VIVAMOS PROFUNDAMENTE O
PRESENTE COM DEUS
Terça-Feira da XXXIV Semana Comum
Evangelho: Lc 21,5-11
Naquele tempo, 5 algumas pessoas comentavam a
respeito do Templo que era enfeitado com belas pedras e com ofertas votivas.
Jesus disse: 6 “Vós admirais estas
coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído”. 7 Mas eles perguntaram: “Mestre,
quando acontecerá isto? E qual vai ser o sinal de que estas coisas estão para
acontecer?” 8 Jesus respondeu:
“Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo:
‘Sou eu!’ E ainda: ‘O tempo está próximo’. Não sigais essa gente! 9 Quando ouvirdes falar de guerras e
revoluções, não fiqueis apavorados. É preciso que estas coisas aconteçam
primeiro, mas não será logo o fim”. 10 E Jesus continuou: “Um povo se
levantará contra outro povo, um país atacará outro país. 11 Haverá grandes terremotos, fomes e
pestes em muitos lugares; acontecerão coisas pavorosas e grandes sinais serão
vistos no céu”.
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A partir de hoje até o próximo
sábado lemos o “discurso escatológico” de Jesus que se encontra em Lc 21,5-36:
fala-se dos acontecimentos futuros e os que se relacionam ao fim.
Como os dois outros evangelhos
sinóticos (Mt 24-25; Mc 13), também o evangelho de Lucas encerra a atividade de
Jesus em Jerusalém (Lc 19,29-21,38), antes de sua prisão, com o discurso sobre
o fim ou discurso escatológico (Lc 21,5-36). Em seu lugar atual na tradição
sinótica esse discurso é considerado como um discurso de despedida de Jesus que
deixa à sua comunidade os últimos conselhos e advertências. Para Lucas a
destruição de Jerusalém era um fato e as perseguições à comunidade primitiva
uma realidade. Tanto Mateus como Lucas inspiram seu discurso escatológico do
evangelho de Marcos capítulo 13.
No texto do evangelho deste dia, o
evangelista Lucas nos relatou que alguns discípulos de Jesus comentaram sobre a
beleza do Templo pela qualidade da pedra (mármores) e das doações dos fiéis.
Nos tempos de Jesus, o Templo era
recém-edificado. Sua construção começou 19 anos (dezenove anos) antes de
Cristo. O Templo de Jerusalém era considerado uma das sete maravilhas do mundo
antigo. Seus mármores, seu ouro e toda a ornamentação eram admirados pelos peregrinos.
Diante da admiração dos discípulos
Jesus pronuncia algo profético: “Dias
virão em que não ficará pedra sobre pedra”.
Nesse mesmo lugar foi construído o Templo por Salomão até o ano 1.000
a.C e destruído por Nabuconosor em 586 a.C. Logo em seguida foi construído
outro Templo por Zorobabel em 516 a.C. O Templo contemporâneo de Jesus foi
destruído por Tito em 70 d.C e foi construído novamente em 687 por Mesquita de
Omar no mesmo local.
Quando Jesus afirmou: “Tudo será
destruído”, algumas pessoas perguntaram sobre o quando desse acontecimento: “Mestre,
quando acontecerá isto? E qual vai ser o sinal de que estas coisas estão para
acontecer?”. A maioria dos movimentos judeus populares na época de Jesus
acreditava que o mundo se aproximava para seu fim. Para eles era iminente uma
inevitável catástrofe universal. Todos viviam agitados.
Jesus estava por dentro dessa
situação de inquietude e a aproveitou para fazer uma chamada especial. Para
Jesus, o importante não era a data em que o mundo haveria de sucumbir. Para ele
o importante era a finalidade deste mundo: “Para que estamos aqui neste mundo?
O que podemos e devemos fazer para melhorar nossa convivência? O que podemos
fazer para ser úteis para os demais? O que quer Deus de mim, de nós? para que
eu estou no mundo? Qual é o destino da humanidade? Qual será meu fim? Para onde
a vida vai nos levar? Será que a vida termina com a morte?. Será que Deus nos
criou por acaso ou por uma causa? Então, será que estou no mundo por acaso ou
por uma causa? Qual esta causa?”. Para Jesus o tempo presente e o futuro se
abriam como esperança: era o tempo definitivo da salvação com Sua presença. Era
preciso ter uma mudança de mentalidade para mudar a maneira de viver. É preciso
olhar para o alto (Deus) para podermos entender tudo que se passa no mundo. Em
cada momento cada pessoa é chamada a transformar o mundo de morte num mundo de
vida.
“Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra”. Símbolo da fragilidade,
da caducidade das mais esplêndidas obras humanas. Precisamos refletir sobre a grande
fragilidade de todas as coisas, sobre “minha” fragilidade, sobre a brevidade da
beleza e da vida na história. Todos têm olhar para a verdade desta realidade,
pois tudo será destruído. O que embeleza a vida humana são os valores como o
amor, a bondade, a solidariedade, respeito pela vida, perdão mútuo etc. Tratam-se
de valores que dignificam a vida humana e que nos levam à comunhão com Deus de
amor (cf. 1Jo 4,8.16). Por isso é que São Paulo nos consola: “Sabemos que, se a nossa morada terrestre,
esta tenda, for destruída, teremos no céu um edifício, obra de Deus, morada
eterna, não feita por mãos humanas” (2Cor 5,1). O próprio Jesus nos
promete: “Na casa de meu Pai há muitas
moradas... vou preparar-vos um lugar e quando vos for preparado um lugar, virei
novamente e vos levarei comigo a fim de que onde eu estiver, estejais vós
também” (Jo 14,2-3). O que não será destruído são os valores.
Se tudo for destruído (menos os
valores), então, somos chamados a estar vigilantes. Somos chamados a viver com
sabedoria, com prudência, com fraternidade, com justiça, com verdade, com
caridade, com compaixão, com amor, com fé e esperança que são valores que
permanecem e que nos salvam. Quando tudo for destruído, estes valores permanecerão.
A beleza sólida destes valores permanecerá, mesmo quando tudo o mais estiver
reduzido a escombros. Se tudo o que é terreno
será destruído, então, devemos temer perder Jesus, ser afastados dele
eternamente, ser privados do seu amor e do seu coração. Somos chamados a amar
um bem inefável, um bem benéfico, o Bem que cria todos os bens.
Cada cristão, como templo de Deus
(cf. 1Cor 3,16-17), adornado com as belas pedras das virtudes cristãs, pode e
deve perseverar no bem, resistindo às diversas provações e tentações. Nós
cristãos temos um dever de ler os sinais dos tempos e de fazer um verdadeiro
discernimento do bem e do mal, do verdadeiro e do falso, para não nos deixar
enganar pelos falsos profetas e afastar do seguimento de Jesus Cristo, o único
Salvador. Concretamente, devemos viver cada dia sob o influxo do Espírito de
Deus, deixando-nos guiar pelos Seus dons, irradiando os Seus frutos, exercendo
os Seus carismas, vivendo as bem-aventuranças (Cf. Mt 5,1-12).
Portanto, cada dia nós temos que
voltar a começar de novo nossa história, pois cada dia é o tempo de salvação,
se estivermos conscientes da provisoriedade da vida humana na história. Mas
fazer a história com Deus é fazer a história de salvação. Vamos viver um dia de
cada vez de maneira mais profunda para que, se Deus permitir, possamos viver o
dia seguinte de maneira nova, pois trata-se de um novo dia de nossa vida (cf. Mt
6,25-34). Jamais podemos viver mais de dois dias de cada vez para que a angústia
e a preocupação exagerada não nos dominem. Confiemos em Deus o nosso hoje!
P. Vitus Gustama,svd
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