SER GENEROSO PROLONGA O
AMOR GENEROSO DE DEUS
Segunda-Feira da XXXI
Semana Comum
03 de Novembro de 2014
Evangelho: Lc 14,12-14
Naquele tempo, 12 dizia Jesus ao chefe dos fariseus
que o tinha convidado: “Quando deres um almoço ou um jantar, não convides teus
amigos nem teus irmãos nem teus parentes nem teus vizinhos ricos. Pois estes
poderiam também convidar-te e isto já seria a tua recompensa. 13 Pelo contrário, quando deres uma
festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. 14 Então
serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na
ressurreição dos justos”.
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Continuamos a escutar atentamente as
ultimas e mais importantes ensinamentos de Jesus na sua ultima viagem para
Jerusalém (Lc 9,51-19,28). Trata-se das lições do caminho. Caminhando, aprendendo
com o Senhor.
Na passagem do evangelho deste dia
Jesus nos convida a sermos generosos e a não pensarmos nas vantagens daquilo
que fazemos ou fizermos para os outros, especialmente para os necessitados. Ajudar
os necessitados que não tem como retribuir é um serviço prestado a Deus. “A caridade cristã é tridimensional. Pratica-se
na terra pelas boas obras e busca ajudar a quem necessita: eis sua
profundidade. Sofre as adversidades pacientemente e persevera na verdade: eis
sua extensão. Tudo faz com vistas a obter a vida eterna: esta é sua magnitude”
(Santo Agostinho: Epist. 140,25).
O texto do evangelho de hoje é a
continuação da passagem anterior que fala do convite dirigido a Jesus por um
fariseu para uma refeição (cf. Lc 14,1-11). Os fariseus, como as pessoas em
qualquer época e cultura, escolhiam cuidadosamente os seus convidados para a
mesa (almoço ou jantar). Eles não convidavam pessoas de nível menos elevado. Os
fariseus também convidavam aqueles que podiam retribuir da mesma forma. Com
isso, tudo se tornava um intercâmbio de interesse e um jogo de favores. Dou
para que tu me dês (Do ut des).
Ao saber desse jogo de interesse
Jesus dá uma lição sobre a gratuidade e o amor desinteressado: “Quando deres
uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então tu serás
feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na
ressurreição dos justos” (Lc 14,13-14). A festa de que Jesus fala é a
partilha do que há de bom na vida, pois a partilha é a alma do projeto de Jesus
Cristo. Jesus nos convida a uma atitude de gratuidade ou generosidade, uma
atitude que é o exato contrário do cálculo interesseiro de quem vive se
perguntando: “Quanto é que eu levo nisso? Que vantagem isso me dá? Será que tem
retorno em fazer isso?”.
Ao falar da festa Jesus está
apontando para além da festa humana. Ele aponta para o Reino como um banquete
eterno onde os convidados estão unidos pelos laços de familiaridade, de
fraternidade e de comunhão diante do Pai comum que é Deus. As relações entre os
que querem participar da alegria eterna por tratar-se de um banquete não serão
marcadas pelos jogos de interesse e de intercâmbio de favores, mas pela
gratuidade e pelo amor desinteressado. Por viverem orientados pela gratuidade e
pelo amor desinteressado, os participantes do Reino estão bem distantes de
qualquer atitude de superioridade, de arrogância, de ambição para estarem numa
atitude de humildade, de simplicidade, de serviço por amor desinteressado.
A generosidade é um sinal de
gratidão pelos benefícios recebidos de Deus e, ao mesmo tempo, manifesta a
liberdade interior. O generoso não só dá as coisas para os necessitados, mas dá-se
a si próprio por amor de Deus e do próximo, graças à sua liberdade interior. Por
isso, a generosidade que se concretiza na partilha e na solidariedade não
empobrece, mas é geradora de vida e de vida em abundância.
Geralmente uma pessoa humilde é
generosa, repartindo o que tem para os que nada têm, pois ela é capaz de
receber, não só de Deus, mas também dos outros.
Porém, repartirá não para chamar a atenção para si, e sim, porque
agradecida, gosta de tornar seus irmãos partícipes dos dons que recebeu. A
pessoa humilde é que estabelece relações que trazem a felicidade, que acabam
com o egoísmo, com a competição, com a ostentação, e fazem reinar no mundo as
atitudes de intercâmbio generoso dos dons de Deus. O generoso é livre na medida
em que não procura o seu próprio proveito, mas o daqueles a quem favorece. E a
alegria que brota da generosidade de um doador nobre é um dos mais preciosos e
permanentes dons.
A generosidade é um sinal de
gratidão e de liberdade interior. Tudo o que somos, tudo o que podemos e temos
é precioso e libertador, se o reconhecermos e apreciarmos como um dom do amor
de Deus. Se percebermos e apreciarmos realmente que o esplendor daquilo que
temos e daquilo que possuímos vem de Deus, o Doador de todos os bens, então não
nos agarraremos às nossas riquezas e capacidades, nem as utilizaremos para nos
exibirmos, mas procuraremos ser cada vez mais generosos e livres, quer dando,
quer recebendo. Jamais podemos ajudar um necessitado para nos sentir bons e
íntegros, porque ofenderemos e humilharemos nosso irmão necessitado. A ajuda
vale não pelo valor daquilo que é dado e sim pelo amor com que o damos.
Para o generoso, todos os seus bens,
todas as suas capacidades e dons se transformam num tesouro que se acumula no
céu e que, entretanto, vai aliviando e tornando felizes os outros. E o próprio
Jesus anuncia que tudo que aqui gratuitamente fazemos, nos será recompensado na
vida eterna: “Tu serás recompensado na ressurreição dos justos” (Lc 14,14).
Para ser feliz aqui nesta terra e na vida eterna é necessário que cada um de
nós faça algo de bom pelos outros, gratuitamente, sem esperar uma troca. E para
ser infeliz, basta ser egoísta ou ser avaro. O avaro é o protótipo dos
sem-coração. O avaro é a pessoa mais pobre que existe.
Ser generoso significa dar-se a si
próprio por amor de Deus e do próximo, graças à intima liberdade que possuímos.
É ser prolongamento do amor generoso de Deus por nós todos. Esta virtude é
libertadora para ambas as partes: para o generoso e para quem é favorecido. O
generoso é livre na medida em que não procura o seu próprio proveito, mas o
daquele a quem favorece. Acreditamos que todos nós já fizemos alguma coisa por
alguém por pura generosidade e sabemos a alegria que isso traz ao nosso
coração. Quem de nós, ao prestar gratuitamente um favor ou uma ajuda, já não
ouviu a frase: “Deus lhe pague; Deus lhe abençoe?”. A alegria que brota da
generosidade de um doador nobre é um dos mais preciosos e permanentes dons.
Qualquer cristão não deve se deixar
mover pelo egoísmo, mas pelo amor fraterno. Somente assim se assegurará a única
recompensa do Pai que tem valor definitivo. Com essa conduta o cristão se faz
no mundo, para os homens, sinal do amor do Bom Deus, que beneficia aos justos e
ímpios (cf. Lc 6,36). Somente o Pai do céu é recompensa cabal para o serviço
desinteressado do cristão.
P. Vitus Gustama,svd
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