JESUS NOS INTERROGA SOBRE
QUEM ELE É PARA NÓS
Sexta-Feira da XXV Semana
26 de Setembro de 2014
Evangelho: Lc 9,18-22
Aconteceu que Jesus 18 estava
rezando num lugar retirado, e os discípulos estavam com ele. Então Jesus
perguntou-lhes: “Quem diz o povo que eu sou?” 19 Eles responderam: “Uns dizem
que és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que és algum dos
antigos profetas que ressuscitou”. 20 Mas Jesus perguntou: “E vós, quem dizeis
que eu sou?” Pedro respondeu: “O Cristo de Deus”. 21 Mas Jesus proibiu-lhes
severamente que contassem isso a alguém. 22 E acrescentou: “O Filho do Homem
deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e
doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia”.
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O evangelista Lucas volta ao tema
do evangelho do dia anterior sobre a identidade de Jesus (cf. Lc 9,7-9). No
texto do evangelho do dia anterior o interessado por saber quem era Jesus foi
Herodes Antipas, filho do rei Herodes, o Grande. No texto do evangelho de hoje
é o próprio Jesus quem dirige a pergunta a seus discípulos. Quem é Jesus para
as pessoas em geral e quem é Jesus para os próprios discípulos?
A resposta do povo é múltipla:
Elias, João Batista, um profeta que ressuscitou. Segundo os discípulos Jesus é
o Messias. “Messias” é palavra hebraica que é em grego “Christos” que significa
“Ungido”. Jesus é o Ungido de Deus, ou seja, Aquele sobre quem Deus derramou
seu Espírito, ungindo-o com Sua força para que leve a cabo uma missão. Jesus
está totalmente aberto à vontade de Deus a ponto de o Espírito divino repousar
sobre Ele (cf. Lc 3,21-22; Mt 3,16-17) e se deixa guiar completamente pelo
mesmo Espírito (cf. Mc 1,12).
Mas que tipo de Messias Jesus é?
Estamos aqui no centro da fé: crer em um Messias que será crucificado. A cruz
de Jesus não é um incidente e sim uma conseqüência. A presença de Deus se manifesta
no caminho da cruz, isto é, na entrega de si mesmo, na recusa de toda
imposição, no amor que aceita ser contradito e aparentemente derrotado: “É
necessário o Filho do Homem sofrer muito e ser rejeitado pelos anciãos, sumos
sacerdotes e escribas, ser morto e, no terceiro dia, ressuscitar”.
Mas a cruz de Jesus é saborosa,
pois trata-se de uma vida vivida até o fim por amor aos homens como
manifestação do amor a Deus (cf. Jo 3,16). Por isso, na sua cruz vemos com
clareza o amor de Deus por cada um de nós. Deus encarnado é capaz de tudo, até
o impossível, pois cada um tem um valor incalculável diante de Deus. Por você e
por mim Deus se encarnou em Jesus e por amor a nós todos Jesus aceitou ser
crucificado (cf. Mt 8,17; Jo 3,16). O caminho do amor é o caminho que nos leva
à salvação. Fora do amor não há a salvação independentemente de nossas práticas
religiosas. Por este caminho (amor) não há outro caminho para chegar até Deus
que é Amor por excelência (1Jo 4,8.16).
O amor transforma tudo. Com amor
levamos a carga sem carga, pois o amor torna tudo leve. O amor faz doce e
saboroso o que é amargo. O amor nobre de Jesus nos impulsiona a desejar sempre
o mais perfeito e a fazer o bem para todos. O amor não é detido por qualquer
coisa deste mundo. O amor quer ser livre. Não há nada que seja mais doce, mais
forte, mais alto, mais alegre, mais humano e mais divino do que o amor, pois o
amor nasce de Deus, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). O amor sempre vela, e
dormindo não se dorme; fatigado, não se cansa; angustiado, não se angustia;
espantado, não se espanta; é forte na sua fraqueza.
A pergunta de Jesus é repetida para
nós em todos os momentos: “Quem é Jesus para nós?”. Não se trata de uma
pergunta supérflua. É claro que “sabemos” já quem é Jesus. Não somente cremos
em Jesus como o Filho de Deus e Salvador da humanidade, mas queremos segui-Lo
com fidelidade na vida de cada dia. Mas temos que refrescar ou renovar com
freqüência esta convicção, pensando se realmente nossa vida está orientada para
Ele, se nossas opções de cada dia estão de acordo com seus critérios. Quem é
Jesus para mim agora, nesta etapa concreta da vida que estou vivendo? Não
podemos responder a esta pergunta com palavras magistrais nascidas do estudo.
Nossa resposta deve ser muito simples, nascida da vida de cada dia com o
próprio Senhor.
O segundo ponto que Lucas quer nos
transmitir através do texto do evangelho de hoje é a importância da oração.
Lucas nos mostra Cristo em oração toda vez que ele toma uma decisão importante
ou quando se compromete em uma etapa de sua missão (Lc 3,21; 6,12; 9,29; 11,1;
22,31-39). Lucas é o único evangelista que menciona a oração de Cristo antes de
obter a profissão de fé nos seus e de anunciar-lhes sua Paixão. Assim cabe
pensar, como em cada uma das demais circunstâncias mencionadas por Lucas, que
Jesus reza pelo cumprimento de sua missão cujos contornos ele não vê mais que
na obscuridade. Através da oração vemos a realidade da humanidade de Jesus. “Para ser um bom orador é necessário ser um bom
orante”, dizia Santo Agostinho (De doc. christ. 4,15,32).
Se a oração de Jesus demonstra a
realidade de sua humanidade, não deixa de ser um sinal de sua divindade. Que
Jesus pode reunir em sua oração a profundidade de sua pessoa, onde se
estabelece sua vocação como o Ungido de Deus, é o indício de que dispõe do
Espírito do Pai. Com feito, a oração não é um discurso que se dirige a Deus
como um objeto e sim ter Deus por sujeito que conhece a profundidade de nosso
ser. Não podemos alcançar esta profundidade sem a ajuda do Santo Espírito (cf.
Rm 8,26-27). Do ponto de vista humano podemos dizer que somente aquele que reza
profundamente é que reconhece os próprios limites e fraquezas, pois diante de
Deus tudo fica iluminado. Rezar é deixar Deus iluminar nossa vida e nossas
decisões de cada dia. Com efeito, sem oração a vida se torna escura. Quem não
reza, obscurece a própria vida. A história de nossa oração é a história de
nossa vida, pois na oração contamos para Deus tudo o que acontece na nossa vida
embora Ele saiba de tudo. Erraremos o caminho se pararmos de orar, pois Deus é
a Luz de nossa vida (Jo 8,12).
“Mas para vós, quem sou Eu?”. A pergunta
sobre Jesus é a pergunta sobre nós mesmos. É uma pergunta fundamental, porque
implica a nossa própria identidade cristã. Jesus agora não pede uma opinião, mas
uma opção; não uma teoria, mas uma confissão; não uma conclusão de um discurso,
mas uma tomada de posição, porque a questão: “O que significa seguir a Jesus”
não pode ser separada da questão sobre a identidade de Jesus: “Quem é Jesus(para
mim)?” A resposta do povo já não serve. A pergunta exige uma resposta sem meias-palavras.
A pergunta exige uma tomada de posição. Estar com Jesus em pessoa não era
suficiente. Ter o conhecimento da multidão não era suficiente. É necessário que
seja Deus quem nos revele a cada um o conhecimento da verdadeira identidade de
Jesus.
Jesus continua dirigindo esta
pergunta à Igreja e aos cristãos de todos os tempos. Todos são chamados a não
contentar-se com uma opinião, uma teoria, um curso, uma pesquisa ou uma
doutrina a respeito de Jesus, por nova e moderna que ela seja. Podemos até
perguntar se temos realmente consciência da importância e da seriedade de nossa
fé no Deus que Jesus Cristo nos revelou
P. Vitus Gustama,svd
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