sexta-feira, 12 de setembro de 2014

 
VIVER NA SABEDORIA DE DEUS

Quarta-Feira da XXIV Semana Comum
17 de Setembro de 2014
 

Evangelho: Lc 7,31-35

Naquele tempo, disse Jesus: 31 “Com quem hei de comparar os homens desta geração? Com quem eles se parecem? 32 São como crianças que se sentam nas praças, e se dirigem aos colegas, dizendo: ‘Tocamos flauta para vós e não dançastes; fizemos lamentações e não chorastes!’ 33 Pois veio João Batista, que não comia pão nem bebia vinho, e vós dissestes: ‘Ele está com um demônio!’ 34 Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e vós dizeis: ‘Ele é um comilão e beberrão, amigo dos publicanos e dos pecadores!’ 35 Mas a sabedoria foi justificada por todos os seus filhos”.
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Com quem hei de comparar os homens desta geração?”, começa Jesus seu ensinamento no texto do evangelho deste dia. Sabemos que o termo ou a expressão “essa geração” na boca de Jesus é o resultado de um juízo. A expressão “essa geração” tem um tom de condenação na boca de Jesus. É uma alusão à geração do povo eleito que atravessava o deserto de Sinai que duvidava da presença de Deus apesar das evidências de Sua providência (cf. Sl 96; Dt 32, 5.20).


“Veio João Batista, que não comia pão nem bebia vinho, e vós dissestes: ‘Ele está com um demônio!’ Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e vós dizeis: ‘Ele é um comilão e beberrão, amigo dos publicanos e dos pecadores!’”.


Jesus foi criticado e censurado porque mostrou sua solidariedade com os pecadores e os marginalizados da sociedade. Comer juntos significava nivelar as relações. Jesus come com os pobres e pecadores porque eles tem a mesma dignidade. Não pode haver a diferença onde há a mesma substância. Somos todos seres humanos. A única diferença entre nós é a função ou papel que cada um desempenha na sociedade. Jesus se aproxima dos pobres e pecadores, pois Ele veio para trazer a salvação para todos (cf. Lc 4,14-21). Ele veio por amor à humanidade. O amor une o ateu e o religioso, aproxima o rico do pobre, cria ponte entre o idoso e o jovem, une o céu e a terra, e leva alguém para o céu, pois Deus é amor (cf. 1Jo 4,8.16). “Cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar” (Machado de Assis). Em conseqüência desse amor, Jesus não mudou de comportamento apesar das criticas e das maledicências dos seus adversários. Jesus tem objetivo claro: quer salvar todos os homens. Por isso, Jesus viveu em função de Seu objetivo e não em função das criticas. Em Jesus se revelou a sabedoria de Deus que é sempre solidária com a humanidade carente de salvação.


É uma atitude muito diferente da dos fariseus que mantinham distância das categorias sociais consideradas impuras para não ficarem contaminados. Esta atitude mostra a arrogância religiosa dos fariseus. Trata-se de uma atitude desrespeitosa para com os outros e conseqüentemente para Deus, pois Deus está nos pequenos (cf. Mt 25,40.45; 1Cor 3,16-17). A prática do culto sem o compromisso de uma conduta coerente engana os outros e é um ópio que adormece a própria consciência. Qualquer prática religiosa não pode ser mais importante do que o próprio Deus e do que o próprio ser humano a quem Deus amou tanto (cf. Jo 3,16). Um Deus banalizado torna absoluto o que é relativo e o homem se engana buscando o absoluto onde ele não está. O mais próximo do absoluto está em você mesmo e em seus irmãos. O próximo é a passagem obrigatória para chegar até Deus.


Os pobres, os excluídos e os pecadores não tinham nenhuma dificuldade para ouvir a Palavra de Deus a eles dirigida. Com a ajuda da Palavra de Deus eles reconstruíam sua própria dignidade. Faltava-lhes, até então, alguém que pudesse dirigir a palavra de esperança para eles. Jesus era para eles o Salvador. Jesus era Aquele que eles esperavam.


A pregação de Jesus é bastante alegre. Na sua alegre pregação ele coloca a penitência e a exigência divina. Ele come e bebe normalmente. Anuncia o Reino de Deus como um banquete. Um quinto do evangelho de Lucas fala de comida ou de banquete para enfatizar que no Reino de Deus há somente a fraternidade, pois todos são filhos e filhas do mesmo Pai, e há somente a alegria, pois é uma festa que não tem fim.


Mas a sabedoria foi justificada por todos os seus filhos”, conclui Jesus no seu ensinamento. A sabedoria da qual se fala aqui não se trata de ciência, mas trata-se daquilo que corresponde ao desígnio salvador de Deus a respeito do homem e do mundo (cf. Jo 3,16). E esse desígnio se realiza nas pessoas que têm a docilidade ao Espírito de Deus. E essa docilidade se encontra nos simples, nos pequenos, nos despretensiosos. Por isso, Jesus volta aqui a usar uma idéia mais cara: “os pequenos”, “os filhos”. Os pequenos possuem muito mais sabedoria do que os que se dizem entendidos, como os escribas, pois os pequenos vivem na simplicidade (cf. Mt 11,25-28). A simplicidade é um valor alto para Jesus e para a humanidade. Por causa do valor tão alto da simplicidade Jesus chegou a fazer uma oração de agradecimento: “Eu Te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste essas coisas aos sábios e entendidos, e a revelaste aos pequeninos” (Lc 10,21).  Todos os simples são verdadeiros amigos de Jesus e amigos dos outros. O simples atrai a simpatia dos outros e as bênçãos de Deus.


Mas a sabedoria foi justificada por todos os seus filhos”, disse-nos Jesus.  Aprendemos o saber com os mestres, cursos, livros... A sabedoria, aprendemos com a vida cotidiana. Cada dia de nossa vida é uma página de nossa vida. Em cada página de nossa vida aprendemos algo para a construção de nossa vida e convivência. É preciso fazer leitura de nossa vida de cada dia para tirar alguma lição para nossa sabedoria. Mas temos muita consciência de que “O que sabemos é uma gota; o que ignoramos é um oceano” (Isaac Newton). “A parte que ignoramos é muito maior que tudo quanto sabemos” (Platão). Porém, “O início da sabedoria é a admissão da própria ignorância. Todo o meu saber consiste em saber que nada sei” (Sócrates).


Para Nossa reflexão:

·        Se Jesus é o amigo da simplicidade, será que você é um cristão simples ou um cristão falso e vaidoso que simula as virtudes que não existem? “A soberba gera a divisão. A caridade, a comunhão” (Santo Agostinho). Santo Agostinho nos faz a seguinte pergunta: “O nome cristão traz em si a conotação de justiça, bondade, integridade, paciência, castidade, prudência, amabilidade, inocência e piedade. Como tu podes explicar a apropriação de tal nome se tua conduta mostra tão poucas dessas muitas virtudes?”.


·        Jesus é chamado também de “amigo dos pecadores”, pois ele se aproxima deles para salvá-los e devolver sua dignidade de filhos de Deus. Que atitude nós temos em relação àqueles que erraram ou cometeram algum pecado na vida: afastá-los ou nos aproximar deles, a exemplo de Cristo?


·        A pregação de Jesus é alegre, pois fala da fraternidade, do banquete onde as relações se nivelam. Que tipo de pregadores nós somos: da alegria ou da desgraça?


·        Com quem hei de comparar os homens desta geração? Com quem eles se parecem?”, perguntou Jesus retoricamente. De que geração somos, ou pertencemos a qual geração? Qual será nossa resposta se fizermos a mesma pergunta para a geração da qual fazemos parte?
 
P.Vitus Gustama,svd

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