VIVER
FAZENDO O BEM E SACRIFICANDO-SE
Sábado
da XXV Semana Comum
27 de Setembro de 2014
Evangelho: Lc 9,
43-45
Naquele tempo, 43bTodos estavam admirados
com todas as coisas que Jesus fazia. Então Jesus disse a seus discípulos: 44“Prestai
bem atenção às palavras que vou dizer: O Filho do Homem vai ser entregue nas
mãos dos homens”. 45Mas os discípulos não compreendiam o que
Jesus dizia. O sentido lhes ficava escondido, de modo que não podiam entender;
e eles tinham medo de fazer perguntas sobre o assunto.
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Nós nos encontramos no quadro de
instruções finais de Jesus na Galiléia. Jesus mostra claramente aqui o sentido
da própria missão e a daqueles que querem segui-Lo. Segundo
o plano do seu evangelho, o evangelista Lucas termina assim as atividades de
Jesus na Galiléia (Lc 4,14-9,50). Daqui em diante Jesus vai começar seu caminho
ou seu êxodo para Jerusalém onde ele será crucificado, morto e glorificado.
“O Filho do Homem vai ser
entregue nas mãos dos homens”. O título “Filho do Homem” se encontra seu
sentido em Dn 7,13-14 e “vai ser entregue” em Is 53,2-12. O sofrimento de Jesus
é causado pelos homens do templo e do poder.
Para o evangelista Lucas, este é o
segundo anúncio da Paixão de Jesus e o situa no momento em que “Todos
estavam admirados com todas as coisas que Jesus fazia”. Esta admiração
surge no momento em que Jesus curou um menino da epilepsia (Lc 9,37-43) e fez
outros sinais. E Lucas registrou que esse menino era filho único. Esse filho
único se refere a Jesus, Filho único do Pai (cf. Mt 21,33-46). Através desse
menino Jesus está falando de Si próprio. A cura do menino antecede o segundo
anúncio da Paixão do Filho único do Pai.
Neste anúncio Jesus quer revelar que
sua vida é um sacrifício para o bem de todos. Jesus pensa somente na salvação sem
fugir das conseqüências trágicas. Ele se sacrifica como uma vela que se consome
aos poucos iluminando seu redor.
Lucas nos relatou que os discípulos
não entenderam o sentido desse anúncio. Em outras ocasiões os evangelistas
descrevem os motivos dessa incompreensão: os seguidores de Jesus tinham em sua
cabeça um messianismo político, com vantagens materiais para eles mesmos, e
discutiam sobre quem ia ocupar os postos de honra e quem ficaria do lado
direito ou do lado esquerdo de Jesus. A cruz não entrava em seus planos. Eles
queriam seguir a Jesus pelas próprias vantagens e não pela vida dedicada em
prol da salvação de todos.
Os discípulos não entendem que este
é o maior ato de amor e o maior sentido da vida. O resultado dessa
incompreensão será contado no seguinte episódio em que haverá a disputa sobre a
primazia no grupo (Lc 9,46-48).
“Todos estavam admirados com
todas as coisas que Jesus fazia”. Jesus desperta realmente admiração
por seus gestos milagreiros e pela profundidade de suas palavras. Deste tipo de
Jesus gostamos também e não somente os primeiros discípulos de Jesus. Mas não
entendemos, como os primeiros discípulos, o Jesus Servidor, o Jesus que lava os
pés dos discípulos, o Jesus que se entregou à morte para salvar a humanidade, o
Jesus que se aproxima do pecador para dialogar, o Jesus que faz refeição com os
pobres e pecadores. Queremos apenas o consolo e o prêmio e não o sacrifício e a
renúncia. Preferiríamos que Jesus não nos dissesse: “Quem quer me seguir
renuncie a si mesmo, tome sua cruz de cada dia e me siga”.
Mas ser seguidor de Jesus pede
radicalidade e não podemos crer num Jesus que O fazemos a nossa medida. Ser
colaborador de Jesus na salvação do mundo exige seguir Seu mesmo caminho que
passa através da cruz e da entrega. É sofrer com Jesus para salvar o mundo.
Vale a pena cada um fazer um exame
sério de consciência sobre o texto do evangelho de hoje a partir da vocação e
da função que cada um tem na Igreja ou em uma comunidade. Como sacerdote ou
religioso/ religiosa, qual meu motivo para ser sacerdote ou para ser
religioso/religiosa? Será que eu procuro a vocação religiosa e sacerdotal em
função da segurança institucional e não como paixão pela vida de Cristo
dedicada pela salvação de todos? Será que o pensamento de querer ser sacerdote
ou religioso (a) carreirista tem como motor da minha ambição? Como leigo ou
leiga, qual meu motivo verdadeiro para trabalhar na minha comunidade? Há alguma
vantagem pessoal escondida atrás dessa atividade, ou por que eu quero ser outro
Cristo na minha comunidade? Mas será que eu levo a sério o motivo de ser outro
Cristo com todas as suas conseqüências na minha comunidade?
É preciso que não tenhamos medo de
nos gastar pelas causas e pelos grandes ideais de Jesus, pois por este caminho é
que haverá a vida glorificada, a vida ressuscitada. Como cristãos, não podemos
viver e conviver inutilmente nem podemos, conseqüentemente, morrer inutilmente.
A vida dedicada pelo bem de todos jamais morre. É estar com Cristo. E estar com
Cristo significa não parar de existir. Este é o ideal do
ser do cristão.
Creio que uma vida só pode chegar à
sua plenitude, se a enchermos de uma série de certezas ou convicções profundas.
No fundo tudo se reduz a uma questão de amor: amar e ser amado. Do contrário,
somente há sempre o mesmo resultado: destruição, sofrimento, opressão,
injustiça, deslealdade, traição, exploração e assim por diante. Uma vida significativa
é feita de uma série de pequenos atos diários de decência e bondade, que quando
somados no final, resultam, paradoxalmente, em algo grandioso. Pela prática de
atos justos, aprendemos a ser justos; pela prática de atos de autocontrole, aprendemos
a ter autocontrole; e pela prática de atos de coragem, chegaremos a ser corajosos. A nossa vida relativamente curta, neste mundo, é
apenas faísca na tela da eternidade. Jesus viveu mais ou menos apenas 33 anos
de vida. No entanto ele conseguiu influenciar o mundo inteiro. A vida passa, pois há um tempo para cada coisa. Você já imaginou que quanta coisa boa que você
poderia fazer agora mesmo em favor da humanidade? Isto é seu tempo de milagres.
E você pode, independentemente de sua idade, etnia, profissão e religião.
Não se arrependa por você ter dado o
melhor de si, mesmo que você sofra algum desentendimento ou alguma ofensa por
ter feito uma coisa boa na sua vida. Agindo assim, sua vida se transformará. Se
você não se impuser à vida, ela se imporá a você. Lembre-se de que os dias
transformam-se em semanas, as semanas em meses e os meses em anos. Quando menos
se espera, tudo chega ao fim, e você se vê sem nada além de um coração
ressentido por uma vida vivida pela metade. Comece a ser a pessoa que você realmente
é, fazendo o possível para enriquecer o mundo à sua volta. A bondade é
simplesmente o aluguel que devemos pagar pelo espaço que ocupamos neste planeta.
P. Vitus Gustama,svd
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