quarta-feira, 24 de setembro de 2014

 
VIVER FAZENDO O BEM E SACRIFICANDO-SE

Sábado da XXV Semana Comum
27 de Setembro de 2014
 

Evangelho: Lc 9, 43-45

Naquele tempo, 43bTodos estavam admirados com todas as coisas que Jesus fazia. Então Jesus disse a seus discípulos: 44“Prestai bem atenção às palavras que vou dizer: O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens”. 45Mas os discípulos não compreendiam o que Jesus dizia. O sentido lhes ficava escondido, de modo que não podiam entender; e eles tinham medo de fazer perguntas sobre o assunto.
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Nós nos encontramos no quadro de instruções finais de Jesus na Galiléia. Jesus mostra claramente aqui o sentido da própria missão e a daqueles que querem segui-Lo. Segundo o plano do seu evangelho, o evangelista Lucas termina assim as atividades de Jesus na Galiléia (Lc 4,14-9,50). Daqui em diante Jesus vai começar seu caminho ou seu êxodo para Jerusalém onde ele será crucificado, morto e glorificado.


O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens”. O título “Filho do Homem” se encontra seu sentido em Dn 7,13-14 e “vai ser entregue” em Is 53,2-12. O sofrimento de Jesus é causado pelos homens do templo e do poder.


Para o evangelista Lucas, este é o segundo anúncio da Paixão de Jesus e o situa no momento em que “Todos estavam admirados com todas as coisas que Jesus fazia”. Esta admiração surge no momento em que Jesus curou um menino da epilepsia (Lc 9,37-43) e fez outros sinais. E Lucas registrou que esse menino era filho único. Esse filho único se refere a Jesus, Filho único do Pai (cf. Mt 21,33-46). Através desse menino Jesus está falando de Si próprio. A cura do menino antecede o segundo anúncio da Paixão do Filho único do Pai.


Neste anúncio Jesus quer revelar que sua vida é um sacrifício para o bem de todos. Jesus pensa somente na salvação sem fugir das conseqüências trágicas. Ele se sacrifica como uma vela que se consome aos poucos iluminando seu redor.


Lucas nos relatou que os discípulos não entenderam o sentido desse anúncio. Em outras ocasiões os evangelistas descrevem os motivos dessa incompreensão: os seguidores de Jesus tinham em sua cabeça um messianismo político, com vantagens materiais para eles mesmos, e discutiam sobre quem ia ocupar os postos de honra e quem ficaria do lado direito ou do lado esquerdo de Jesus. A cruz não entrava em seus planos. Eles queriam seguir a Jesus pelas próprias vantagens e não pela vida dedicada em prol da salvação de todos.


Os discípulos não entendem que este é o maior ato de amor e o maior sentido da vida. O resultado dessa incompreensão será contado no seguinte episódio em que haverá a disputa sobre a primazia no grupo (Lc 9,46-48).


Todos estavam admirados com todas as coisas que Jesus fazia”. Jesus desperta realmente admiração por seus gestos milagreiros e pela profundidade de suas palavras. Deste tipo de Jesus gostamos também e não somente os primeiros discípulos de Jesus. Mas não entendemos, como os primeiros discípulos, o Jesus Servidor, o Jesus que lava os pés dos discípulos, o Jesus que se entregou à morte para salvar a humanidade, o Jesus que se aproxima do pecador para dialogar, o Jesus que faz refeição com os pobres e pecadores. Queremos apenas o consolo e o prêmio e não o sacrifício e a renúncia. Preferiríamos que Jesus não nos dissesse: “Quem quer me seguir renuncie a si mesmo, tome sua cruz de cada dia e me siga”.


Mas ser seguidor de Jesus pede radicalidade e não podemos crer num Jesus que O fazemos a nossa medida. Ser colaborador de Jesus na salvação do mundo exige seguir Seu mesmo caminho que passa através da cruz e da entrega. É sofrer com Jesus para salvar o mundo.


Vale a pena cada um fazer um exame sério de consciência sobre o texto do evangelho de hoje a partir da vocação e da função que cada um tem na Igreja ou em uma comunidade. Como sacerdote ou religioso/ religiosa, qual meu motivo para ser sacerdote ou para ser religioso/religiosa? Será que eu procuro a vocação religiosa e sacerdotal em função da segurança institucional e não como paixão pela vida de Cristo dedicada pela salvação de todos? Será que o pensamento de querer ser sacerdote ou religioso (a) carreirista tem como motor da minha ambição? Como leigo ou leiga, qual meu motivo verdadeiro para trabalhar na minha comunidade? Há alguma vantagem pessoal escondida atrás dessa atividade, ou por que eu quero ser outro Cristo na minha comunidade? Mas será que eu levo a sério o motivo de ser outro Cristo com todas as suas conseqüências na minha comunidade?


É preciso que não tenhamos medo de nos gastar pelas causas e pelos grandes ideais de Jesus, pois por este caminho é que haverá a vida glorificada, a vida ressuscitada. Como cristãos, não podemos viver e conviver inutilmente nem podemos, conseqüentemente, morrer inutilmente. A vida dedicada pelo bem de todos jamais morre. É estar com Cristo. E estar com Cristo significa não parar de existir. Este é o ideal do ser do cristão.


Creio que uma vida só pode chegar à sua plenitude, se a enchermos de uma série de certezas ou convicções profundas. No fundo tudo se reduz a uma questão de amor: amar e ser amado. Do contrário, somente há sempre o mesmo resultado: destruição, sofrimento, opressão, injustiça, deslealdade, traição, exploração e assim por diante. Uma vida significativa é feita de uma série de pequenos atos diários de decência e bondade, que quando somados no final, resultam, paradoxalmente, em algo grandioso. Pela prática de atos justos, aprendemos a ser justos; pela prática de atos de autocontrole, aprendemos a ter autocontrole; e pela prática de atos de coragem, chegaremos a ser corajosos. A nossa vida relativamente curta, neste mundo, é apenas faísca na tela da eternidade. Jesus viveu mais ou menos apenas 33 anos de vida. No entanto ele conseguiu influenciar o mundo inteiro. A vida passa, pois há um tempo para cada coisa. Você já imaginou que quanta coisa boa que você poderia fazer agora mesmo em favor da humanidade? Isto é seu tempo de milagres. E você pode, independentemente de sua idade, etnia, profissão e religião.


Não se arrependa por você ter dado o melhor de si, mesmo que você sofra algum desentendimento ou alguma ofensa por ter feito uma coisa boa na sua vida. Agindo assim, sua vida se transformará. Se você não se impuser à vida, ela se imporá a você. Lembre-se de que os dias transformam-se em semanas, as semanas em meses e os meses em anos. Quando menos se espera, tudo chega ao fim, e você se vê sem nada além de um coração ressentido por uma vida vivida pela metade. Comece a ser a pessoa que você realmente é, fazendo o possível para enriquecer o mundo à sua volta. A bondade é simplesmente o aluguel que devemos pagar pelo espaço que ocupamos neste planeta.

P. Vitus Gustama,svd

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