domingo, 28 de setembro de 2014

 

TER NOME ESCRITO NO CÉU
 
Sábado Da XXVI Semana Comum
04 de Outubro de 2014
 
FESTA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS
 
 

Evangelho: Lc 10,17-24

Naquele tempo, 17 os setenta e dois voltaram muito contentes, dizendo: “Senhor, até os demônios nos obedeceram por causa do teu nome”. 18 Jesus respondeu: “Eu vi Satanás cair do céu, como um relâmpago. 19 Eu vos dei o poder de pisar em cima de cobras e escorpiões e sobre toda a força do inimigo. E nada vos poderá fazer mal. 20 Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem. Antes, ficai alegres porque vossos nomes estão escritos no céu”. 21 Naquele momento, Jesus exultou no Espírito Santo e disse: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. 22 Tudo me foi entregue pelo meu Pai. Ninguém conhece quem é o Filho, a não ser o Pai; e ninguém conhece quem é o Pai, a não ser o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”. 23 Jesus voltou-se para os discípulos e disse-lhes em particular: “Felizes os olhos que veem o que vós vedes! 24 Pois eu vos digo que muitos profetas e reis quiseram ver o que estais vendo, e não puderam ver; quiseram ouvir o que estais ouvindo, e não puderam ouvir”.

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FRANCISCO DE ASSIS E O RESPEITO PELA NATUREZA
No dia 04 de outubro a Igreja celebra a festa de Sao Francisco de Assis. Nasceu em Assis (Itália) em 1182. Era filho de um rico comerciante de tecidos (Pedro Bernardone). Batizado com o nome de Giovanni di Pietro Bernardone. Porém, como seu pai era comerciante de tecidos preciosos comprados na França, trocaram-lhe o seu nome para Francesco, ou seja, "o francês".


Francisco gostava de festas em companhia de outros jovens e foi coroado "rei da festa".


No outono de 1205, Francisco em oração na capelinha de São Damião, escuta do grande Crucificado uma ordem: "Francisco, vai e repara a minha casa que está para ruir". Esta "minha casa" era a Igreja de então. No entento, Francisco entendeu como sendo a própria capela de São Damião que estava necessitando de reparos. E ele começou a restaurá-la.


O conflito com seu pai começou quando Francisco distribuiu para os pobres tanto dinheiro como tecidos. Todos achavam, inclusive seus colegas jovens de festas, que Francisco ou um covarde, ou um louco, ou um jovem que fora muito mimado.


Um dia, indo para Roma, ao encontrar com um pobre, Francisco trocou com ele as suas ricas roupas e exprimentou o que é a vida de pobre. E ele disse aos pais e amigos: "Estou começando a enxergar uma luz no fundo do túnel".


Com seus 25 anos Francisco abandonou sua casa (em estado de nudez) para seguir a Jesus e começou a reforma da "Casa" de Cristo, a Igreja. Pelo testemunho de sua vida muitos jovens começaram a fazer parte do grupo de Francisco. O grupo vivia de esmolas e de seu trabalho, sem receber dinheiro. E começaram a sair pelo mundo afora, de dois em dois para pregar o Evangelho. E o número do grupo foi aumentando. Francisco, sem querer fundar Ordem religosa, resolveu ir a Roma para pedir ao Papa uma aprovação de seu tipo de vida. Em maio de 1210 o Papa Inocêncio III aprovou o pedido. No dia 3 de Outubro d 1226 faleceu. Foi canonizado no dia 6 de julho de 1228.

 
Os contemporâneos de São Francisco falavam com freqüência do carinho de Francisco de Assis pelos animais e do poder que tinha sobre eles. Por exemplo, é a famosa repreensão que dirigiu às andorinhas quando estava pregando em Alviano: “Irmãs andorinhas, agora é minha vez para falar. Vocês cantaram bastante!”. Famosa também são as anedotas sobre os passarinhos que vinham escutar Francisco de Assis quando cantava as grandezas do Criador, do coelhinho que não queria separar-se dele no Lago Trasimeno e do lobo amansado (domesticado) pelo São Francisco.
São Francisco trata tudo como irmão e irmã. Por que ele chegou a esta compreensão e a este tipo de tratamento? A resposta é: Porque ele tem uma fascinante experiência de Deus. Qual é esta experiência?

 
Esta experiência consiste, antes de tudo, numa nova aproximação de Deus, num olhar novo sobre Deus. O Deus que São Francisco descobre não é o Deus dos senhores da Igreja, nem o Deus das guerras santas e das cruzadas. Nem sequer o Senhor benfeitor que de sua posição dominante derrama seus bens para os fieis subordinados. Segundo São Francisco, Deus deixou sua posição dominante. “O Senhor da majestade se fez irmão nosso”, disse São Francisco de Assis (2 Cel 198); se fez um de nós, o mais pobre dentre nós; caminhou conosco. Olhem, irmãos, exclamem, a humildade de Deus...” (CtaO 28). Essa visão encheu Francisco de Assis de grande felicidade. Por isso, ele gostava de repetir o Sl 68,33: “Ó, vós, humildes, olhai e alegrai-vos!”. E ao rezar este versículo, Francisco exultava de alegria porque não somente acreditava, mas o experimentava.


 
Esta humanidade de Deus não era para Francisco um simples objeto de devoção, mas inspirava todo seu comportamento, todas as suas relações; era acolhida como um novo princípio de sociedade.

 
Deus vem a nós pelos caminhos da humanidade e por nossa parte, somente podemos ir a Ele pelos caminhos da humanidade. O próximo é a passagem obrigatória para chegar até Deus. Para São Francisco Deus revela verdadeiramente Seu rosto somente onde se instaura uma comunidade humana fraterna, onde as relações de dominação são extintas. Ele escreveu: “Nunca devemos desejar estar acima dos outros e sim devemos ser servos... aqueles e aquelas que cumprirem essas coisas e perseverarem até o fim, o Espírito Santo pousará e fará neles habitação e morada (2CtaF 47-48).

 
 
Esse novo olhar sobre Deus é acompanhado de uma nova visão do mundo. Francisco aprendeu a olhar para os seres e as coisas deixando de lado toda vontade de apropriação e de dominação. Ele olhava tudo, não em relação a seus interesses ou suas ambições e sim como criaturas de Deus, digna de amizade. Pela nova visão sobre Deus (humanidade de Deus) Ele descobriu o esplendor e a profunda unidade das criaturas.

 
 
Esta fascinante experiência do mundo, a partir da fascinante experiência de Deus, esta alegria pura de existir em meio das coisas, Francisco a expressou com muita precisão no seu Canto do irmão Sol: “Louvado sejas, meu Senhor, com todas as criaturas, especialmente o senhor irmão Sol, que clareia o dia e com sua luz nos ilumina. E ele é belo e radiante, com grande esplendor: de Ti, Altíssimo, é imagem. Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã Lua e as estrelas, que no céu formastes claras e preciosas e belas. Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão Vento, pelo ar ou pelo nublado ou sereno, e todo o tempo, pelo qual às criaturas Tu dás sustento. Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água que é muito útil e humilde, e preciosa e casta. Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão Fogo, pelo qual iluminas a noite, e ele é belo e jucundo e vigoroso e forte. Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã a mãe Terra, que nos sustenta e governa, e produz frutos diversos e coloridas flores e ervas.

 
Este Cântico manifesta uma adesão sem reservas, entusiasta ao mundo, à mesma matéria (somos também, e voltaremos ao ). É um sim ao universo, uma afirmação do valor dos seres e das coisas, tal como os recebemos das mãos do Criador. Por amor a Deus que se humaniza, Francisco fraterniza com todas as criaturas, escuta sua voz, admira sua formosura. E com elas ele louva ao Altíssimo Deus. Ele chama a terra de “nossa mãe terra”. É aquela que gera, que cuida com ternura, que conserva, que não deixa faltar nada e que nos abriga. A mãe terra precisa ser tratada com carinho, com respeito conservando-a intacta e pura como a recebemos das mãos do Criador.

 
Diante do mundo que tem como paixão o dinheiro este canto do irmão Sol se eleva como um protesto e uma chamada de atenção. A fraternidade universal que canta Francisco de Assis é uma tarefa que temos que realizar e construir, pois nisto está o sentido do mundo. Fraternizar com todas as criaturas, como fez Francisco de Assis significa converter toda a hostilidade em uma fraternidade onde tudo e todos são tratados com respeito e com cuidado carinhoso.

 
 
No mínimo, cada domingo, renovamos esse nosso compromisso quando professamos nosso Credo onde encontra a seguinte frase: “Creio em Deus, Pai todo poderoso. Criador do céu e da terra”. Se professamos que Deus é o Criador da terra, logo temos que tratar a natureza com respeito, pois é de Deus. Se uma pessoa construir uma casa com muito suor e de repente outra pessoa derruba, gratuitamente, a mesma, qual será a reação do dono da casa?
 
 
Somos também da natureza, pois fomos feitos de barro (Gn 2,7). Agredir a Terra é agredir a nós mesmos. Quando um dia não sobrar nenhuma árvore, nenhum pássaro, nenhum peixe ou animal, nenhuma planta, nenhuma gota de água nesta Terra, todos vão entender que o dinheiro não pode ser comido e que o ouro e pedras preciosas não podem ser comidos. Assim desaparecerá o ser humano da face da terra.
 
 
A degradação crescente de nossa mãe terra, que é nossa casa comum é o fruto da falta de respeito ao Criador. Cuidar e saber cuidar faz parte do amor e do respeito. Por isso, faz parte do ser do cristão, pois ele não somente acredita em Deus, mas em Deus de amor (1Jo 4,8.16; Jo 3,16) cujo mandamento é o amor (Jo 13,34-35; 15,12).
 
P. Vitus Gustama,svd
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O texto do evangelho de hoje se encontra no contexto da volta dos setenta (e dois) discípulos da missão que o Senhor lhes tinha confiado anteriormente (Lc 10,1-12). Os discípulos voltaram da missão alegres, entusiasmados, empolgados por ter sido capazes de libertar os homens do mal, moral e físico pelo uso que fizeram do poder messiânico (o nome) de Jesus: “Senhor, até os demônios nos obedeceram por causa do teu nome”, relataram os discípulos a Jesus.  Todas as forças do mal considerados como inimigos de Deus e dos seres humanos tinham sido desarticulados pelos discípulos através do uso do poder recebido de Jesus. Isto significa que o poder sobre o mal que os discípulos têm é o fruto de sua comunhão plena com Jesus. Estar em plena comunhão com Jesus significa estar em pleno poder de Jesus, poder que liberta e não escraviza. Somente a fé em Jesus, isto é, estar nele e com ele, é que se pode derrotar qualquer poder que escraviza.


E Jesus lhes explica que uma vitória semelhante é o sinal da derrota das forças do mal que dominavam os homens até então: “Eu vi satanás cair do céu como um relâmpago” (Lc 10,18). Trata-se de uma queda brusca e rápida (relâmpago) e de uma grande altura (do céu). Altura de onde inicia a queda de uma coisa ou de uma pessoa determina o impacto sobre o que caiu ao chegar à terra.


Por que caiu do céu (satanás caiu do céu)? O tema da queda de satanás do céu pertence ao mito apocalíptico judaico, em que se alude à presença de satanás sobre o céu. Certamente, segundo esse mito, seu lugar e sua função se diferenciam do lugar e da função de Deus, porém pensa-se que satanás põe o trono nas esferas superiores e domina desde ali toda a marcha dos homens sobre o mundo. Mas a chegada de Jesus abole o estado de escravidão que permite o homem ter acesso à liberdade. A presença de Jesus é a derrota do poder do mal. Basta estar com Jesus e estar nele, o triunfo do poder do mal (satanás) termina seu reinado.


Mas para não cair na ilusão do poder e na idéia de domínio, para não ficar apenas na empolgação, Jesus alerta aos discípulos que o mais importante é ter os nomes escritos no céu. Ter nome escrito no céu é mais importante do que qualquer poder ou domínio na terra. Esta afirmação nos leva ao Livro do Êxodo onde encontramos uma explicação: somente são aqueles que participam do Reino de Deus e vivem conforme as suas exigências têm nome escrito no céu (cf. Ex 32,32). Não há nada que seja melhor para um ser humano do que ter seu nome escrito no céu, no livro da vida: “O vencedor será assim revestido de vestes brancas. Jamais apagarei o seu nome do livro da vida, e o proclamarei diante do meu Pai e dos seus anjos”, diz-nos o Livro de Apocalipse de São João (Ap 3,5). Esta é a grande mensagem do evangelho de hoje. Em outras palavras, os discípulos devem ficar alegres por pertencer a Deus ou participar da grande família do Reino (nome escrito no céu), por estar a serviço de Deus (libertar os homens da escravidão do mal), por gozar da proteção divina (nenhum mal consegue vencê-los), e por ter neles o germe da vida eterna que acaba com as forças da morte.


À luz desta experiência se situa a função dos discípulos missionários. Sua vitória sobre satanás se traduz no fato de que são capazes de vencer (superar) o mal do mundo (Lc 10,19) desde que mantinham sua pertença ao Reino e usem o poder conferido para libertar os outros e não para escravizá-los. Por isso, são declarados felizes: “Felizes os olhos que vêem o que vós vedes. Pois eu vos digo que muitos profetas e reis quiseram ver o que estais vendo e não puderam ver; quiseram ouvir o que estais ouvindo e não puderam ouvir” (Lc 10,23-24). Os discípulos são felizes porque estão experimentando aquela plenitude messiânica que os antigos profetas e os reis de Israel sonhavam experimentar. No entanto, mais uma vez, sua autentica grandeza está no fato de seu encontro pessoal com Deus: seus nomes pertencem ao Reino dos céus (Lc 10,20).


Quem mantiver sua pertença à Família de Deus não estará fadado a ser escravo do poder do mal, mas será revestido do poder de Deus para superar todo mal no mundo e libertar os outros escravizados pelo mal. E quem mantiver unido a Deus, mesmo que seja frágil, ele será um instrumento eficaz nas mãos de Deus para pôr fim ao reino do mal e fazer triunfar o amor fraterna, a solidariedade fraterna, a bondade, compaixão e assim por diante. O espaço totalmente ocupado pelo bem, o mal não tem vez. Quem se mantiver assim até o fim, seu nome estará escrito no céu.


Que seu nome e meu nome estejam escritos no livro da vida, no céu. Para isso, é preciso que aprendamos a ser pequenos e simples diante de Deus. Os pequenos e os simples se mantém abertos ao mistério de Deus e compreendem a verdade de Jesus Cristo: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos” (Lc 10,21ª). A missão se estrutura como expansão do amor em que se unem Deus e o Cristo (Filho). Nesse amor, revelado aos pequenos e escondido para todos os grandes deste mundo, se fundamenta a derrota das forças destruidoras da história. “Com o amor não somente avanço, mas vôo. Um só ato de amor nos fará conhecer melhor Jesus. O amor nos aproximará dele durante toda a eternidade. Eu não conheço outro meio para chegar à perfeição a não ser o amor”, dizia Santa Tereza do Menino Jesus e da Sagrada Face, cuja festa é celebrada no dia 01 de outubro.

P. Vitus Gustama,svd

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