SER CONVERTIDO DIARIAMENTE
Sexta-Feira Da XXVI Semana Comum
03 de Outubro de 2014
Evangelho: Lc 10,13-16
Naquele tempo, disse Jesus: 13 “Ai
de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque se em Tiro e Sidônia tivessem sido
realizados os milagres que foram feitos no vosso meio, há muito tempo teriam
feito penitência, vestindo-se de cilício e sentando-se sobre cinzas. 14 Pois
bem: no dia do julgamento, Tiro e Sidônia terão uma sentença menos dura do que
vós. 15 Ai de ti, Cafarnaum! Serás elevada até o céu? Não, tu serás atirada no
inferno. 16 Quem vos escuta a mim escuta; e quem vos rejeita a mim despreza; mas
quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou”.
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As cidades à beira do lago de
Tiberíades (Corozaim/Corazim, Betsaida e Cafarnaum) tiveram mais ocasiões de
ouvir Jesus e de presenciar os milagres operados por ele. Os milagres de Jesus
são sinais que anunciam a chegada do Reino de Deus. Os milagres são a assinatura de Deus sobre
Sua existência. E a resposta do ser humano deve ser a conversão e a fé. No
entanto, ninguém se converteu nessas três cidades. Continuavam a viver na
injustiça e na arrogância.
A soberba humana construiu uma
sociedade injusta que se resiste diante da mensagem libertadora de Deus. O
soberbo ou o orgulhoso possui todos os vícios: egoísta, injusto, ingrato,
imoral e fanfarrão. Como egoísta, ele sempre se coloca como centro de tudo. Como
injusto, ele não quer reconhecer os direitos dos outros, somente seu próprio
direito. Como ingrato, ele não permite compartilhar com os outros os seus
merecimentos. Como imoral, ele não precisa respeitar moral alguma, mas ele impõe
aos outros normas morais. Como fanfarrão, ele está sempre falando de si mesmo,
atribuindo a si mesmo elogios por façanhas jamais realizadas. Santo Agostinho
dizia: “A
simulação de uma virtude é sacrilégio duplo: une à malícia a falsidade” (In
ps. 63,12). O soberbo ou o orgulhoso é prepotente, insolente e violento.
Jesus não agüentou mais a dureza do
coração dos habitantes das cidades citadas (Corozaim/Corazim, Betsaida e
Cafarnaum), e por isso, pronunciou as maldiçoes. O que tem por trás dessas
maldições é o convite de Jesus para a conversão. Converter-se significa deixar
de praticar a injustiça e começar uma vida baseada na justiça; deixar de se
vestir de orgulho para viver na humildade e simplicidade. A verdadeira
conversão deve mudar a qualidade das relações humanas. Não pratiquemos a
justiça para que sejamos perfeitos, mas para que nosso irmão, nosso próximo não
seja tratado injustamente. Não procuremos protestar contra as injustiças
sociais, se ignorarmos nossas injustiças pessoais.
Às vezes a Palavra de Jesus é
ameaçadora, porque a vida humana não é um “jogo”; é algo muito sério onde há
lugar para o juízo de Deus: nossa vida cotidiana é uma correspondência a Deus
ou é uma recusa a Deus. Em todo momento nossos atos são uma escolha pró ou
contra Deus. Infelizmente nem sempre pensamos nisso. Em todo momento Deus quer
algo de nós. E em todo momento podemos saber qual é a vontade de Deus sobre
nós. Quando pensarmos realmente em Deus em todo momento, e não só em algum
momento de nossa vida, poderemos viver com Ele em correspondência à Sua vontade
e saberemos ser irmãos dos outros.
As maldições pronunciadas por Jesus
no evangelho de hoje são as terríveis advertências para os que se gloriam de
ser cristãos, mas não vivem os ensinamentos de Jesus. Basta substituir o nome
das cidades amaldiçoadas por seu nome e ouvir estas palavras atentamente, creio
que, logo você dá a vontade de fazer o sinal da cruz e se benzer. E você diria:
“Deus me livre!”.
As ameaças pronunciadas por Jesus as
três cidades devem ser escutadas hoje por todos nós. As riquezas espirituais,
de nenhum modo constitui uma segurança para nós. Quanto mais abundantes são as graças recebidas, tanto mais
há que fazê-las frutificar.
Hoje temos que avaliar nossa atitude
diante do Reino de Deus. Também fomos eleitos pela graça de Deus. Não temos
mérito algum para ser escolhidos. Porém temos que responder a este chamado de
Deus com altura e com responsabilidade. É uma exigência e temos que cumpri-la.
Não percamos o tempo nem as oportunidades que nos oferece a vida para que a
soberania de Deus se torne uma realidade nos corações das pessoas. Quanto mais
abundantes são as graças recebidas, tanto mais há que fazê-las frutificar. Não
basta estender a mão para receber os dons de Deus. É necessário esforçar-se por
viver conforme os dons recebidos para não nos tornarmos um terreno estéril
neste mundo.
Em nossa vida Deus continua fazendo
milagres e continua falando em nosso coração, mas às vezes nossa resposta é a
indiferença e continuamos com o coração endurecido como as pessoas de Corazim,
Betsaida e Cafarnaum. Pode ser que Jesus no juízo final nos recuse porque nosso
coração esteve sempre endurecido por nosso egoísmo e por nossa falta de amor
(cf. Mt 7,21-23). Pior ainda, cremos que já temos solução, nos cremos salvos e
convertidos definitivamente. A conversão é uma carreira inacabada. É um
trabalho silencioso de cada dia.
Precisamos estar conscientes de que é
bem verdade que os defeitos dos outros são os nossos enxergados nos outros. Por
isso, não julguemos que a conversão seja somente para os grandes pecadores. A conversão
é para todos, pois o “homem velho” dentro de nós sempre se opõe permanentemente
ao “homem novo” libertado por Cristo. Nunca somos convertidos definitivamente,
pois o amor cristão é para ser vivido diariamente. Que quiser amar
continuamente, deve se converter diariamente, pois o egoísmo, a soberba, a agressividade,
a violência, a hipocrisia, a luxuria etc. não estão mortos, mas apenas estão adormecidos.
Estejamos vigilantes. Seria muito perigoso não se converter diariamente, pois o
pecado pode fazer seu ninho dentro de nosso coração. Santo Agostinho dizia: “Quem
não reconhecer seus pecados ata-os às costas como uma mochila e põe em
evidência os pecados dos outros. Não por diligência, mas por inveja. Acusando o
próximo, procura esquecer a si mesmo” (In ps. 100,3).
O Reino de Deus certamente começa em
nós pela nossa conversão aos valores do Reino de Deus tais como à verdade, à
veracidade, à honestidade, à justiça, à paz, à fraternidade, ao respeito pela
vida e dignidade dos outros e assim por diante. No coração de cada cristão deve
germinar a semente dos valores do Reino de Deus, porque do coração humano brota
tudo o que é bom e mau que vemos no mundo. Temos que lutar contra a armadilha
do velho egoísmo que quer perpetuar o desamor e a falta de respeito pela
dignidade dos outros. Viver em estado permanente de conversão é a lei de
crescimento.
P. Vitus Gustama,svd
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