ZAQUEU E SUA CONVERSÃO
DEUS ME CHAMA PELO NOME, POIS ME CONHECE
Terça-Feira da XXXIII
Semana Comum
18 de Npvembro de 2014
Evangelho: Lc 19,1-10
Naquele tempo, 1 Jesus tinha entrado
em Jericó e estava atravessando a cidade. 2 Havia ali um homem chamado Zaqueu,
que era chefe dos cobradores de impostos e muito rico. 3 Zaqueu procurava ver
quem era Jesus, mas não conseguia, por causa da multidão, pois era muito baixo.
4 Então ele correu à frente e subiu numa figueira para ver Jesus, que devia
passar por ali. 5 Quando Jesus chegou ao lugar, olhou para cima e disse:
“Zaqueu, desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa”. 6 Ele desceu
depressa, e recebeu Jesus com alegria. 7 Ao ver isso, todos começaram a
murmurar, dizendo: “Ele foi hospedar-se na casa de um pecador!” 8 Zaqueu ficou
de pé, e disse ao Senhor: “Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres, e
se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais”. 9 Jesus lhe disse: “Hoje
a salvação entrou nesta casa, porque também este homem é um filho de Abraão. 10
Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”. O encontro de Jesus com
Zaqueu nos mostra a etapas da conversão até chegar a salvação: “Hoje a salvação
entrou nesta casa”.
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Estamos com Jesus no seu caminho
para Jerusalém, escutando suas ultimas e importantes lições para todos nós como
seus seguidores (Lc 9,51-19,28). Ele será crucificado, morto e glorificado. Ao
viver seus ensinamentos nós vamos levar adiante a missão ou a causa de Jesus.
Na passagem do evangelho de hoje o
evangelista Lucas nos descreve passo a passo o processo de conhecer Jesus que
terminará na conversão e no seguimento.
O primeiro passo consiste no desejo de
ver Jesus. O verbo “VER” é muito importante neste relato. O episódio que
precede a nossa narrativa é a cura de um mendigo cego (=não pode ver) às portas
da cidade (Lc 18,35-43). É claro que a graça de Deus faz surgir esse desejo de
ver Jesus. O “ver” e o “subir” (em uma árvore) indicam aqui mais do que
curiosidade: indicam uma procura intensa, uma vontade firme de encontro com
algo novo, uma ânsia de descobrir o “Reino”, um desejo de fazer parte dessa
comunidade de salvação que Jesus anuncia.
Zaqueu tem uma vontade intensa,
profunda e imensa em ver Jesus a ponto de subir em uma arvore por causa de sua
estatura pequena. Mas o que acontece nesse processo de querer ver Jesus? Em vez
de ver Jesus, é o próprio Jesus quem quer ver Zaqueu, e Zaqueu é visto por
Jesus antes de Zaqueu ver Jesus: “Zaqueu, desce depressa! Hoje eu devo ficar
na tua casa”. Jesus chama Zaqueu pelo nome. Zaqueu deve pensar em silêncio,
no meio daquela multidão de gente: “De onde Jesus sabe do meu nome? Eu sou
pecador, pois sou publicano e chefe dos publicanos. Sou ladrão do dinheiro
público. Eu sou excluído da sociedade. A sociedade faz questão de me esquecer,
de não querer olhar para mim ou me olha com um olhar cínico e clínico. E Jesus
me chama pelo nome e quer estar comigo na minha casa? Jesus me conhece?”.
Sim, Deus nos conhece e nos chama
pelo nome: “Eu te chamo pelo nome, és Meu”, diz o Senhor Deus (Is 43,1),
pois nosso nome está gravado na palma da mão de Deus (cf. Is 49,16). Deus não
Se esquece de mim: “Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não
ter ternura pelo fruto de suas entranhas? Mesmo que ela o esquecesse, Eu não te
esqueceria”, diz o Senhor (Is 49,15). Ninguém é anônimo diante de Deus. Eu
posso estar no meio da multidão desconhecida, mas dentro dessa multidão eu
tenho meu nome para Deus e Ele me chama pelo nome. Eu posso estar sozinho em
casa, na rua ou em qualquer lugar e situação, mas Deus está comigo (cf. Mt
28,20), me conhece e me chama pelo nome. De fato, eu não estou sozinho nesse
universo aberto com minhas perguntas e interrogações, meus desejos e sonhos,
meus medos e preocupações. Deus me envolve de todos os lados, e me ama, pois
Ele quer me salvar. Eu sou de Deus! Ele quer me dizer, como disse a Zaqueu:
“Hoje eu devo ficar na tua casa!”.
O segundo passo exige a superação de
todos os obstáculos. Para Zaqueu o maior obstáculo é sua baixa estatura. Não se
trata de uma informação sem importância sobre o aspecto físico de Zaqueu. A
intenção do evangelista é a de nos mostrar que, aos olhos de todos, Zaqueu é
muito pequeno, insignificante, quase imperceptível por ser considerado um
pecador público. É um pequeno ponto perdido numa sociedade que se considera sem
mancha e sem falha. Zaqueu não é um simples publicano, mas é o “Chefe dos
publicanos”, um gerente de ladrões, por isso é um grande pecador público.
Zaqueu resolve o obstáculo de baixa
estatura ao subir numa árvore. Quando quisermos fazer algo de nossa importância
ou de nossa necessidade, usaremos todos os meios para alcançá-la. Este homem
tem tudo na vida, mesmo assim ainda está insatisfeito. É tão profunda,
irreprimível, avassaladora a necessidade de ver Jesus que para satisfazê-la,
está até disposto a expor-se ao ridículo diante de uma multidão que com certeza
não tem simpatia por ele. Um dito popular diz: “Para quem faz o melhor ou quer
melhorar a vida tanto material como espiritual não existe o ridículo nem medo
nem vergonha”.
Assim deve ser a nossa busca de
Deus: nem falsa vergonha nem medo ao ridículo devem impedir que ponhamos os
meios para encontrar o Senhor. Zaqueu procura ver aquele que tem condições de
compreender o seu drama interior, mas alguém quer impedi-lo. São os “grandes”,
as pessoas “de elevada estatura” que cercam Jesus e não toleram que “os
pequenos”, “os impuros” entrem em contato com Ele. Também na narrativa anterior
a multidão agiu da mesma maneira: os que seguiam Jesus repreendiam o cego
rudemente para que se calasse, mas a vontade de querer ficar curado era tão
grande a ponto de o cego gritar a Jesus. Em Zaqueu os que se acham “puros e
santos” só conseguem ver o publicano, o pecador, o aproveitador, nada mais. Não
reconhecem nele nada de bom, nada de positivo. É um perdido para eles. É como
se estivessem usando óculos escuros: estão enxergando tudo escuro. Mas Jesus vê
os anseios de Zaqueu e quer conversar com ele. Jesus dedica seu tempo para
conversar com Zaqueu, porque para Deus ninguém é pequeno por causa de Seu amor
por nós. Nada é pequeno quando o amor é grande.
Um verdadeiro cristão jamais opta
por um caminho de condenação ou de julgamento, e sim por um caminho que
facilite a chegada dos outros próximos de Deus. Quem condena o outro, se
condena. Quem salva o outro, se salva também: “Saiba”, diz São Tiago, “aquele
que fizer um pecador retroceder do seu erro, salvará sua alma da morte e fará
desaparecer uma multidão de pecado” (Tg 5,20).
O terceiro passo comporta deixar-se amar
por Jesus sem restrições nem desconfiança, abrindo-lhe as portas do
coração.
De seu posto de observador (árvore),
não é Zaqueu quem vê Jesus. É Jesus quem o vê e o chama pelo nome e se auto-convida
para hospedar-se na casa dele: “Zaqueu, desce depressa! Hoje eu devo ficar
na tua casa”. Para Zaqueu tudo isto é uma grande surpresa. Deus é surpresa
para quem tem o profundo desejo de encontrá-Lo. Como resposta Zaqueu desceu
depressa da árvore para receber Jesus em sua casa, com alegria. A salvação
entrou assim em sua casa.
Descer de pressa de uma arvore não é
fácil, pois ao ver para baixo de cima de uma arvore, parece a distância se
dobrar e por isso causa o medo de cair. Assim também, não é fácil sair de nossa
posição para outra posição; de um lugar para outro lugar. Não é fácil aceitar a
mudança. Geralmente mudamos por necessidade. Mas temos que aceitar e reconhecer
que o código de um mundo em desenvolvimento é mudança e transformação. Não há
nada que seja pior do que fazer muito bem o que não é necessário fazer. Os
nossos pseudo-desejos não preenchem o nosso coração. Mesmo que consigamos
realizá-los, eles nunca serão nossos desejos verdadeiros e por isso, eles vão
deixar nosso coração vazio.
O quarto passo é uma mudança radical de
vida. Radical significa deixar de lado os esquemas e mentalidades antigos, para
adequar-se às exigências do Reino de Deus. Isto não se faz com palavras ou com
boas intenções, mas com gestos concretos: “Senhor, eu dou a metade dos meus
bens aos pobres e, se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais”. Zaqueu dispõe-se a dar metade de seus bens
aos pobres e a indenizar, quatro vezes mais, aquilo que roubou. Desta forma ele
prova que, realmente, a salvação tem entrado em sua casa. Aqui Zaqueu nos
mostra de que maneira a conversão influi em nossa relação com os bens
materiais. O encontro verdadeiro com Cristo faz abrir o coração, o bolso e as
mãos. O gesto de Zaqueu nasce da conversão interior, da mudança de vida,
provocada pelo encontro com Jesus. Quando colocarmos o ouro e a prata acima de
Deus que os criou, a conversão se tornará difícil. Mas quando reconhecermos que
Deus deve estar acima de ouro e prata, o caminho da conversão se torna fácil.
Zaqueu abandonou sue velho estilo de
vida, evidentemente perdeu seu dinheiro, mas encontrou sua honradez humana, sua
salvação, o sentido da justiça e o amor para seu próximo, especialmente para os
necessitados e os explorados por ele durante o exercício de sua profissão. Se
ontem Jesus devolveu a vista a um cego, hoje ele devolveu a paz para uma pessoa
de vida complicada.
Na casa de Zaqueu entrou a salvação
de Deus e Jesus mesmo se encontra dentro dela. Podemos dizer que a verdadeira
casa de Jesus é aquela onde o pai e a família, em conjunto, cumprem a exigência
representada e resumida na atitude de Zaqueu. Deus entra em cada casa onde o
amor fraterno tem seu lugar.
Será que a salvação também entrou na
minha vida, na minha casa, na sua casa como entrou na casa de Zaqueu? Será que tenho vontade de sair do chão da
minha vida e de procurar algo que posso “ver” e conhecer Jesus? Quais são “arvores”
que me ajudam com facilidade a “ver”e a conhecer Jesus?
P. Vitus Gustama,svd
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