveitar o momento presente: “No mundo
tereis tribulações, mas tende coragem: Eu venci o mundo!”, diz-nos Jesus (Jo
16,33b).
Durante esta semana a liturgia,
preparando-nos para o Advento, vai-nos colocando numa espera atenta da vinda do
Salvador. Esperamos, de alguma maneira, o que já possuímos. E esta esperança é
tão certa como as mesmas intervenções de Deus na história do Seu povo.
P. Vitus Gustama,svd
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