quinta-feira, 27 de novembro de 2014

ORAR E VIGIAR PERMANENTEMENTE

Sábado da XXXIV Semana Comum
29 de Novembro de 2014


Evangelho: Lc 21,34-36

34 “Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós; 35 pois esse dia cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes de toda a terra. 36 Portanto, ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar a tudo o que deve acontecer e para ficardes de pé diante do Filho do Homem”.

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Estamos na ultima parte do discurso escatológico ou apocalíptico de Jesus na versão de Lucas. Desta vez, somos alertados sobre a importância da vigilância e da oração no seguimento de Jesus Cristo.
     

Ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar a tudo o que deve acontecer e para ficardes de pé diante do Filho do Homem”, assim Jesus nos alerta.


No contexto do discurso, colocado imediatamente antes dos relatos da Paixão e da ressurreição do Senhor, esta exortação designa com claridade a Paixão do Filho do Homem durante a qual os discípulos se encontrarão em uma situação complicada. Consciente da situação complicada, com esta exortação Jesus quer animar seus discípulos para que sejam firmes em tudo, pois atrás do mistério da cruz está a ressurreição, atrás de uma aparente debilidade se encontra uma força irresistível, atrás de umas nuvens negras se esconde o sol. Em outras palavras, é preciso ir além da aparência e penetrar a camada exterior para entrar no miolo das coisas. Ao contemplar o mistério da Cruz na sua profundidade acabaremos enxergando o mistério da ressurreição, mistério que nos fortalece para superar tudo na nossa caminhada.


Mas o evangelista Lucas também pensa nos seus leitores de hoje e de amanhã. Encontrados ou situados no mistério da existência, com seus altos e baixos, não sentirão a tentação de abandonar tudo? Daí a importância da vigilância e da oração na vida de qualquer seguidor do Senhor.


Viver Orando


“Quando o Espírito (Santo) fixa a sua morada no coração do homem, este não pode parar de rezar... e a sua alma exala espontaneamente o perfume de oração (Santo Isaac da Síria).


Para Jesus, rezamos “a fim de terdes força para escapar a tudo o que deve acontecer e para ficardes de pé diante do Filho do Homem”. A oração é a força sem limites para encarar a realidade, pois a encaramos com Deus, e se encararmos tudo com Deus, será cumprido aquilo que São Paulo escreveu: “Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas que por todos nós o entregou, como não nos dará também com ele todas as coisas?” (Rm 8,31-32). Aquele que aprende a ficar de joelho diante de Deus em uma atitude de oração e adoração, ele ficará de pé firmemente diante da vida e de seus acontecimentos. Se pararmos de rezar, erraremos o caminho, pois rezar significa estar em comunhão com Deus e por isso, estar no caminho de Deus e com Deus. “Tuas orações são a seta que o mantém na raia” (Santo Agostinho: Serm. 22,5).


Na verdadeira oração encontramos Deus, Fonte do ser e do existir, e ao encontrar a Fonte de nosso ser, acabamos encontrando nosso próximo, objeto do amor de Deus (cf. Jo 3,16). Por isso, não pedimos a Deus que governe nossa vida através de milagres, e sim Lhe pedimos o milagre de amar até o fim (cf. Jo 13,1), pois somente o amor capaz de transformar o mundo porque “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). O amor fraterno nos identifica como verdadeiros seguidores de Jesus Cristo (cf. Jo 13,35). Por isso, se nossa oração nos afasta dos homens, ainda não nos encontramos com o Deus dos homens, mas com sua fantasia. Sempre que rezamos de verdade, a nossa oração é eficaz porque nós nos modificamos. Não rezamos para convencer Deus que faça o que queremos e sim para conseguir nos aproximar de tudo que Deus espera de nós. Dizia Santo Agostinho: “É injusto desejar qualquer coisa do Senhor e não desejar a Ele mesmo. Pode, por acaso, a doação ser preferida ao doador?” (In ps.76,2).


Viver Na Vigilância e Na Permanente Atenção


Ficai atentos! Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós; pois esse dia cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes de toda a terra”.


A última recomendação de Jesus no seu discurso escatológico na versão de Lucas, o ultimo conselho do ano litúrgico é este: “Ficai atentos!” ou “Estejais vigilantes”.


Ser vigilante não é uma opção para um cristão, e sim faz parte do seu ser como seguidor do Senhor. Estar atento é a verdadeira espiritualidade cristã, pois o centro é sempre o outro e o Outro. A atenção nos leva a nos aproximarmos do outro para estar com ele ou para ajudá-lo na sua necessidade. A vigilância nos capacita a detectarmos tudo que possa desviar nossa atenção de nossa meta de estar em comunhão plena com o Senhor, fonte de nosso ser. Somente os vigilantes são capazes de se afastar do mal.


Além disso, a vigilância e a oração têm o seguinte objetivo: “para ficardes de pé diante do Filho do Homem”.  Estar de pé diante de Cristo é estar em vigilância e em atitude de oração na nossa passagem neste mundo cumprindo nossa missão como seguidores de Jesus Cristo. O verdadeiro cristão não se preocupa se a vinda gloriosa de Jesus está próxima ou ainda está distante, pois ele tem um compromisso com o presente de levar até o fim uma grande tarefa de evangelização, isto é, em levar o que é bom e digno para os outros.


O contrário da vigilância é a gula, a embriaguez e as preocupações da vida:Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós; pois esse dia cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes de toda a terra”.


Na época de Jesus, o alcoolismo, o afã de riqueza, a prostituição e os jogos de azar eram as grandes distrações. O povo judeu era muito zeloso de suas leis religiosas. Posteriormente as comunidades primitivas tiveram que definir parâmetros muito claros diante dos vícios que propagavam as culturas greco-romanas centradas no culto ao poder e ao prazer. 


O evangelho de hoje põe na boca de Jesus um conjunto de advertências acima mencionadas que tratam de resistir diante dos vícios que ameaçavam a integridade da pessoa e da comunidade. Não se trata de uma pregação moralista e sim um chamado para uma atitude ética consciente e responsável. O ser humano não pode ser livre se ainda permanece atado aos vícios que a cultura lhe impõe. O cristão não pode ficar atento à presença do Senhor se estiver dominado pelo vício. Ao contrário, o cristão precisa estar livre e estar atento diante da realidade para dar uma resposta adequada e eficaz. Por esta razão, o cristão precisa cultivar uma atitude orante que lhe permite estar atento diante da realidade e descobrir os sinais dos tempos. O fracasso sempre nos deixa muitos ensinamentos que nos ajudam a melhorar. Ele favorece a humildade e nos ajuda a manter os pés no chão; estimula nossa imaginação e nos leva a explorar novas alternativas; faz de nós pessoas mais reflexivas, evitando decisões precipitadas; é um convite para recomeçar. Ser cristão é ser eterno recomeço.


Em cada Eucaristia se concentram três direções para resumir tudo que foi falado até agora, no discurso escatológico de Jesus, através das palavras de São Paulo: “Todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice (momento privilegiado do “hoje”) anunciais a morte do Senhor (o “ontem” da Páscoa), até que ele venha (o “amanhã da manifestação do Senhor)” (1Cor 11,26). Por isso aclamamos no momento central da missa: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte, proclamamos a vossa ressurreição, vinde Senhor Jesus”.


Com este texto terminamos o Tempo Comum para entrar a partir do próximo domingo no Tempo do Advento e do Natal. Na época de Natal é bom ficar na nossa memória as palavras do Senhor lidas hoje:Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós; pois esse dia cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes de toda a terra”.

P. Vitus Gustama,svd

 

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