APRESENTAÇÃO DE NOSSA SENHORA
SER MEMBRO DA FAMÍLIA DE JESUS CRISTO
Sexta-feira, 21 de Novembro de 2014
Evangelho: Mt 12, 46-50
Naquele tempo, 46 enquanto Jesus estava falando às
multidões, sua mãe e seus irmãos ficaram do lado de fora, procurando falar com
ele. 47 Alguém disse a Jesus:
“Olha! Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar contigo”. 48 Jesus perguntou àquele que tinha
falado: “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?” 49 E, estendendo a mão para os
discípulos, Jesus disse: “Eis minha mãe e meus irmãos. 50 Pois todo aquele que faz a vontade
de meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.
__________
A apresentação de Nossa Senhora não
é narrada nos evangelhos. Ela é uma tradição muito antiga (Evangelho Apócrifo
do século II: Evangelho apócrifo de São Tiago). Segundo esta tradição
(Apócrifo), os pais de Maria, Joaquim e Ana, piedosos israelitas, não
conseguiram ter filhos até sua idade avançada por causa da esterilidade. Não
ter filhos significava, na época, o castigo de Deus pelos pecados cometidos.
Mas os dois eram justos. Em sua angústia Ana fez uma oração fervorosa,
prometendo ao Senhor oferecer-lhe o fruto de suas entranhas se lhe concedesse
descendência. O nascimento de Nossa Senhora foi o resultado dessa oração e
dessa promessa: “Ó Deus
de nossos pais, abençoa-me e ouve minha oração como abençoaste o ventre de
Sara, dando-lhe um filho, Isaac”, assim Ana, mãe de Maria rezava (Apócrifo de Tiago, 2,1).
Quando se retirou para o deserto durante quarenta dias e quarenta noites dizia
para si mesmo: “Não descerei
nem para comida, nem para bebida, enquanto o Senhor não me visitar; a minha oração
será para mim comida e bebida” (cf. Apócrifo de Tiago 1,4). Joaquim
e Ana, fiéis ao seu voto, apresentaram a menina quando tinha três anos no
templo e permanecia, no templo, dedicada à oração até seu casamento com José
(cf. Evangelho apócrifo de São Tiago 7,1-8,1)
A apresentação de Nossa Senhora é a
festa de entrega voluntária a Deus; é a festa que nos ensina a renunciar a
nossa própria vontade a fim de fazer somente a vontade de Deus para formar uma
família com Deus e ser instrumento divino para levar os outros para Deus: “Pois todo aquele que faz a vontade do meu
Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”, diz
Jesus (Mt 12,50).
**************
O texto do evangelho de hoje é
escolhido em função da festa da Apresentação de Nossa Senhora ao Senhor.
No texto do evangelho deste dia,
onde os familiares de Jesus não são mencionados por seus nomes, “a mãe”, aqui,
representa Israel enquanto origem de Jesus e “os irmãos” representam também
Israel enquanto membros do mesmo povo. Israel fica “fora” em vez de se
aproximar de Jesus. Jesus rompe sua vinculação de seu povo de origem para
formar uma nova família com os que se associam com o compromisso de formar uma
comunidade de irmãos vivendo o amor fraterno (ágape) como maior mandamento (cf.
Jo 13,34-35; 15,12).
A maior parte das religiões do mundo
se apóia na família, comunidade natural. Jesus edifica sua religião ou sua
comunidade não sobre as relações familiares e sim sobre uma comunidade de tipo
seletivo em virtude da fé para elevar a família humana em família de Deus. Para
divinizar a família humana é preciso que Deus seja de todos e centro da vida e
de qualquer convivência (família, comunidade, grupos etc.).
A evolução do mundo técnico tende a
tirar o homem de suas comunidades naturais para submergi-lo em comunidades mais
“artificiais” ou “mais seletivas”. Por isso, a família vive, muitas vezes, de
maneira dramática o conflito das gerações que caracteriza a nossa época. Os
pais rezam melhor em companhia de seus amigos do que em família, com seus filhos
e familiares. Mas se todos se preocuparem com a vontade de Deus ao praticar o
bem, ao viver o amor fraterno, o único que nos edifica, humaniza e diviniza,
acabarão salvar a comunidade natural que é a família humana. Por isso, Jesus
afirma hoje: “Todo
aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha
irmã e minha mãe” (Mt 12,50). Trata-se de uma família ou uma comunidade de Deus, e por
isso, de uma comunidade de salvação.
Jesus, por sua encarnação, entrou no
mundo e formou parte de nossa humanidade, de uma verdadeira humanidade, com os
laços de sangue e de cultura e cresceu em uma família. Ele se tornou humano
para nos divinizar. Ele nasceu numa família para santificar a família. Ele
viveu em um país determinado, Palestina; tinha uma mãe, Maria. Essas realidades
humanas têm grande importância, constituem realmente o lugar de nossa vida.
“Quem é minha mãe? Quem são meus
irmãos?”, pergunta Jesus. A pergunta não significa um desprezo de Jesus aos
seus parentes ou familiares. Ninguém amou Sua mãe melhor que Ele. E nenhuma mãe
amou melhor seu Filho, Jesus Cristo, Deus-Conosco do que a própria Maria, a mãe
de Jesus.
Com esta pergunta Jesus quer nos
revelar algo muito importante: o discípulo, cada cristão, cada cristã que vive
os ensinamentos de Jesus é um parente de Jesus. Jesus oferece aos homens a
qualitativa intimidade de sua família. A família humana de Jesus viveu conforme
a vontade de Deus: José que criou Jesus era chamado de “o justo”, aquele que
vive segundo os mandamentos de Deus (cf. Mt 1,19). Maria, a Mãe de Jesus foi
chamada pelo anjo de “cheia de graça” (cf. Lc 1,28) e ela viveu a vida conforme
a vontade de Deus: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a Tua
palavra” (Lc 1,38). Por isso, a família
humana de Jesus serve de exemplo para todas as famílias humanas. Que é possível
formar uma família de Deus nesta terra quando Jesus se torna centro de todos e
quando todos vivem de acordo com a Palavra de Deus. A única maneira de salvar a
família humana é transformá-la em família de Deus, família que vive de acordo
com os mandamentos de Deus.
Entre Deus e os homens já não há
somente relações frias de obediência e de submissão como entre o patrão e o
empregado. Com Jesus entramos na família divina, como seus irmãos e irmãs, como
sua mãe. Se em todos os meus atos e atitudes de cada dia, se em todos os
minutos de minha vida procurar me manter unido a Deus na vivência do amor
fraterno, serei irmão de Jesus, farei parte da família de Deus desde aqui na
terra junto aos outros irmãos e irmãs no mundo inteiro que fazem a mesma coisa.
“Todo aquele que faz a vontade do
meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. Esta
frase deve servir de orientação para nossa vida diária. É lindo e desejável ter
um lar, um aconchego. É o sonho de todos. É o desejo de qualquer coração. Ter
um lar é um sonho vivo de qualquer ser humano. No lar podemos descansar,
conviver amorosamente e estar juntos como pessoas amadas. Mas é preciso incluir
Jesus como membro de nosso lar e nós como membros do lar do Senhor. Somente
assim nosso lar na terra se transformará em céu antecipado onde há paz e amor,
segurança e alegria, festa e descanso. Nosso ler definitivo no céu deve começar
desde já aqui na terra tendo Jesus como membro de nossa família e nós, da
família de Jesus. A disponibilidade de Maria diante da Palavra e do desígnio
divino nos indicam o grado máximo que devemos aspirar no serviço da Palavra
divina: “Faça-se em mim segundo a sua Palavra” (Lc 1,38).
Reflita:
“Por
acaso não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que estão clamando por Ele dia
e noite? ... Digo-vos que em breve Deus lhes fará justiça” (Lc 18,7-8).
P. Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário