quinta-feira, 13 de novembro de 2014

 
TALENTOS E RESPONSABILIDADE CRISTÃ

XXXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM "A"
16 de Novembro de 2014


Evangelho: Mt 25,14-30


Naquele tempo, Jesus contou esta parábola a seus discípulos: 14“Um homem ia viajar para o estrangeiro. Chamou seus empregados e lhes entregou seus bens. 15A um deu cinco talentos, a outro deu dois e ao terceiro, um; a cada qual de acordo com a sua capacidade. Em seguida viajou. 16O empregado que havia recebido cinco talentos saiu logo, trabalhou com eles e lucrou outros cinco. 17Do mesmo modo, o que havia recebido dois lucrou outros dois. 18Mas aquele que havia recebido um só saiu, cavou um buraco na terra e escondeu o dinheiro do seu patrão. 19Depois de muito tempo, o patrão voltou e foi acertar contas com os empregados. 20O empregado que havia recebido cinco talentos entregou-lhe mais cinco, dizendo: ‘Senhor, tu me entregaste cinco talentos. Aqui estão mais cinco, que lucrei’. 21O patrão lhe disse: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Como foste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da minha alegria!’22Chegou também o que havia recebido dois talentos, e disse: ‘Senhor, tu me entregaste dois talentos. Aqui estão mais dois que lucrei’. 23O patrão lhe disse: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Como foste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da minha alegria!’. 24Por fim, chegou aquele que havia recebido um talento, e disse: ‘Senhor, sei que és um homem severo, pois colhes onde não plantaste e ceifas onde não semeaste. 25Por isso, fiquei com medo e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence’. 26O patrão lhe respondeu: ‘Servo mau e preguiçoso! Tu sabias que eu colho onde não plantei e ceifo onde não semeei? 27Então, devias ter depositado meu dinheiro no banco, para que, ao voltar, eu recebesse com juros o que me pertence’. 28Em seguida, o patrão ordenou: ‘Tirai dele o talento e dai-o àquele que tem dez! 29Porque a todo aquele que tem será dado mais, e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado. 30Quanto a este servo inútil, jogai-o lá fora, na escuridão. Aí haverá choro e ranger de dentes!’”.

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Os capítulos 24-25 de Mt constituem o quinto e o último discurso de Jesus no evangelho de Mateus Este quinto discurso é conhecido como o “Discurso escatológico” (discurso apocalíptico). Mt elabora notavelmente o discurso escatológico de Mc (Mc 13) e o amplia com uma série de parábolas e com uma impressionante descrição do julgamento final (Mt 25,31-46), cuja principal intenção é orientar os cristãos sobre como preparar a vinda do Senhor. Mt não trata, como em Mc, dos sinais que precederam a destruição do Templo e sim da vinda do Filho do Homem e das atitudes necessárias com que os discípulos devem preparar esta vinda. Fazer o bem é uma das melhores maneiras para preparar esta vinda.


Com o discurso escatológico Mt quer responder à situação em que a sua comunidade vive. Por um lado, a comunidade vê que a segunda vinda de Jesus se atrasa, enquanto diante dela aparece a história como espaço para o compromisso. Por outro lado, o evangelista contempla com preocupação os sinais de abandono, preguiça espiritual, relaxamento moral, rotina e esfriamento que começam a aparecer na comunidade. Nesta situação, Mt descobre que aquelas palavras de Jesus contém um profundo ensinamento e servem de exortação para os cristãos. A exortação se fundamenta numa profunda convicção: a vinda do Filho do Homem é certa, porém, não acontecerá em seguida (o momento é incerto). Por isso, chegou o momento de preparar-se para este grande acontecimento vivendo segundo os ensinamentos de Jesus. 


A linguagem destes capítulos pode provocar temor. Mas, na verdade, trata-se de uma linguagem apocalíptica que era relativamente freqüente entre alguns grupos judeus e cristãos. Chama-se de linguagem apocalíptica porque tem como objetivo manifestar uma revelação escondida (apocalypsis). Em muitas ocasiões esta revelação é dirigida a grupos ou comunidades que vivem uma situação de perseguição, com a intenção de animá-los e encorajá-los em suas lutas e tribulações, pois a Palavra de Deus vai ser a última palavra para a humanidade. Por isso, não há motivo nenhum de alguém ver nestes textos uma ameaça e sim, uma mensagem de esperança.


Por isso, um tema obrigatório de qualquer discurso escatológico é a exortação a vigiar. Com a parábola dos talentos e das outras parábolas anteriores, Mateus pretende nos falar da situação da Igreja ou da comunidade que vive na época da vinda do Senhor.


Mateus nos dá três modelos de infidelidade de crentes/fiéis que não “vigiam” para estar preparados para a vinda do Senhor: Infidelidade de violência e má conduta (Mt 24,45.51); uma infidelidade de imprevisão (Mt 25,1-13) ; e infidelidade-preguiça que encontramos no Evangelho de hoje (Mt 25,14-30). E o traço comum para todas estas infidelidades consistem numa insuficiência de atividade concreta. Isto confirma que a vigilância no Evangelho de Mateus é uma espera ativa e responsável.


Alguns detalhes da parábola dos talentos que nos chamam a atenção:
  

1. Um proprietário, antes de viajar, deixa seus bens aos empregados. E o que ele confia a cada um deles não é pouco: é talento. Um talento equivalia a 34 quilos de ouro ou correspondia a vinte anos de trabalho de um operário na época. E o interessante é que o proprietário não diz o que ou como (modo de multiplicar) eles devem fazer com os talentos, porque ele sabe do que cada um deles é capaz, pois ele confia a cada um de acordo com a própria capacidade. Por isso, que cada um saiba tentar descobrir sempre o modo como multiplicar os dons recebidos. Deus escolhe cada um de nós para realizar uma missão específica neste mundo. Deus investiu Sua vontade e sua força em cada um de nós. Então, estamos aqui neste mundo não por acaso mas por uma causa: a causa de Deus. Fazer  ato de bondade pelos nossos semelhantes é a melhor maneira de celebrar a nossa presença neste mundo e de agradecer pela confiança que Deus depositou em nós.


A parábola caminha para o final, onde ela adquire todo o seu sentido. Não importa se recebemos muito ou pouco. Aliás, não existe muito ou pouco quando se fala das possibilidades de cada um tem. O que importa é que cada um coloque o que é e o que tem a serviço do Reino da justiça. O pouco que cada um pode fazer é muito importante. Se não for feito, algo ficará faltando para todos. Não há nenhuma missão que supere a nossa capacidade. Com Deus com pouco que somos e temos, não existe missão impossível, pois ”para Deus nada é impossível” (Lc 1,37). Se não realizarmos a nossa tarefa ou missão, por insignificante ou pequena que ela seja, aí sim é que seremos considerados inúteis.
 

2. É interessante observar que nenhum dos três empregados rouba o talento. Cada um é honesto. Isto quer dizer que um fiel, segundo Mateus, não é apenas um homem honesto que preserva o talento, mas que ativamente negocia com o talento. Talentos de todo tipo crescem com o uso. E quanto mais o usamos, maior ele fica. Por isso, não adianta ser, por exemplo, intelectualmente muito capaz e não se instruir; ou de nada serve ter um coração compassivo, se ficamos assistindo de longe as dores de nossos semelhantes que a nossa compaixão poderia resolver. Boas intenções que nunca se traduzem em ação, vão se enfraquecendo e viram uma conversa sem conteúdo.
  

3. O bom cristão não esconde o seu talento, mas aplica. Não enterra, mas planta; não guarda, mas multiplica; não se apropria, mas tudo coloca à disposição de todos. Podemos dizer que para o cristão, bom negócio mesmo é “partilhar”. Partilhar o moeda da fé, para que ela se multiplique e fique gerando a salvação. Partilhar a moeda da esperança, para que ela se transforme em energia, a revigorar os corações desanimados. Partilhar a moeda do amor, para que ele acabe com o egoísmo, com a injustiça, com a violência. Partilhar, enfim, a moeda de nossa própria vida, ou partilhar a nós mesmos: nossa saúde, nossa força, nossa inteligência, nosso tempo, nossa atenção, tudo que temos e somos, a fim de que outras vidas possam subsistir e outros irmãos se beneficiem e se alegrem , graças ao nosso gesto de gratuidade. Esses valores fundamentais: nossa fé, esperança, caridade e nossa vida, não podem ser vividos a nível estritamente pessoal, pois homem algum é uma ilha. Estes valores devem ser “convividos” comunitariamente. Do contrário, acabarão morrendo. Podemos, sem dúvida nenhuma, ajudar-nos uns aos outros na procura do sentido da vida. Como diz um anônimo: “Andar juntos é um começo. Manter-se juntos é um progresso. Trabalhar juntos é um sucesso”. O que há de bom em termos sucesso se não houver ninguém para reconhecê-lo ou comemorá-lo conosco ? Precisamos de que amamos e eles precisam de nós. Levamos uma vida melhor, mais saudável e mais longa trabalhando juntos. A completa auto-suficiência é uma ilusão egoísta. Há muito mais força na cooperação.
 

4. Dos três empregados, o que recebe  maior atenção é o terceiro que tem medo de arriscar.


Não estamos errados em sentir medo porque somos criaturas expostas a perigos e ameaças. Mas os nossos medos são um sinal de alarme que podem nos ajudar a evitar o perigo. O imprudente, de modo geral, suprime o medo e se atira inutilmente ao perigo. O covarde teme tudo, se paralisa e não se atreve a correr nenhum risco. O terceiro empregado representa qualquer covarde. Mas o homem sadio usa seus medos para agir prudentemente. Assim que podemos encontrar nos dois empregados que conseguiram multiplicar os seus talentos prudentemente.


O bom cristão não esconde o seu talento, mas aplica. Não enterra, mas planta; não guarda, mas multiplica; não se apropria, mas tudo coloca à disposição de todos. Podemos dizer que para o cristão, bom negócio mesmo é “partilhar”. Partilhar a moeda da fé, para que ela se multiplique e fique gerando a salvação. Partilhar a moeda da esperança, para que ela se transforme em energia, a revigorar os corações desanimados. Partilhar a moeda do amor, para que ele acabe com o egoísmo, com a injustiça, com a violência. Partilhar, enfim, a moeda de nossa própria vida, ou partilhar a nós mesmos: nossa saúde, nossa força, nossa inteligência, nosso tempo, nossa atenção, tudo que temos e somos, a fim de que outras vidas possam subsistir e outros irmãos se beneficiem e se alegrem , graças ao nosso gesto de gratuidade. Esses valores fundamentais: nossa fé, esperança, caridade e nossa vida, não podem ser vividos a nível estritamente pessoal, pois homem algum é uma ilha. Estes valores devem ser “convividos” comunitariamente. Do contrário, acabarão morrendo. Podemos, sem dúvida nenhuma, ajudar-nos uns aos outros na procura do sentido da vida. Como diz um anônimo: “Andar juntos é um começo. Manter-se juntos é um progresso. Trabalhar juntos é um sucesso”. O que há de bom em termos sucesso se não houver ninguém para reconhecê-lo ou comemorá-lo conosco ? Precisamos de quem amamos e eles precisam de nós. Levamos uma vida melhor, mais saudável e mais longa trabalhando juntos. A completa auto-suficiência é uma ilusão egoísta. Há muito mais força na cooperação.


Portanto, vamos nos perguntar e sem medo de responder com sinceridade: Você tem realizado e multiplicado os talentos que Deus depositou em você ou não? E por que ? Que tipo de homem você é: um homem prudente ou imprudente ou covarde ? De que causas eu coloco os meus talentos ? Porque há pessoas que só fazem render os talentos para proveito pessoal, não querem comprometer-se com a causa dos necessitados, seus irmãos. Como vai ser, quando o Senhor voltar de viagem e pedir contas ? Dentro de um tempo teremos que deixar tudo que temos e levaremos conosco, para sempre, o mérito das nossas boas obras.

P. Vitus Gustama,svd

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