VIVER EM FUNÇÃO DO BEM DO HOMEM É VIVER CONFORME O ESPIRITO DE DEUS
Sábado da XXII Semana Comum
12 de Setembro de 2014
Evangelho: Lc 6,1-5
1 Num
sábado, Jesus estava passando através de plantações de trigo. Seus discípulos
arrancavam e comiam as espigas, debulhando-as com as mãos. 2 Então alguns
fariseus disseram: 'Por que fazeis o que não é permitido em dia de sábado?' 3
Jesus respondeu-lhes: 'Acaso vós não lestes o que Davi e seus companheiros fizeram,
quando estavam sentindo fome? 4 Davi entrou na casa de Deus, pegou dos pães
oferecidos a Deus e os comeu, e ainda por cima os deu a seus companheiros. No
entanto, só os sacerdotes podem comer desses pães.' 5 E Jesus acrescentou: 'O
Filho do Homem é senhor também do sábado.'
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A
controvérsia entre Jesus e os fariseus continua. No evangelho anterior era
sobre o jejum. Hoje é sobre o Sábado. Guardar o sábado para um judeu era algo
importantíssimo; estava entre os principais mandamentos. Transgredir o sábado
podia levar o acusado à condenação de acordo com a gravidade do ato. A punição prevista
chegava à pena de morte (cf. Ex 31,12-17; 35,1-3).
E tirar
espigas (com foice) era uma das trinta e nove formas de violar o sábado,
segundo as interpretações exageradas que algumas escolas dos fariseus faziam da
lei na época. Por isso, se escandalizam quando percebem que os discípulos de
Jesus arrancam as espigas para matar a fome no dia de sábado. Na verdade Dt 23,25 determina: “Quando entrares na
seara de trigo do teu próximo, poderás colher espigas com a mão, mas não usarás
a foice”. Era permitido, então, colher espigas com a mão. Só não era
permitido passar a foice.
Os
fariseus ficam presos com suas próprias idéias e usam os textos da Sagrada
Escritura em função de suas idéias. Ler e meditar a Palavra de Deus é para
descobrir a vontade de Deus. Precisamos rezar, a o exemplo de Samuel, quando
lemos e meditamos a Palavra de Deus: “Fale, Senhor; vosso servo escuta!” (1Sm
3,10). A Bíblia é inspirada por Deus e por isso, precisamos pedir ao Espírito Santo
que nos inspire na hora de ler e de meditá-la. Em outras palavras, quando
lermos e meditarmos a Palavra de Deus temos que ter uma mente aberta e um coração
necessitado da graça de Deus.
Jesus veio
ao mundo para salvar a humanidade por amor (cf. Jo 3,16). Por isso, Jesus
aplica um princípio fundamental para todas as leis, em função dos homens: “O Sábado foi feito para o homem e não o homem para o Sábado”.
O homem está sempre no centro da doutrina de Jesus. Sua preocupação é fazer o
bem para o homem, mesmo no dia de Sábado, mesmo transgredindo a lei religiosa.
A lei do Sábado foi dada precisamente a favor da liberdade, do bem e da alegria
do homem (Dt 5,12-15).
Para Jesus,
o espírito da lei deve estar sempre ao serviço de Deus para glorificá-Lo, e ao
serviço do ser humano para dignificá-lo. A glória de Deus é a vida e a
felicidade de seus filhos, os seres humanos. Para Jesus, as leis, ainda que
sejam sagradas, não podem estar por cima da vida, das necessidades vitais, da
felicidade, da plena realização dos seres humanos. Por isso Jesus tem coragem
de afirmar: “O Sábado foi feito para o homem e não o homem para o Sábado”.
A lei civil é uma afirmação dupla: a existência dos maus e a dos bons. Para que
os bons sejam protegidos é necessário ter lei. Se todos fossem bom, se todos
tivessem capacidade de amar, a existência da lei não teria sentido. “Ama e faze
o que quiseres. Por esse caminho não existe outro”, dizia Santo Agostinho.
A lei é
boa e necessária. A lei é, na verdade, o caminho para levar à prática o amor.
Somente o mandamento do amor rompe fronteiras, divisões, prejuízos e
escravidões (Jo 13,34-35; 15,12). Por isso mesmo a lei não pode ser
absolutizada. O Sábado, (para nós o domingo), está pensado para o bem do homem.
É um dia em que nos encontramos com Deus, com a comunidade, com os irmãos, com
a natureza e com nós mesmos. O descanso é um gesto profético que nos faz bem a
todos para fugir ou escapar da escravidão do trabalho ou da carreira
consumista. O dia do Senhor é também dia do homem, com a Eucaristia como
momento privilegiado.
“O sagrado
do sábado”, comenta o rabino Nilton Bonder, “não é o descanso em si, mas o
ritmo mágico do trabalho ao descanso e ao trabalho novamente. É essa entrada e
saída que é sagrada. (...) Sem as pausas há apenas ilusão; sem os silêncios há
apenas ilusão da música; sem a luz-transparência há apenas ilusão da cor” (Código
Penal Celeste).
“Por que fazeis o que não é
permitido em dia de sábado?”, perguntaram alguns fariseus a Jesus. O homem
sempre tem uma tendência fastidiosa em dar uma importância aos meios,
esquecendo-se muitas vezes do fim. Na minha fé, nos costumes religiosos, nos
ritos há de ver primeiro sua finalidade, seu objetivo profundo, e os modos de
expressão podem mudar. O legalismo religioso pode matar o espírito cristão. Toda
comunidade em que os interesses particulares, as desigualdades, o monopólio têm
espaço, deixa de ser campo para o triunfo do Espírito Santo. Jesus nos pede que
acima de tudo deve ficar a misericórdia, o amor: “A caridade é a plenitude da
Lei” (Rm 13,10b). Nascemos do Amor criador e devemos levar essa marca divina
para toda a nossa vida. Somos filhos de Deus em Jesus Cristo e não
estranhos, e, portanto, devemos atuar e viver como tais. Somos membros do Corpo
de Cristo unidos pela fé, amor e esperança. Somos chamados a viver em comunhão
da fé, amor, esperança, vida e solidariedade. Temos que nos salvar juntos. Todos
nós temos que chegar juntos à casa do Pai (cf. Jo 14,1-6). Mas diante da responsabilidade não podemos pretender que os outros
realizem a parte que a cada um corresponde. Cada um é insubstituível na sua
responsabilidade.
Jesus nos convida, então, a fazer da
Palavra de Deus um instrumento de libertação. Sua Palavra é a constituição para
os cristãos, o novo povo de pessoas livres.
Precisamos
nos perguntar: “Não somos, às vezes, demasiados legalistas? Não julgamos nossos
irmãos quando cremos que eles não cumprem as leis ou as regras, sejam as leis
humanas, as leis da Igreja ou as leis consideradas como divinas? Se para Jesus
o homem está sempre no centro de seu ensinamento, será que colocamos o ser
humano como centro de nossas atividades?”. A denúncia da escravidão ao sábado
nos convida a nos libertarmos da religião da observância formal e segui-la
pelos caminhos do amor libertador. Quando as coisas materiais ou rituais
mandam, e não a lei do amor, o homem se faz escravo.
P. Vitus Gustama,svd
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