PRANTO DE JESUS SOBRE
NÓS E NOSSA CIDADE
Quinta-Feira
da XXXIII Semana Comum
20 de Novembro de 2014
Evangelho: Lc 19,41-44
Naquele tempo, 41 quando Jesus se aproximou de
Jerusalém e viu a cidade, começou a chorar. E disse: 42 “Se tu também compreendesses hoje o
que te pode trazer a paz! Agora, porém, isso está escondido aos teus olhos! 43 Dias virão em que os inimigos farão
trincheiras contra ti e te cercarão de todos os lados. 44 Eles esmagarão a ti e a teus
filhos. E não deixarão em ti pedra sobre pedra. Porque tu não reconheceste o
tempo em que foste visitada”.
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Acompanhávamos Jesus no seu caminho da
Galiléia para Jerusalém escutando suas ultimas lições para todos nós, Seus
seguidores (Lc 9,51-19,28). Jerusalém é a meta da viagem ou do caminho de Jesus
onde ele vai sofrer, será morto e ressuscitado. De Jerusalém ele vai enviar os
discípulos para o mundo inteiro (cf. At 1,8). Durante essa viagem muitos foram
curados, muitos se converteram e seguiram a Jesus.
Jesus chegou, finalmente, em
Jerusalém depois de uma longa viagem durante a qual instruiu com profundidade
seus discípulos. Por isso, trata-se de uma viagem com uma longa catequese de
Jesus para os discípulos e conseqüentemente trata-se de uma catequese para a
Igreja posterior.
Ao aproximar-se da cidade de Jerusalém
(cidade da paz) e vê-la, Jesus derramou as lágrimas. As lagrimas são um meio
pelo qual podemos expressar perfeitamente nossa tristeza como também nossa
alegria, duas emoções fortes as quais nenhuma língua humana capaz de expressar
com exatidão; somente com lágrimas! As lágrimas de Jesus são lagrimas de um
profeta. E são essas as lágrimas das quais fala o profeta Isaias: “O Senhor
DEUS enxugará as lágrimas de todas as faces e, pela terra inteira, eliminará os
vestígios da desonra do seu povo. Foi o SENHOR quem falou!” (Is 25,8; cf. Ap
21,4). O texto do evangelho lido hoje está em continuidade com Lc 13,34-35. São
dois textos proféticos sobre e contra Jerusalém.
Jesus chora por sua cidade,
Jerusalém, que fica cega diante da graça de Deus e da sua visita. São lágrimas
de compaixão e lágrimas de impotência, mas também de indignação. Jesus fez todo
o possível pela paz da cidade (Lc 13,34-35), no entanto Jerusalém quis ou quer
manter uma vida sem rumo, uma vida sem salvação, uma vida sem fraternidade, uma
vida de destruição: “Ah (Jerusalém)! Se neste dia também tu conhecesses a
mensagem de paz! Agora, porém, isso está escondido a teus olhos. Pois dias
virão sobre ti, e os teus inimigos te
cercarão com trincheiras, te rodearão e te apertarão por todos os lados.
Deitarão por terra a ti e a teus filhos no meio de ti, e não deixarão de ti
pedra sobre pedra, porque não reconheceste o tempo em que foste visitada!” (Lc
19,42-44).
O poder de Deus se fez amor e
debilidade em Jesus. Mas esse poder chocou contra a dureza do coração humano.
Deus prefere chorar de impotência em Jesus a privar o homem de sua liberdade.
Esse pranto, no entanto, é um apelo à conversão. Aceitar Jesus é o caminho para a paz. Mas em
um coração duro jamais pode habitar a paz do Senhor. Somente em Jesus está a
salvação (At 4,12). O céu é uma certeza, enquanto que o inferno é apenas uma
possibilidade para o ser humano.
Hoje em dia podemos nos perguntar se
Jesus não choraria com indignação profética ao ver nossa cidade cheia de violência
e corrupção, cheia de anônimos, cheia de desempregados e drogados, cheia de
moradores de rua que não mais nos incomoda, cheia de mendigos diante dos quais
passamos adiante. Será que Jesus não choraria ao ver nosso mundo atual com
tanta exploração da vida alheia e ao ver nossa Igreja sem coração e sem amor?
Precisamos nos perguntar se Jesus choraria com indignação profética ao ver
nossa incapacidade de perdoar, ao ver nossa insensibilidade humana incapaz de
ajudar o necessitado, ao ver nossa incapacidade de compreender a fraqueza do
outro, ao saber de nosso julgamento sem piedade sobre os outros, ao ver as
famílias que não educam mais seus filhos sobre os valores humanos e eternos, ao
ver muitas pessoas com tanta libertinagem, ao ver tantas pessoas que não querem
mais se comprometer para o bem maior por medo de perder o “sossego”. Precisamos
nos perguntar se Jesus choraria ao saber de nosso desespero por falta de fé
nele, de nossa falta de esperança, de nossa falta de amor e de misericórdia.
Será que Jesus não choraria ao ver nosso modo não-cristão de viver com os
demais? Será que hoje somos capazes de conhecer e de reconhecer o que pode ou
possa nos trazer a paz? Será que conhecemos o tempo da visita da graça de Deus
na nossa vida? Creio que Jesus choraria por tudo isso! Mas o pranto de Jesus é
um apelo à conversão. Lembremo-nos, mais uma vez, de que o céu é certeza. O inferno
é uma possibilidade. O inferno é o ponto alto de um processo de negação ao amor
e por isso, a Deus, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16; cf. Jo 13,34-35; 15,12).
Em cada Eucaristia que celebramos e
da qual participamos o Senhor se converte em uma nova oportunidade para nós,
pois Ele vem nos visitar para habitar entre nós (Jo 1,14; cf. Jo 6,56-57).
Jesus quer que sejamos convertidos num instrumento de seu amor para todos os
homens, num instrumento de construtores da paz para que a fraternidade seja possível.
Por isso, temos que escutar sua Palavra com atitude de seguidores fiéis, que
não somente entendem a mensagem de Deus e sim que sejam os primeiros em
vivê-la. Por ai é que Jesus vai parar de chorar sobre nós. E para nós a paz
voltará ao nosso coração.
P. Vitus Gustama,svd
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