sexta-feira, 26 de setembro de 2014

 
ENTRE DIZER E FAZER NA VIDA DO CRISTÃO


XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM
28 de Setembro de 2014
 

Evangelho: Mt 21,28-32

Naquele tempo, Jesus disse aos sacerdotes e anciãos do povo: 28 “Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, ele disse: ‘Filho, vai trabalhar hoje na vinha!’ 29 O filho respondeu: ‘Não quero’. Mas depois mudou de opinião e foi. 30 O pai dirigiu-se ao outro filho e disse a mesma coisa. Este respondeu: ‘Sim, senhor, eu vou’. Mas não foi. 31 Qual dos dois fez a vontade do pai?” Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: “O primeiro”. Então Jesus lhes disse: “Em verdade vos digo que os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus. 32 Porque João veio até vós, num caminho de justiça, e vós não acreditastes nele. Ao contrário, os cobradores de impostos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, mesmo vendo isso, não vos arrependestes para crer nele”
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A parábola dos dois filhos tem uma função similar à parábola do filho pródigo do evangelho de Lucas (cf. Lc 15,11-32), embora cada evangelista a desenvolva diversamente. A mesma parábola também é o eco do Sermão da Montanha que enfatiza o fazer do que o dizer (Mt 7,21-23; cf. Mt 12,50;23,3-4).
  

Mt começa a parábola com a pergunta: “Que vós parece?” (v.28a). Esta pergunta é típica do evangelho de Mateus (cf. Mt 17,25;18,12;22,17;26,66). A pergunta não é mais dirigida aos discípulos, mas aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo, os mesmos interlocutores da unidade anterior (cf. Mt 21,23-27). A pergunta obriga os ouvintes a comprometerem-se e a tomarem posição. A resposta à pergunta torna-se um julgamento para eles. E no fim da parábola, mais uma vez, os mesmos interlocutores são obrigados a escolher “qual dos dois fez a vontade do pai?” (v.31). A resposta dada a estas perguntas pelos ouvintes será sua salvação ou seu juízo.
 

A parábola coloca os dois filhos em contraste:

1.   Contrasta a maneira como se dirigem ao pai

·       O primeiro se dirige ao pai de forma mal educada e grosseira e rebelde para os padrões comportamentais daquele tempo: não quero ir. Este tipo de comportamento para o padrão da época era totalmente reprovável, pois estava fora das convenções familiares e sociais. Este tipo de filho tirava a autoridade do pai da família. Todos reprovavam o comportamento do primeiro filho.

·        O segundo filho se dirige ao pai de forma delicada e polida, não sabe dizer “não”, mas desmente tudo na prática: “Eu irei, senhor”. Mas não foi.


2.   E, de modo especial, contrasta a contradição entre a palavra e a ação dos dois.  

·       O primeiro filho peca por falta de educação. Ele não admite conversa ou diálogo. Mas ele vai trabalhar.

·       O segundo, apesar de sua boa educação, apesar de seu “sim” verbal, não vai trabalhar. O pai se agrada com o “não” arrependido do primeiro filho, e não com o “sim” gentil mas mentiroso do segundo filho.
    

Os ouvintes de Jesus não tiveram dificuldade de dar uma resposta exata à pergunta de Jesus: “Qual dos dois fez a vontade do pai?”. Sem hesitarem os ouvintes responderam: o primeiro filho , isto é, aquele que falou que não iria, mas de fato foi e fez o que o pai pedia. Mas ao dar a resposta os próprios ouvintes foram colocados contra a parede e se auto condenaram.
    

A mensagem é, portanto, muito clara. Entre palavra e ação, a primazia é dada á ação. Entre intenção e ação, a primazia é dada à ação. O homem se salva não pelas palavras, intenções, palavras estéreis e descompromissadas, mas por fatos concretos e precisos.
    

O critério do agir é tão fundamental que a primeira denúncia que se fez dos escribas e fariseus é  que o agir deles era fictício: eles agiam apenas de modo aparente, faziam de conta que agiram, mas na realidade não agiram. Desse modo eles pecaram contra os seus próprios princípios.
     

Quando nós não somos fiéis à nossa palavra deixa de respeitarmos a nós mesmos e conseqüentemente aos outros e a verdade não está em nó, não somos fiéis a nós mesmos, e também aos outros. Deste jeito estamos mentindo para nós mesmos e para os outros. A mentira é a defesa fácil dos fracos, que não são capazes de assumir a responsabilidade de seus atos. Triste é que o mentiroso não somente se condena a si próprio a vergonhosas contradições, mas também priva os demais do direito que têm à verdade, semeando desconfiança entre as pessoas.
  

O fazer ou o agir é tão importante que Jesus Cristo pede aos discípulos o seguimento. Seguir a Jesus é agir com ele e como ele, acompanhá-lo no seu agir. Jesus chama os discípulos convidando-os a segui-Lo(Mt 4,19-22; 8,22; 9,9; 16,24; 19,21.27).
 

Então, o que importa não é aquele que se comporta bem que se salva, mas sim quem cumpre a vontade de Deus. O que conta diante de Deus não são as aparências, nem as boas intenções ou palavras, mas a PRÁTICA. Deus olha para o que de fato fazemos, não importa o que pensamos ou dizemos. Em Deus o homem vale pelo que faz e não pelo que fala. Neste sentido, o que importa não é a conversão externa, mas sim a atitude interior. E aquele que honra a Deus, não é aquele que observa uns ritos exteriores, mas sim aquele que põe em prática a vontade de Deus. Por isso, devemos ficar sempre atentos para que a nossa prática religiosa ou nossos ritos exteriores, não seja mais importante que nosso Deus e nosso próximo.
    

Por isso, o maior escândalo de nossos tempos é a separação da religião da vida. Reza-se, mas não se vive o que se reza. Canta-se mas não se vive o que se canta. Recebe-se a Eucaristia, mas não se vive a comunhão fraterna. Dobra-se os joelhos diante do sacrário, mas despreza-se o irmão, o corpo vivo e imagem de Cristo.
  

Numa ocasião o Papa Paulo VI disse: “O grande pecado da moderna cristandade é o vazio entre a fé e as obras. É o pecado de ser ilógico, inconsciente e infiel”. O maior escândalo de nossos tempos é a separação da religião da vida. Reza-se, mas não se vive o que se reza. Canta-se mas não se vive o que se canta. Recebe-se a Eucaristia, mas não se vive a comunhão fraterna. Dobra-se os joelhos diante do sacrário, mas despreza-se o irmão, o corpo vivo e imagem de Cristo.
   

O Evangelho de Mateus enfatiza muito a questão do AGIR. O critério definitivo para Jesus é o agir. A regra decisiva do discernimento é a distinção entre o falar e o agir. Por isso, os verdadeiros discípulos são os que agem, que praticam a vontade de Deus. Ao contrário, os falsos discípulos são aqueles que falam palavras bonitas, mas não fazem nada. Por isso, Jesus diz, no sermão do monte: “Nem todo aquele que me diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que pratica a vontade do meu Pai”(Mt 7,21). Da mesma maneira, o verdadeiro profeta se reconhece pelos frutos(Mt 7,16-20).
   

A parábola dos dois filhos é um convite para fazermos o sério exame de consciência sobre o nosso agir diário. As nossas palavras nunca podem ultrapassar o nosso agir para não sermos chamados de cristãos falsos. Se não nos convertermos continuamente, o mundo vai repetir as palavras de Mahatma Gandhi: “Eu aceito o vosso Cristo, mas não aceito o vosso cristianismo”.


Há momentos, na nossa vida, nos quais a única forma de dizer é fazer. E há também é verdade que há formas de dizer que são mais eficazes que muitas formas de fazer. Jesus, em todo caso, foi sempre orientado à prática, à construção do reino de Deus: com sua palavra, com testemunho pessoal e com ações concretas de libertação. Por isso, com Jesus tudo pode mudar para melhor. É como se nascesse de novo. Ele cura. Nas primeiras páginas do evangelho ele é chamado de “o Salvador”, o que dá a saúde de corpo e de alma. Jesus sente o sofrimento dos homens. A compaixão move seu coração. Em Jesus se vê um sentido para a dor.


Quando um cristão fizer mais o bem do que apenas falar do bem Jesus faz presente e o bem praticado faz ruído ao redor mesmo que aquele que o pratica não diga nada. O bem praticado sempre atrai parceiros. Que nossa maneira de viver possa fazer ruído não pelo mal que cometemos, mas pelo bem que praticamos silenciosamente.


O que Deus nos pede não é somente dirigir-Lhe orações, e sim realizar sua vontade cuidando de Seu povo que são seus filhos e filhas. Os fatos dão conteúdo às palavras e às orações. As palavras sem fatos ficam convertidas em algo pior que simples som: significam negar a cumprir a vontade de Deus.


Assim, diante de Deus nem conta o estar repetindo todo dia “Senhor, Senhor” (Mt 7,21), e sim cumprir Sua vontade, uma vontade que não é difícil de conhecer, pois Sua Palavra é clara e constante em nos repetir que quer direito e justiça, que quer amor e fraternidade, que quer paz e unidade entre os homens, que quer que vivamos com dignidade e que alcancemos um dia, junto a Ele, a plenitude da vida: a Vida que não conhece fim, a felicidade sem limite, a eternidade!


Estamos neste mundo com o único objetivo: fazer o bem e não deixar de fazer o bem em qualquer oportunidade. Mas é fácil ser pego na armadilha de pensar que o dia de hoje não importa muito, pois ainda temos outros dias pela frente. Mas uma grande vida não é nada mais que uma seqüência de dias bem vividos, amarrados juntos como um belo colar de pérolas do bem praticado. Cada dia é importante e contribui para a qualidade do resultado final. O passado se foi, o futuro só existe na nossa imaginação e, portanto, o dia de hoje é tudo o que cada um tem. Precisamos usá-lo sabiamente para o bem. Nossa vida não é um ensaio. As oportunidades perdidas raramente voltam.


Mas precisamos superar permanentemente a tentação contra a egolatria: fazer as coisas em função do próprio ego e não em função do bem de todos. Por isso, precisamos olhar para Jesus e olhar para nossa vida ou nossa maneira de viver para saber onde estamos a fim de saber se estamos no caminho de Cristo ou não.


A pergunta de Jesus “O que vos parece?” é dirigida a cada um de nós. Você se parece com qual dos dois filhos? O que Jesus não aceita é a atitude hipócrita e santarrão dos que se crêem melhores do que os demais sem necessidade de mudança alguma. Prefere o longo caminho, cheio de liberdade e de fracassos, de buscas de novos horizontes a causa de seu inconformismo com a vida que os rodeia à comodidade dos que dizem “sim” a tudo, mas não se comprometem com nada.

P. Vitus Gustama,svd

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