PARTICIPAR DA ALEGRIA
DE DEUS
Terça-Feira da XXXI
Semana Comum
04 de Novembro de 2014
Evangelho: Lc 14,15-24
Naquele tempo, 15 um homem que
estava à mesa disse a Jesus: “Feliz aquele que come o pão no Reino de Deus!” 16
Jesus respondeu: “Um homem deu um grande banquete e convidou muitas pessoas. 17
Na hora do banquete, mandou seu empregado dizer aos convidados: ‘Vinde, pois
tudo está pronto’. 18 Mas todos, um a um, começaram a dar desculpas. O primeiro
disse: ‘Comprei um campo, e preciso ir vê-lo. Peço-te que aceites minhas
desculpas’. 19 Um outro disse: ‘Comprei cinco juntas de bois, e vou
experimentá-las. Peço-te que aceites minhas desculpas’. 20 Um terceiro disse:
‘Acabo de me casar e, por isso, não posso ir’. 21 O empregado voltou e contou
tudo ao patrão. Então o dono da casa ficou muito zangado e disse ao empregado:
‘Sai depressa pelas praças e ruas da cidade. Traze para cá os pobres, os
aleijados, os cegos e os coxos’. 22 O empregado disse: ‘Senhor, o que tu
mandaste fazer foi feito, e ainda há lugar’. 23 O patrão disse ao empregado:
‘Sai pelas estradas e atalhos, e obriga as pessoas a virem aqui, para que minha
casa fique cheia’. 24 Pois eu vos digo: nenhum daqueles que foram convidados
provará do meu banquete”.
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Estamos com Jesus no Seu caminho
para Jerusalém, escutando atentamente seus últimos e importantes ensinamentos
para todos nós cristãos em qualquer época e lugar (Lc 9,51-19,28). Trata-se das
lições do Caminho.
O texto do evangelho lido neste dia
fala do banquete ou da comida comunitária. A comida, o banquete é, em todas as
culturas, um dos maiores símbolos de unidade comunitária e familiar e da
amizade. Na cultura semita o banquete era o símbolo da máxima comunhão.
Participar do banquete significa participar (fazer parte) da comunhão ou da
comunidade ou da família em questão.
Jesus aproveita este valor cultural
para ressaltar os valores do Reino. Na verdade o Reino de Deus não é uma
realidade longe de nossa cotidianidade. O Reino de Deus é precisamente a máxima
realização dos ideais humanos de fraternidade, de solidariedade, de comunhão,
de igualdade e de justiça. E precisamente no comer comunitário ou na festa
comunitária se vivem os sinais que mostram como possível ou realizável o Reino
de Deus entre os seres humanos. Para isso, há que ter uma disponibilidade
generosa e a aspiração de construir algo maior do que os pequenos negócios e
trabalhos particulares ou individuais.
A parábola do banquete é muito rica.
Seus elementos recordam outros elementos. A recusa de alguns para o convite do
banquete e a aceitação de outros nos recordam, por exemplo, a distinta sorte da
semente na parábola do semeador (cf. Lc 8,4-8: algumas sementes caíram à
beira do caminho, outras no pedregulho, no meio de espinhos e em terra boa).
E o convite que se estende aos pobres, aos cegos, aos coxos faz pensar na busca
dos perdidos. Na verdade, para o próprio Deus ninguém é perdido, pois Ele vai
atrás de cada um dos homens. Mas o homem precisa correr aos abraços de Deus
para sentir novamente a importância de uma comunhão no amor. O amor nos
humaniza e nos diviniza, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16).
Vamos destacar alguns pensamentos ou
alguns elementos sobre a parábola do convite ao banquete:
1. O Reino de Deus é
festivo, precioso e alegre. Ele é semelhante a um banquete, a um tesouro, a uma
pérola maravilhosa. Por isso, ele é superior a qualquer valor no mundo. Viver o
Evangelho de Jesus é viver na alegria apesar das dificuldades passageiras. “A alegria do Evangelho enche o
coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam
salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do
isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria”, escreveu o
Papa Francisco (Evangelii Gaudium (EG) n.1). Para viver na alegria do Evangelho,
segundo o Papa Francisco, é preciso aprendermos a viver na partilha ou na doação:
“Na doação, a vida se
fortalece; e se enfraquece no comodismo e no isolamento. De fato, os que mais
desfrutam da vida são os que deixam a segurança da margem e se apaixonam pela
missão de comunicar a vida aos demais” (EG n. 10).
2. A parábola também
destaca que a entrada no banquete não é livre, pois não se trata de direito;
requer-se um convite. Um patrão chama, um rei convida. E o convite é um ato de
graça, e quem convida quer difundir sua alegria, manifestá-la e quer que os
outros participem na mesma alegria. É um ato generoso. Cada generosidade é
criadora, pois prolonga o ato criador de Deus que criou e cria tudo para nós
graciosamente e gratuitamente. Deus nos chama através de vários sinais para que
possamos participar da alegria divina que não depende das coisas materiais,
embora sejam necessárias, mas da comunhão de vida trinitária onde o amor
circula livremente dentro da própria pessoa e entre as pessoas. Não há alegria
maior do que amar e ser amado. Não é por acaso que Jesus nos deu apenas um
mandamento: o amor (cf. Jo 13,34-35; 15,12). Deus está no ato de amar.
3. O convite é sério e
exige empenho. O acento é muito forte sobre este aspecto. É um convite de amor
que compromete a vida. É evidente, aqui, o salto de qualidade entre o humano e
o divino. Um convite humano pode ser aceito ou recusado. Se for recusado não
haverá nenhum prejuízo para quem recusa o convite. Também se for aceito, não há
comprometimento existencial. Mas o convite de Deus é diferente. Deus é tão
misterioso, maravilhoso que, ao convidar, compromete, e é um compromisso que
muda totalmente a vida, transfigura-a e faz a vida nova e renovada. Se o
convite de Deus tem como objetivo mudar de vida para a melhor a fim de alcançar
a salvação que é uma alegria sem fim, então, aquele que o recusa é considerado
como insensato e irracional. É como aquele que quer agarrar um dólar e recusa
uma oferta de um milhão de dólares gratuitamente. Só poderia ser um irracional
e insensato.
4. O convite é dirigido a
todos e não apenas para os privilegiados ou elites ou para os santos ou os
certinhos. Aqui encontramos o amor de Deus dirigido aos perdidos da vida, aos
coxos, aos excluídos da sociedade, a todos, pois todos são os filhos e filhas
do mesmo Pai: “Tomai todos e comei. Tomai todos
e bebei!”, assim Jesus nos convida em cada banquete eucarístico. Trata-se
do banquete celeste já na terra. Isto
significa que o rei que é Deus quer todos, ama a todos cujo único objetivo é
salvar. Então, eu não sou excluído desse amor. Deus me ama e creio no seu amor.
O amor de Deus me alcança e me abraça. Por isso, não há uma Igreja de elites,
há sim uma Igreja para todos onde há espaço para todos. O convite se faz na
primeira hora, nas horas intermediárias e nas ultimas horas. A santidade não
depende dos anos na Igreja e sim depende da renovação da chamada em cada
instante. Por isso, a Igreja é chamada santa e pecadora.
5. Como cristãos somos
todos discípulos-missionários. Na parábola o dono da festa manda os empregados
a chamarem todos os convidados para o banquete. Os convidados especiais
recusaram o convite. Mas quando o convite foi lançado para os pobres, os
aleijados, os cegos e os coxos, estes prontamente o aceitaram. É
preciso sermos simples e humildes para poder captar os sinais do convite de
Deus na nossa vida.
Todos nós somos enviados para chamar
todos a participarem do banquete da salvação. A missão nasce da fé em Deus. A
missão é a conseqüência da fé em Deus. A fé é o bem supremo para nós, porque
ela é o fundamento e a raiz da salvação plena e total do homem. “... Urge
recuperar o caráter de luz que é próprio da fé, pois, quando a sua chama se
apaga, todas as outras luzes acabam também por perder o seu vigor. De fato, a
luz da fé possui um caráter singular, sendo capaz de iluminar toda a existência
do homem. Ora, para que uma luz seja tão poderosa, não pode dimanar de nós
mesmos; tem de vir de uma fonte mais originária, deve porvir em última análise
de Deus. A fé nasce no encontro com o Deus vivo, que nos chama e revela o seu
amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construir
solidamente a vida. Transformados por este amor, recebemos olhos novos e
experimentamos que há nele uma grande promessa de plenitude e se nos abre a
visão do futuro. A fé, que recebemos de Deus como dom sobrenatural, aparece-nos
como luz para a estrada orientando os nossos passos no tempo” (Papa Francisco: Carta Encíclica Lumen
Fidei, n.4).
O impulso missionário nasce da profundidade da fé, do encontro vivo com
deus, da vivência da fé, da alegria da fé, da fatiga da fé, do sofrimento pela
fé. A missão é a proclamação da fé. Sendo em si mesma um bem maior, a fé pede,
por sua natureza ser difundida. A Igreja enquanto comunidade de fé é
missionária. “Propagar a fé é o primeiro dever do cristianismo, é a caridade
maior; todas as outras obras de caridade estão unidas e subordinadas a esta
suma obra” (Cardeal Carlo Maria Martini). Todo cristão é missionário e por
isso, é enviado.
6. Cada um é chamado para o
banquete eterno, mas é tentado ao mesmo tempo pela aparência bela das atrações
do mundo. O pecado tem aspecto atrativo. Mas quando alguém estiver nos seus
abraços, ele o sufoca e o agarra. Para sair dos seus braços supõe a existência
de uma força maior e a vontade sem limite para sair desses abraços. Quem tem
objetivo para melhorar a vida, sempre arranja um jeito e somar forças para
alcançá-lo. Como quem ama loucamente encontra sempre jeito para agradar o
outro.
Deus convida cada um de nós
diariamente à sua alegria que é redentora. Diante desse convite, você é
insensato e irracional ou sensato e racional? Quais são minhas
justificativas ou recusas habituais toda vez que fui ou for convidado para
fazer parte da equipe que trabalha para o bem comum na minha comunidade? Que
contrapõe ao que Deus espera de mim? Qual lugar ocupa Deus na minha vida?
P. Vitus Gustama,svd
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