UMA VIÚVA TOTALMENTE
DESPOJADA
APRENDER A SE DOAR
Segunda-Feira da XXXIV
Semana Comum
24 de Novembro de 2014
Evangelho: Lc 21,1-4
Naquele tempo, 1 Jesus ergueu os olhos e viu pessoas
ricas depositando ofertas no tesouro do Templo. 2 Viu também uma pobre viúva
que depositou duas pequenas moedas. 3 Diante disso, ele disse: “Em verdade vos
digo que essa pobre viúva ofertou mais do que todos. 4 Pois todos eles
depositaram, como oferta feita a Deus, aquilo que lhes sobrava. Mas a viúva, na
sua pobreza, ofertou tudo quanto tinha para viver”.
______________
No AT as viúvas fazem parte da
classe dos pobres, mas são especialmente queridas aos olhos de Deus e que as
protege com Sua lei (Is 10,2; Dt 26, 12-12; Eclo 35,17-19; Sl 94,6-10). No NT,
especialmente nos escritos de Lucas (Evangelho de Lucas e Atos dos Apóstolos)
aparecem também as viúvas como objeto de especial afeto por parte de Jesus (Lc
7,11-15; 18,3-5; 20,47; 21,2-4).
O evangelho fala da oferta dos
ricos, mas o foco é a oferta de uma viúva pobre. A antítese ricos-pobres
aparece freqüentemente no evangelho de Lucas e nos discursos escatológicos de
Jesus. E segue o mesmo procedimento das bem-aventuranças onde a oposição entre
ricos e pobres (Lc 6,20-24) serve para anunciar a iminência do Reino e a
mudança das situações abusivas. Não se trata de fazer a apologia ou a crítica
de uma situação social existente e sim para sublinhar a transformação que a
chegada do Reino de Deus causa nas estruturas humanas. Uma pessoa do Reino não deixa
ninguém na penúria ou na miséria. Uma pessoa do Reino acredita totalmente na
providência divina e por isso, ela não tem medo de se doar. Uma pessoa do Reino
sente o carinho paterno-materno de Deus. Uma pessoa do Reino sabe que Deus a
ama e acredita no amor do Pai do céu.
Um Deus Que Nos Olha No
Nosso Interior
A mulher neste evangelho, por ser
pobre e viúva, fica escondida aos olhos das pessoas. Mas o olhar de Deus em
Jesus Cristo é penetrante. Percebe até aquilo que se escapa do olhar humano. “Os
olhos do Senhor estão em todo o lugar,
observando os maus e os bons”, disse o Livro de Provérbio (Pr 15,3). Jesus
olha para a pureza do interior da viúva. E da sua boca sai este grande elogio:
“Em verdade vos digo que essa pobre viúva
ofertou mais do que todos. Pois eles depositaram aquilo que lhes sobrava. Mas a
viúva, na sua pobreza, ofertou tudo quanto tinha para viver” (Lc 21,4).
O olhar é um dom precioso e
fascinante legado pelo Criador. É uma das áreas humanas que mais chama a
atenção das pessoas. O olhar é como uma bússola a guiar nossos passos, nossos
gestos, nossas atitudes. O olhar sempre está aí atento a um ou outro detalhe.
Os olhos determinam um pouco ou muito do que somos. E o olhar é sempre anterior
às nossas palavras.
É tão natural olhar, que nem nos
damos conta desse misterioso gesto. Muitas vezes olhamos; poucas vezes, porém,
nos encontramos. Alguns se limitam a olhar os outros para anotar seus possíveis
defeitos. Não deixa de ser a mais trágica expressão de nossa crueldade.
O olhar superficial jamais enxerga
alguém; os outros são objetos de curiosidade, de conversa. Muitos olham os
outros para passar tempo; simples adorno sem sentido. Esses olhares refletem
nossa pobreza espiritual.
Quantos julgamentos poderiam ser
evitados, se não julgássemos os outros a partir de nossa visão. Esses olhares
podem jogar no nosso rosto aquilo que não somos. A maioria dos julgamentos que
fazemos é por ouvir dizer ou através de certas observações nem sempre
condizentes com a verdade. Existem certas pessoas que têm o hábito de observar
os outros para ter motivos de falar mal deles; há outros que, sem ter o que
fazer na vida, ficam mexericando e intrometendo-se na vida alheia. Nada mais
feio e abominável para um cristão!
Há aqueles olhares que reduzem os
outros a meros objetos: o olhar de desejo, o olhar de ciúme, o de vingança, o
de rancor etc.
Como cristãos, somos convidados a
vestir a sublimidade do olhar de Jesus. Sublime é aquilo que é perfeito,
altivo, pomposo, nobre, muito bonito, elevado, encantador, maravilhoso, divino,
esplêndido.
Neste momento também Deus olha para
você com um olhar penetrante. Ele olha para aquilo que você está pensando e
imaginando: suas preocupações, suas alegrias, suas dores, suas murmurações,
suas decepções, suas críticas e assim por diante. Mas será que esse mesmo Deus,
no seu silêncio, faz um elogio também para você, como ele elogiou a viúva
despojada? Ou como é que Deus olha para você neste momento e em todos os
momentos de sua vida? Você está consciente de que Deus está sempre de olho em
você? De que maneira também você olha para os outros? O que você olha mais nos
outros?
Para termos os olhares de Jesus,
temos que limpar o nosso coração, porque os olhos são as janelas de nossa alma,
de nosso coração.
Uma Viúva Que Nos Ensina
A Vivermos No Despojamento Total Por Causa Da Fé Em Deus
A viúva em sua condição de mulher,
pobre e marginalizada fez um enorme esforço ao depositar a oferenda para Deus.
Dava tudo o que era necessário para sua vida. Trata-se de uma decisão do próprio
coração sem nenhuma influência de outras pessoas. Como se ela quisesse dizer
para si própria: “Tudo é de Deus até o pouco que tenho. Ele é o Pai, Criador do
céu e da terra. Ele sabe o que fazer com minha vida daqui em diante”. Consequentemente,
ela entregava totalmente sua vida ao serviço de Deus com amor e humildade. Trata-se
de uma mulher de grande fé e por isso, de uma mulher de grande despojamento. É uma
mulher de grande espírito. Aquele que está aberto ao Espírito de Deus, deixa-se
inundar permanentemente pela graça e pelo amor de Deus. a abertura de espírito à
graça de Deus torna uma pessoa cheia de fé na providência divina.
Jesus aproveita a situação da viúva
para instruir seus discípulos e discípulas acerca do valor das oferendas. Para
Deus não se oferece o que nos sobra, aquilo que podemos prescindir. A
verdadeira oferenda para Deus acontece quando damos o que somos e temos. Para
Deus precisamos entregar, antes de tudo, nossa vida. Nós damos nossa vida
generosamente porque sabemos que Deus fará com ela o melhor para nós mesmos,
para nossa comunidade e para a humanidade em geral. A vida pertence a Deus e
por isso, Ele sabe o que fazer com nossa vida. Basta crer n’Ele.
Não importa a quantidade daquilo que
damos para Deus e para o próximo e sim o amor com que damos. Não importa se
dermos muito ou pouco, mas que coloquemos o amor naquilo que damos. Não importa
se fizermos muito ou pouco para os outros, para a Igreja, para a comunidade,
mas que coloquemos o amor naquilo que fazemos. O amor transforma tudo em obra
prima, pois nada é pequeno quando o amor é grande. Deus não valoriza a
quantidade, mas o amor com que fazemos as coisas.
Ao entregar tudo para Deus o que
tinha, a viúva nos ensina a não ficarmos apegados às coisas. Porque, neste
mundo, durante nossa passagem, não temos poder para possuir. Temos apenas o
direito de usar as coisas criadas por Deus. Quando terminarmos nossa vida nesta
terra nada nós levaremos. Tudo que é deste mundo vai ficar aqui neste mundo.
Quem tem o apego às coisas perde a
liberdade, pois as coisas começam a mandar nele. Podemos possuir as coisas
terrenas, mas não podemos ser possuídos por elas para não perdermos nossa
liberdade de filhos e filhas de Deus. Desapego é o caminho de libertação.
Ser de Deus e acreditar em Deus é
servir e dar, não aquilo que sobra e sim a si mesmo. Nisto daremos de coração e
Deus vê nosso coração: ”Em verdade vos digo, esta pobre viúva deu mais do
que todos os outros que ofereceram esmolas. Todos deram do que tinham de sobra,
enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver”.
P. Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário