VIVER NA SABEDORIA DE DEUS
Quarta-Feira da XXIV Semana Comum
17 de Setembro de 2014
Evangelho: Lc 7,31-35
Naquele tempo, disse Jesus: 31 “Com
quem hei de comparar os homens desta geração? Com quem eles se parecem? 32 São
como crianças que se sentam nas praças, e se dirigem aos colegas, dizendo:
‘Tocamos flauta para vós e não dançastes; fizemos lamentações e não chorastes!’
33 Pois veio João Batista, que não comia pão nem bebia vinho, e vós dissestes:
‘Ele está com um demônio!’ 34 Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e vós
dizeis: ‘Ele é um comilão e beberrão, amigo dos publicanos e dos pecadores!’ 35
Mas a sabedoria foi justificada por todos os seus filhos”.
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“Com quem hei de comparar os
homens desta geração?”, começa Jesus seu ensinamento no texto do evangelho
deste dia. Sabemos que o termo ou a expressão “essa geração” na boca de Jesus é
o resultado de um juízo. A expressão “essa geração” tem um tom de condenação na
boca de Jesus. É uma alusão à geração do povo eleito que atravessava o deserto
de Sinai que duvidava da presença de Deus apesar das evidências de Sua
providência (cf. Sl 96; Dt 32, 5.20).
“Veio João Batista, que não comia
pão nem bebia vinho, e vós dissestes: ‘Ele está com um demônio!’ Veio o Filho
do Homem, que come e bebe, e vós dizeis: ‘Ele é um comilão e beberrão, amigo
dos publicanos e dos pecadores!’”.
Jesus foi criticado e censurado
porque mostrou sua solidariedade com os pecadores e os marginalizados da
sociedade. Comer juntos significava nivelar as relações. Jesus come com os
pobres e pecadores porque eles tem a mesma dignidade. Não pode haver a diferença
onde há a mesma substância. Somos todos seres humanos. A única diferença entre
nós é a função ou papel que cada um desempenha na sociedade. Jesus se aproxima
dos pobres e pecadores, pois Ele veio para trazer a salvação para todos (cf. Lc
4,14-21). Ele veio por amor à humanidade. O amor une o ateu e o religioso,
aproxima o rico do pobre, cria ponte entre o idoso e o jovem, une o céu e a
terra, e leva alguém para o céu, pois Deus é amor (cf. 1Jo 4,8.16). “Cada qual sabe amar a seu modo; o
modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar” (Machado de Assis). Em
conseqüência desse amor, Jesus não mudou de comportamento apesar das criticas e
das maledicências dos seus adversários. Jesus tem objetivo claro: quer salvar
todos os homens. Por isso, Jesus viveu em função de Seu objetivo e não em
função das criticas. Em Jesus se revelou a sabedoria de Deus que é sempre solidária
com a humanidade carente de salvação.
É uma atitude muito diferente da
dos fariseus que mantinham distância das categorias sociais consideradas
impuras para não ficarem contaminados. Esta atitude mostra a arrogância
religiosa dos fariseus. Trata-se de uma atitude desrespeitosa para com os
outros e conseqüentemente para Deus, pois Deus está nos pequenos (cf. Mt
25,40.45; 1Cor 3,16-17). A prática do culto sem o compromisso de uma conduta
coerente engana os outros e é um ópio que adormece a própria consciência.
Qualquer prática religiosa não pode ser mais importante do que o próprio Deus e
do que o próprio ser humano a quem Deus amou tanto (cf. Jo 3,16). Um Deus
banalizado torna absoluto o que é relativo e o homem se engana buscando o
absoluto onde ele não está. O mais próximo do absoluto está em você mesmo e em
seus irmãos. O próximo é a passagem obrigatória para chegar até Deus.
Os pobres, os excluídos e os
pecadores não tinham nenhuma dificuldade para ouvir a Palavra de Deus a eles
dirigida. Com a ajuda da Palavra de Deus eles reconstruíam sua própria dignidade.
Faltava-lhes, até então, alguém que pudesse dirigir a palavra de esperança para
eles. Jesus era para eles o Salvador. Jesus era Aquele que eles esperavam.
A pregação de Jesus é bastante
alegre. Na sua alegre pregação ele coloca a penitência e a exigência divina.
Ele come e bebe normalmente. Anuncia o Reino de Deus como um banquete. Um
quinto do evangelho de Lucas fala de comida ou de banquete para enfatizar que
no Reino de Deus há somente a fraternidade, pois todos são filhos e filhas do
mesmo Pai, e há somente a alegria, pois é uma festa que não tem fim.
“Mas a sabedoria foi justificada
por todos os seus filhos”, conclui Jesus no seu ensinamento. A sabedoria da
qual se fala aqui não se trata de ciência, mas trata-se daquilo que corresponde
ao desígnio salvador de Deus a respeito do homem e do mundo (cf. Jo 3,16). E
esse desígnio se realiza nas pessoas que têm a docilidade ao Espírito de Deus.
E essa docilidade se encontra nos simples, nos pequenos, nos despretensiosos.
Por isso, Jesus volta aqui a usar uma idéia mais cara: “os pequenos”, “os
filhos”. Os pequenos possuem muito mais sabedoria do que os que se dizem
entendidos, como os escribas, pois os pequenos vivem na simplicidade (cf. Mt
11,25-28). A simplicidade é um valor alto para Jesus e para a humanidade. Por
causa do valor tão alto da simplicidade Jesus chegou a fazer uma oração de
agradecimento: “Eu Te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque
ocultaste essas coisas aos sábios e entendidos, e a revelaste aos pequeninos”
(Lc 10,21). Todos os simples são verdadeiros
amigos de Jesus e amigos dos outros. O simples atrai a simpatia dos outros e as
bênçãos de Deus.
“Mas a sabedoria foi justificada
por todos os seus filhos”, disse-nos Jesus. Aprendemos o saber com os mestres, cursos,
livros... A sabedoria, aprendemos com a vida cotidiana. Cada dia de nossa vida é
uma página de nossa vida. Em cada página de nossa vida aprendemos algo para a construção
de nossa vida e convivência. É preciso fazer leitura de nossa vida de cada dia
para tirar alguma lição para nossa sabedoria. Mas temos muita consciência de
que “O que sabemos é
uma gota; o que ignoramos é um oceano” (Isaac Newton). “A parte que ignoramos é muito maior
que tudo quanto sabemos” (Platão). Porém, “O início da sabedoria é a admissão da própria
ignorância. Todo o meu saber consiste em saber que nada sei” (Sócrates).
Para Nossa reflexão:
·
Se Jesus é o amigo da simplicidade, será que você é
um cristão simples ou um cristão falso e vaidoso que simula as virtudes que não
existem? “A soberba gera a divisão. A caridade, a comunhão” (Santo Agostinho).
Santo Agostinho nos faz a seguinte pergunta: “O nome cristão traz em si a
conotação de justiça, bondade, integridade, paciência, castidade, prudência,
amabilidade, inocência e piedade. Como tu podes explicar a apropriação de tal
nome se tua conduta mostra tão poucas dessas muitas virtudes?”.
·
Jesus é chamado também de “amigo dos pecadores”,
pois ele se aproxima deles para salvá-los e devolver sua dignidade de filhos de
Deus. Que atitude nós temos em relação àqueles que erraram ou cometeram algum
pecado na vida: afastá-los ou nos aproximar deles, a exemplo de Cristo?
·
A pregação de Jesus é alegre, pois fala da
fraternidade, do banquete onde as relações se nivelam. Que tipo de pregadores
nós somos: da alegria ou da desgraça?
·
“Com quem hei de comparar os homens desta
geração? Com quem eles se parecem?”, perguntou Jesus retoricamente. De que
geração somos, ou pertencemos a qual geração? Qual será nossa resposta se
fizermos a mesma pergunta para a geração da qual fazemos parte?
P.Vitus Gustama,svd
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