IGUALDADE NA RESPONSABILIDADE CRISTÃ
Sexta-Feira
da XXIV Semana Comum
19 de Setembro de 2014
Evangelho: Lc 8,1-3
Naquele tempo: 1 Jesus
andava por cidades e povoados, pregando e anunciando a Boa Nova do Reino de
Deus. Os doze iam com ele; 2 e também algumas mulheres que haviam sido curadas
de maus espíritos e doenças: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete
demônios; 3Joana, mulher de Cuza, alto funcionário de Herodes; Susana, e várias
outras mulheres que ajudavam a Jesus e aos discípulos com os bens que possuíam.
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No texto do evangelho deste dia,
evangelista Lucas afirma que, com os Doze, havia um grupo de mulheres que
seguiam a Jesus. O evangelista Lucas é o único que menciona os nomes das
mulheres que acompanhavam Jesus ao longo de suas viagens. Essas mulheres são um
bom símbolo das incontáveis mulheres que ao longo dos séculos deram na Igreja
testemunho de uma fé rica e generosa: religiosas, leigas, missioneiras,
catequistas, ministras extraordinárias da comunhão eucarística, as celebrantes,
as mulheres testemunhas qualificadas para o matrimônio, mães de família, enfermeiras, doutoras,
mestras e assim por diante, que ajudaram Jesus em vida e que colaboraram
eficazmente na missão da Igreja, cada uma a partir de sua situação, entregando
seu tempo, seu trabalho e também sua ajuda econômica. Temos que agradecer a
Deus pelo empenho de tantas mulheres na missão evangelizadora. O papel das
mulheres na Igreja de Jesus hoje em dia já um fato incontestável.
Lucas é designado como “o Evangelho
das mulheres”. Ele dá atenção e valoriza a mulher, precisamente por ela ser
como “menor”, “pobre”. Por não ser valorizado a mulher fazia parte dos “pequenos”
e marginalizados. Entre os quatro evangelistas, Lucas é aquele que mais
dignifica, valoriza, enaltece e exalta o papel da mulher.
Para Deus Eu Tenho Nome e Sou Chamado Pelo Nome
Maria Madalena, Joana e Suzana! São
nomes das mulheres, segundo o texto do evangelho deste dia, que também
acompanhavam Jesus no seu trabalho de levar a Boa Nova para todos,
especialmente para os excluídos da sociedade. Uma é casada, Joana, a mulher de
Cuza, alto funcionário de Herodes. Outra é uma mulher renascida à vida nova
graças à intervenção de Jesus que a resgatou da morte (libertada de sete
demônios, segundo o evangelho), Maria Madalena. E a terceira, Suzana, é uma
discípula da qual somente sabemos seu nome, mas que estava lá.
Maria Madalena, Joana e Suzana! Para
o evangelista Lucas é muito importante mencionar seus nomes. Ter nome é ter
dignidade, é ser gente! Ter nome é ser alguém e não ser número. É ser pessoa.
Ter nome é ter personalidade. Chamar alguém e ser chamado pelo nome é sinal de
intimidade. Entre dois amigos os títulos ficam de lado; cada um é chamado pelo
nome. Em casa cada um tem seu nome e é chamado pelo nome e não pelo titulo.
Para Deus eu tenho nome e Deus me chama pelo nome: “Eu te chamo pelo nome, és
meu” (Is 43,1). E que meu nome está gravado na palma da mão de Deus e por isso,
Ele jamais me esquecerá: “Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não
tem ternura pelo fruto de suas entranhas? E mesmo que ela o esquecesse, eu não
te esquecerei nunca. Eis que estás gravado na palma de minhas mãos” (Is
49,15-16). Deus nunca pode olhar Sua mão sem ver o meu nome. E meu nome quer
dizer EU mesmo. Sou feliz por eu ser o que sou para Deus. Para sociedade em
geral posso não ter nome, mas para Deus eu tenho nome. Eu sou uma pessoa e não
um número para Deus. Quantas vezes saia dos lábios de Jesus os seguintes nomes:
Maria Madalena, Joana, Suzana. Jesus as chamava pelo nome.
Diante de Deus Todos São Iguais
Maria Madalena, Joana e Suzana são
seguidoras de Jesus junto com os doze Apóstolos. Esta frase tinha um grande
peso para a sociedade da época de Jesus.
Na Palestina a estrutura social era
patriarcal. Ou na linguagem mais popular: uma sociedade machista. O pai era o
único que tinha direito de dispor, dar ordens, castigar, pronunciar as orações,
oferecer os sacrifícios. A mulher era considerada em tudo inferior ao homem.
Ela pertence completamente ao seu “dono”: ao pai, se for solteira; ao marido,
se for casada; ao cunhado solteiro, se for viúva sem filhos (Dt 25,5-10).
No Templo e na sinagoga homens e
mulheres ficavam rigorosamente separados: as mulheres sempre em lugares
inferiores, secundários. O culto na sinagoga era celebrado apenas caso houvesse
ao menos 10 homens. As mulheres não contavam, por mais numerosas que fossem.
A mulher não podia atuar como
testemunha num tribunal, nem como testemunha de acusação. Apoiando-se em Gn
18,11-15, consideravam que seu testemunho carecia de valor por causa de sua
inclinação à mentira. Os rabinos da época excluíam as mulheres do circulo de
seus discípulos.
Jesus se levanta contra esse
sistema sociorreligioso, dominante e opressivo para a mulher. Com sua atuação
concreta, Jesus dá à mulher o seu devido lugar na vida social e religiosa. Para
sua época essa atitude era considerada revolucionária e audaciosa! O que tem
por trás da atitude de Jesus é o amor. E o amor é capaz de fazer até o
impossível (cf. Jo 3,16). Tendo acompanhado Jesus desde o começo de seu
ministério público, como os Doze, as mulheres discípulas eram iguais aos homens
para o anúncio da Boa Nova (cf. Jo 4,28-29). Para Jesus, a mulher tem a mesma
dignidade, categoria e direitos que o homem. Por isso, Jesus admite em sua
comunidade homens judeus e mulheres judias com os mesmos direitos de aprender, de
ser discípulos-discípulas, seguidores-seguidoras de Jesus pelo Reinado de Deus.
As exigências e responsabilidades do seguimento são iguais para todos, homens e
mulheres. A tradição nos relata que as primeiras aparições do Ressuscitado
foram feitas para as mulheres (Lc 24,10) e precisamente às que Lucas anota no
texto do evangelho deste dia.
Que belo é ver como desde as
origens apostólicas, Jesus conta com as mulheres em plano de igualdade. Não faz
plano machista do seguimento. Cria uma comunidade mista.
As mulheres não são meras assistentes
dos homens e sim autênticas protagonistas da vida e missão da Igreja. Atuar de
outra maneira é infidelidade ao Senhor que desde o princípio contou com elas.
Elas serviam, punham seus bens ao serviço de Jesus e sua missão.
A Palavra de Deus de hoje quer nos
enfatizar que todos, mulheres e homens, são chamados de igual maneira a
proclamar a Boa Notícia. O Reino de Deus é uma Boa Notícia. No meio da
superabundância de notícias ruins, o cristão e a cristã, a exemplo de Cristo,
devem pregar a Boa Notícia. Martin Luther King dizia que o grande problema não
é o avanço da maldade ou do mal, mas o silêncio dos bons. Em certo sentido,
ficar calado pode ser até uma manifestação da prudência. Mas se ficar calado diante
da maldade pode significar a cumplicidade.
Homens e mulheres são chamados a
colaborar na evangelização a partir de seu próprio talento e de outras
contribuições como as três mulheres citadas no evangelho deste dia. Assim um
completa o outro para uma perfeita evangelização. Victor Hugo escreveu que o
homem e a mulher se complementam para edificar a dignidade de um ser humano.
Evangelizar significa dignificar a vida humana. Deveríamos ser mais abertos em
nossa ideia teológica e social da Igreja. A Igreja do Senhor é de todas as
pessoas de boa vontade para levar adiante a causa de Jesus: homens e mulheres,
jovens e adultos, crianças e adolescentes. Não só de uma etnia, mas pluralista.
Todos os cristãos temos algo em comum: fé e ação evangelizadora. “Todo
aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha
irmã e minha mãe” (Mt 12,49-50).
P. Vitus Gustama,svd
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