domingo, 30 de novembro de 2014

 
A SIMPLICIDADE É O ESPAÇO ONDE DEUS SE REVELA  

Terça-Feira da I Semana do Advento
02 de Dezembro de 2014
 

Evangelho: Lc 10,21-24 (I Leitura: Is 11, 1-10)

21 Naquele momento Jesus exultou no Espírito Santo e disse: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. 22 Tudo me foi entregue pelo meu Pai. Ninguém conhece quem é o Filho, a não ser o Pai; e ninguém conhece quem é o Pai, a não ser o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”. 23 Jesus voltou-se para os discípulos e disse-lhes em particular: “Felizes os olhos que vêem o que vós vedes! 24 Pois eu vos digo que muitos profetas e reis quiseram ver o que estais vendo, e não puderam ver; quiseram ouvir o que estais ouvindo, e não puderam ouvir”.

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O texto do evangelho lido neste dia se encontra no contexto do envio dos setenta (e dois) discípulos para a missão e sua volta da mesma (Lc 10,1-24). Eles voltaram da missão, conscientes de terem libertado os homens do mal, moral e físico (Lc 10,17) pelo uso do nome de Jesus (poder messiânico). A chegada de Jesus abole o estado de escravidão e permite ao homem ter acesso para a verdadeira liberdade. Jesus louva a Deus por todo este êxito.


O texto começa com a oração de louvor e de ação de graças de Jesus: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra...”. Jesus experimentou um gozo exultante, provindo do fundo de seu coração e que se transborda nas suas palavras ou na oração de ação de graças. A ação de graças, a oração de Jesus surge da contemplação do trabalho que o Pai está fazendo no coração dos homens através de seus apóstolos. Deus trabalha no coração de cada homem, inclusive no coração dos que se dizem ateus. Toda vez que uma pessoa se supera e faz o bem, nós devemos reconhecer que Deus está nessa pessoa. E ajudar essa pessoa a dar um passo adiante significa trabalhar com Deus e acompanhá-Lo.


Mas quais são os homens em cujos corações Deus está fazendo sua obra de salvação? A quem Deus revela seus segredos? Quem é capaz de conhecer e reconhecer os mistérios de Deus neste mundo? Estas são as perguntas lançadas implicitamente no texto do evangelho de hoje. A resposta é esta: Deus se revela aos simples, aos pequeninos, aos que não têm nenhuma pretensão, aos que se entregam totalmente à ação de Deus na sua vida: Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos”. Nestas pessoas a graça se frutifica em boas obras para o bem de todos. Essas pessoas produzem algo de bom para a humanidade, pois a graça de Deus flui nelas como a seiva flui do tronco aos ramos a fim de produzirem mais frutos (cf. Jo 15,1-5).


Por que Deus se revela aos simples/pequeninos, e por que os simples/pequeninos têm facilidade de captar as coisas de Deus?


Porque o simples não se louva nem se despreza. Ele é o que é, simplesmente, sem desvios, sem afetação. É a vida sem exageros. O simples não simula nada, pois simular a humildade e a simplicidade significa uma grande arrogância de quem puxa tudo para seu lado para ser centro de atenção. “É mais fácil simular virtudes que possuí-las. Por isso, o mundo está cheio de farsantes” (Santo Agostinho: De mor. Eccl. cath. 1,12). O simples é capaz de reduzir o mais complexo ao mais simples. O presente é sua eternidade, e o satisfaz. “A simplicidade é o ultimo degrau da sabedoria (Kahlil Gibran).


A simplicidade aprende a se desprender, acolher o que vem sem nada guardar como coisa sua, pois para ele tudo é dom e vive no mundo de gratuidade. Simplicidade é nudez, despojamento, pobreza. Simplicidade é liberdade, leveza, transparência. A simplicidade é a transparência do olhar, pureza do coração, sinceridade do discurso, retidão da alma e do comportamento. A simplicidade é a espontaneidade, a improvisação alegre, desprendimento, desprezo do prevalecer. A simplicidade é o esquecimento de si, é nisso que ele é uma virtude. É por isso que a simplicidade é a virtude dos sábios e a sabedoria dos santos.


De fato, conhecer Deus não é primordialmente uma operação intelectual, reservada a uma elite. Os pequenos, os simples podem descobrir coisas sobre Deus que os entendidos não conseguem compreender.


Aqueles que aceitarem Jesus Cristo e sua mensagem serão capazes de ver as coisas de outro modo e poderão construir uma convivência humana baseada na equidade, pois eles se deixam invadir pela ação do Espírito como Jesus se deixava conduzir totalmente pelo Espírito. No texto de hoje o Espírito invade Jesus com sua alegria. A ação do Espírito ocupa, certamente, o centro da liturgia de hoje.


Celebrar o Advento não é outra coisa que deixar-nos modelar interiormente pela presença do Espírito, criar espaço em nossa vida para que possamos receber seus dons de sabedoria, de discernimento e assim por diante, necessários para descobrir o caminho por onde Ele quer que caminhemos neste mundo. A celebração da liturgia do Advento também nos convida à alegria e à esperança. Não podemos cair no desânimo ou na frustração que não são dons do Espírito.


 “Naquele momento Jesus exultou no Espírito Santo e disse: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos”.


Ao colocar estas frases no seu evangelho o evangelista Lucas quer colocar o máximo possível em destaque os fatos que aconteceram pela primeira vez. Finalmente, há um grupo de discípulos que foi capaz de expulsar as falsas ideologias que tornavam as pessoas escravas das mesmas. Através da missão bem feita levada ao término por estes personagens desconhecidos até então na sociedade e da reação exultante de Jesus, o evangelista Lucas antecipa sobre como deverá ser a missão ideal: aberta, universal e libertadora.


É preciso que sejamos personagens conhecidos por Deus embora não sejamos reconhecidos pela sociedade que adora ao poder e ao exibicionismo. Sejamos sábios e inteligentes de Deus! O homem que é firme, paciente, simples, natural e tranquilo está perto da virtude”, dizia o sábio chinês, Confúcio.

P. Vitus Gustama,svd

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