NOSSA SENHORA DAS DORES
Segunda-Feira, 15 de Setembro de 2014
Evangelho: Jo 19, 25-27
Naquele tempo,25 perto da cruz de
Jesus, estavam de pé a sua mãe, a irmã da sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria
Madalena. 26 Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava,
disse à mãe: “Mulher, este é o teu filho”. 27 Depois disse ao discípulo: “Esta
é a tua mãe”. Daquela hora em diante, o discípulo a acolheu consigo.
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“As provações que suportamos podem e devem
revelar-nos quais são as nossas forças. Você possui forças que provavelmente
desconhece. Encontre a que necessita nesse momento. Use-a!” (Epicteto)
No dia anterior celebramos a festa
da Exaltação da Santa Cruz (14/9). Hoje (15/9) nos encontramos com Maria das
Dores, mãe de Jesus. Os dois acontecimentos- Exaltação da Santa Cruz e Maria
das Dores- nos mostram a união profunda entre Jesus, como filho, e Maria como
mãe até as ultimas conseqüências. Este fato, na verdade, nós experimentamos no
nosso cotidiano. Ninguém fica feliz sozinho como também ninguém sofre sozinho,
pois não somente vivemos, mas convivemos. A felicidade de um filho é a felicidade
de uma mãe ou de um pai. O sofrimento de um filho é o sofrimento de uma mãe ou
de um pai. Diante de um filho sofredor uma mãe ou um pai vai procurar até os
últimos recursos de sua vida a fim de que o filho volte a ser recuperado. Mesmo
que se sinta impotente diante da dor do filho, uma mãe ou pai procura outro
recurso sobre-humano: a oração. É dificilmente encontrar uma mãe ou um pai que
fuja da dor de um filho. Mãe e pai sofrem com o filho, pois para uma mãe/um pai,
o filho ou a filha é ela/ele.
Maria se encontra ao pé da cruz de
Jesus, seu filho. A dor é a companheira inseparável de nosso peregrinar durante
esta vida terrena. Ela aparece pelo caminho de nossa existência e se põe ao
nosso lado. Cedo ou tarde ela vai bater na nossa porta. Ela não nos pede
permissão para entrar. Ela entra e sai como se fosse um dos membros de nossa
família.
A vida de Maria esteve profundamente
marcada pela dor e pela fé em Deus. Maria experimentou a dor diante das
palavras de Simeão (cf. Lc 2,34-35). Mas no seu coração não mora nenhum
desespero. Na profundeza de sua alma reina a paz e a esperança em Deus. Em seu
coração volta a ressoar com força e segurança seu Fiat cheio de amor na
anunciação (Lc 1,38).
Maria experimentou a dor do assassinato
dos inocentes por Herodes, o Grande, pois Maria também era mãe (cf. Mt 2,16-18). Seguramente Maria conhecia
muitos desses inocentes sacrificados em nome da crueldade de um poder sem
limites de Herodes. Certamente Maria rezava por esses inocentes e sobretudo,
por suas mães inconsoláveis. Nosso coração há de mostrar-se sensível ao
sofrimento alheio, compadecer-se para socorrer, pelo menos para consolar, e
rezar para aliviar.
Maria experimentou a dor da perda do
filho de 12 anos de idade em Jerusalém (cf. Lc
2,41-52). “Onde ele está?
Está em perigo? Alguém o raptou ou o matou?”. Tudo isso passava na
cabeça de Maria. Qualquer mãe sofre pela perda de um filho ou de uma filha. E
como sofre! Quantas mães continuam a esperar a volta de um filho perdido e
continuam a esperar sua volta. Maria sofria durante três dias da procura de seu
filho, Jesus. Mas como uma mulher “cheia de graça” (Lc 1,28), com certeza,
acreditava em Deus apesar de tudo. Ela quer entender o significado das palavras
de seu filho: “Por que me procurais?” e tenta meditar essas mesmas palavras no
seu coração. Nem sempre podemos entender o significado de cada acontecimento ou
de cada experiência. Muitas vezes, depois de algum tempo é que podemos entender
seu significado.
Maria também experimentou a dor da
separação e da solidão. Chegou o dia de despedida depois de passar trinta anos
juntos: mãe e filho! Trinta anos de experiências inesquecíveis vividos num
ambiente inacreditavelmente divino e incrivelmente humano em Nazaré. Trinta
anos de silêncio, de trabalho, de oração, de alegria, de entrega mútua. Trinta
anos de uma família unida e maravilhosa. Abundantes e intensos sentimentos.
“Adeus, filho....! Adeus mãe...!”. Todos nós intuímos o que passa pelo coração
da mãe em uma despedida assim. Já vimos nos olhos de nossa mãe sua reação imediata ao sentir este tipo de
experiência. Maria experimentou a solidão da ausência de seu filho. A solidão é
um dos sofrimentos bastante profundos dos seres humanos, pois nascemos para
viver em companhia dos demais. Como dura foi a solidão de Maria. Maria também
soube viver esse sofrimento da separação e da solidão com amor, com fé, com
serenidade interior. Ofereceu esse momento pelo seu filho que começou sua vida
pública. Necessitamos, como Maria, ser fortes na solidão e nas despedidas.
Fortes pelo amor, fortes pela fé e pela confiança em Deus e fortes pela oração.
Maria também experimentou a dor da
paixão do filho (via crucis). Ela viu o filho carregar a cruz para o Calvário.
Que momento tão duro para uma mãe ver o filho sofrer assim! Ao mesmo tempo, que
fortaleza interior que Maria tem nesse momento! Muitos dos seus discípulos
abandonaram Jesus, seu mestre. Mas a mãe jamais abandonaria seu filho no seu
sofrimento. Ali ela estava, perto de seu filho, ao pé da cruz. Os dois se olham
no silêncio de fortaleza. A nossa vida é, às vezes, uma via crucis. Busquemos o
olhar amoroso de Maria. “A suave Mãe nos consola, transforma nossa tristeza em
alegria e nos fortalece para carregar nossas cruzes” (Luis Monfort Grignion).
Por fim, Maria experimentou a dor da
morte de seu filho. Terrível episódio! É uma mãe que vê seu filho morrer
terrivelmente na cruz. Com o coração sangrento, de pé diante da cruz, Maria
repetiu mais uma vez, sem palavras, na mais pura das obediências: “Faça-se a
Tua vontade!”.
Mas crendo, confiando e amando,
Maria soube esperar a maior alegria de sua vida: a ressurreição. A volta de seu
filho na gloria da ressurreição.
“Perto da cruz de Jesus, estava de
pé a sua mãe...” (Jo 19,25). Esta presença significa fidelidade até as
ultimas conseqüências, até a morte. Nós nos acostumamos ver em Maria, sobretudo
na Semana Santa, como a Virgem dolorosa. No entanto, a tradição cristã nos
recorda que Maria é uma mãe valente que se mantém firme de pé junto à cruz.
Isto quer dizer que ela não se deixa derrubar pela dor. Ela está de pé.
Para estarmos de pé diante da vida com todos os seus acontecimentos e
contratempos, temos que nos habituar a ficarmos de joelho diante de Deus, pois
nossa verdadeira força está em Deus.
Maria é protótipo da atitude de
valor em meio ao sofrimento. Mas não se trata de qualquer valor. Trata-se do
valor sustentado pela esperança. O coração de Maria nunca fica vazio de
esperança. Por isso, a comunidade cristã recorda Maria neste dia como a mãe
fiel que acompanha seu Filho até a morte na cruz, ainda que esteja no meio da
máxima dor.
Nós cristãos devemos ser pessoas de
esperança e pregadores de esperança. Ao entregar sua mãe para nós como nossa
mãe, através de São João, Jesus quer que devamos ter os mesmos sentimentos de Maria.
Com Maria podemos confiar sempre em Deus que nos ama, que nos anuncia, com a
ressurreição de seu Filho, nossa própria ressurreição. Também nosso espírito
pode se alegrar pela esperança que Deus da vida sustenta para nós, ainda que
estejamos cercados pela dor.
“Perto da cruz de
Jesus, estava de pé a sua mãe...”. Maria não gritou. Maria não atraiu
a atenção para si. Maria estava lá, de pé e não prostrada.Ela estava de pé
perto da cruz olhando para Jesus, seu filho. Maria nos ensina a nos esquecermos
totalmente de nós para ter um olhar mais atento para o outro numa atitude de um
puro acolhimento do sofrimento do outro. Esta atitude se chama compaixão. Compadecer-se
não é apiedar-se pelo sofrimento do outro. É sentir com o outro a mesma dor
para depois tomar atitude para aliviar essa dor mesmo que seja uma parte dela.
Jesus disse à mãe:
“Mulher, este é o teu filho”. Depois disse ao discípulo: “Esta é a tua mãe”.
Daquela hora em diante, o discípulo a acolheu consigo”. A mãe de Jesus será
sempre mãe e sempre mulher. Essa maternidade jamais será reduzida a um
personagem histórico. Maria continua sendo mãe para todos os que o discípulo amado
representa. É a mãe de toda comunidade de fé e de todos os discípulos amados de
Jesus, pois Maria e a pequena comunidade de discípulos juntamente ao discípulo amado
representam todos os que seguem a Jesus até o fim, até perto da cruz,
demonstrando coragem e fidelidade que nenhum dos servidores de Jesus
manifestou.
Maria nos ensina que, para quem põe
sua confiança em Deus e deixa que seja o Espírito divino que conduz sua vida é
possível estar de pé diante da cruz encontrada no caminho desta vida ou a cruz
fruto da fidelidade aos valores cristãos vividos até as ultimas conseqüências.
A verdadeira dor cristã é o verdadeiro preço do amor aos demais, como Jesus que
foi crucificado por causa do amor. O verdadeiro cristão jamais pode ser o
causador da dor para os outros. O verdadeiro cristão jamais envenena o ambiente.
O verdadeiro cristão jamais pode ser pregador da desgraça nem pode causar a
angústia para os demais. O cristão é chamado a ser compassivo, isto é aquele
que alivia a dor dos outros. Infelizmente, muitos que se dizem cristãos, que
rezam supostamente, ao sair da igreja, se tornam espalhadores das coisas
negativas na esquina, na rua, no salão de beleza, no grupo, no trabalho, em
casa, em vez de serem proclamadores da esperança, de boa notícia e do amor.
Quem prega ou espalha coisas negativas vai atrair mais coisas negativas para
sua vida e para toda sua família. Quem prega a bênção, vai atrair mais as
bênçãos para sua vida e para sua família. Ser cristão, a exemplo de Maria, é
gestar Jesus no coração para dá-Lo aos irmãos.
P.Vitus Gustama,svd
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