EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ
Domingo, 14 de Setembro de 2014
Evangelho: Jo 3,13-17
Naquele tempo, disse
Jesus a Nicodemos: 13 “Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do
céu, o Filho do Homem. 14 Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no
deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, 15para que
todos os que nele crerem tenham a vida eterna.16 Pois Deus amou tanto o mundo,
que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas
tenha a vida eterna. 17 De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para
condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele”.
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“A cruz é o instrumento para levantar
aqueles que caem, o apoio para os que mantêm em pé, o bastão dos débeis, o guia
dos que se extraviam, a meta dos que avançam, a saúde da alma e do corpo.
Afugenta todos os males, acolhe todos os bens, é a morte do pecado, a semente
da ressurreição, a árvore da vida eterna”
(São
João Damasceno).
“Ao
olhar para a cruz de Jesus, sabemos do quanto Deus nos amou. Ao
participamos da eucaristia, sabemos do quanto Deus nos ama”
(Madre Teresa de Calcutá).
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Celebramos neste dia a Festa da Exaltação
da Santa Cruz. A Festa da Exaltação da Santa Cruz nos convida a contemplar o
significado da cruz de Jesus para todos os cristãos em todos os tempos e
lugares. O que significa a cruz a partir de Jesus e o que representa a cruz a
partir dos homens? Quando descobrirmos o sentido da cruz de Jesus, teremos mais
consciência em fazer o sinal cruz e em levar a sério os ensinamentos de Cristo.
A exaltação da Santa Cruz há de ser, para nós, ocasião de fazer memória, de
recordar e proclamar muito alto: que Cristo foi exaltado na cruz e que todos os
que são de Cristo não podem ser ambiciosos pelo poder e gloria mundanos. Se vivermos como cristãos, estaremos sempre
com Jesus na cruz, na oposição.
O texto do Livro dos Números (Nm 21,
4-9) fala da desobediência do povo eleita a Deus. O povo de Israel duvidava da
existência de Deus por causa do sofrimento no deserto. Este estado de dúvida em
nossas relações com Deus aparece na nossa vida quando nos sentirmos
excessivamente esmagados pelo peso de nossas preocupações e sofrimentos. Isto
acontece também até nos cristãos mais generosos e nos evangelizadores/missionários
mais ardentes.
O fruto dessa desobediência é a
mordida ou picada mortal pela serpente. Se a desobediência a Deus leva à morte,
a obediência a Deus à salvação e à vida. O que mata definitivamente não é a
serpente e sim a desobediência a Deus; da mesma maneira somente pode dar a vida
a aceitação da vontade de Deus, simbolizada neste caso pela serpente de bronze.
O evangelista João viu na serpente
de bronze uma imagem profética de Jesus cravado no madeiro (Jo 3, 14-21) . Os que voltarem seu olhar com fé para Jesus
e vivendo o estilo de vida de Jesus, se salvarão. A serpente de bronze
levantada por Moisés sobre uma haste no meio de acampamento passa a ser
protótipo de Jesus, levantado sobre o madeiro da cruz. Todos os israelitas, que
foram castigados pelas suas rebeldias contra Deus e sua vontade, mordidos pelas
serpentes venenosas, ao olhar para a serpente de bronze, se curavam. Assim
também todos aqueles que seduzidos pela serpente de diabo, discorrem pelo
caminho de pecado serão salvos também, se converterem-se e voltarem a olhar
para a cruz de Jesus onde se encontra a prova mais extrema do amor de Deus pela
humanidade.
Por isso, são João nos diz: “Deus
amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o
que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). Esta é a credencial de
Deus e com ela se apresenta desde a primeira até a última página da Bíblia. A
resposta para o porquê da criação, da encarnação e da redenção é o amor de Deus
por todos nós. O plano de salvação não tem outro fundamento que o
incompreensível amor de Deus por nós todos e por cada um de nós em particular. Por
amor anda Deus em nossa busca pelos caminhos do mundo. É um Deus que não tem
medo de sacrificar até o próprio Filho para resgatar todos nós, pecadores e
perdidos. O homem nenhum na face da terra sacrificaria seu próprio filho para
resgatar os outros. Somente Deus. Deixar de olhar para Deus que se encarna em
Jesus será para nós uma perdição eterna e será para nós uma infelicidade sem
fim. Levado por seu amor, Deus salta o abismo que nos separava dele e se
aproxima de nós para nos dar o que mais quer: seu “único Filho”. Mais ainda, entregou
seu único Filho à morte para que todos nós tenhamos vida. E esta vida dada por
nós se renova na Eucaristia para que sejamos um dom para os outros, para que
façamos o bem também para os outros. Jamais um cristão pode fazer o mal ou ser
cúmplice do mal.
O melhor comentário para este texto
de Jo 3,16 é a primeira carta de São João 4,18-21: “No amor não há temor. Antes, o perfeito amor lança
fora o temor, porque o temor envolve castigo, e quem teme não é perfeito no
amor. Mas amamos, porque Deus nos amou primeiro. Se alguém disser: Amo a Deus, mas
odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é
incapaz de amar a Deus, a quem não vê. Temos de Deus este mandamento: o que
amar a Deus, ame também a seu irmão”.
Será que amamos realmente Deus?
A cruz foi para Jesus a vontade do
Pai levado até ao extremo. Foi para Jesus a ultima palavra e a mais eloqüente.
Foi para Jesus pôr-se no ultimo lugar e prestar o melhor serviço a todos os
homens, pois veio para servir e não para ser servido. E para servir ter que
pôr-se no ultimo lugar. Por isso, a cruz foi também o trono da exaltação de
Jesus, Sua glória. Por isso também, Jesus recebeu na cruz o
nome-sobre-todo-nome. A cruz é a justiça de Deus contra a justiça do mundo, dos
poderosos.
Além disso, a cruz é um produto terrível
do pecado (injustiça, desigualdade, desamor, ódio, desonestidade, egoísmo,
discriminação, exclusão, exploração e assim por diante), se a encaramos da
perspectiva humana. Da cruz sabemos que o preço do pecado é a morte.
Por outro lado, a cruz é a manifestação
do amor levado até as últimas conseqüências, se a olhamos da perspectiva de
Cristo. Sabemos que somos fracos, pecadores, mas Jesus se identificou com o
nosso sofrimento e morte, embora não tenha sido igual a nós no pecado. Porque
Jesus se identificou conosco e suportou sofrimento e morte (Mt 8,17), tornou
possível que participássemos na sua ressurreição e na sua vida através do
Batismo e dos outros sacramentos. Sem a cruz seria muito difícil convencer o
ser humano do amor de Deus, e mais ainda de seu apaixonado interesse por nos
salvar. Mas, a partir dela, será sempre possível dizer ao ser humano que a sua
cruz tem um sentido, e que a última palavra é “salvação”. O doente, o
maltratado, o pobre e o empobrecido, o acusado de blasfêmia injustamente, o
incompreendido, o encarcerado injustamente, o torturado etc., todos eles têm na
cruz de Cristo uma força. Esse é o duplo significado da afirmação de São Paulo:
“Jesus morreu por nossos pecados” (1Cor 15,3).
Somente olhando para o alto, para
Deus, o homem encontra o sentido da sua existência. Só do alto vem a luz que dá
sentido à alegria e à dor, às vitórias e às derrotas, à solidão e à morte.
Olhar para Jesus na cruz significa aceitar com fé a mensagem que ele dirige
para todos os cristãos. Crer, aqui, significa identificar a própria vida com a
de Cristo. Este é o caminho para alcançar a vida do alto, a salvação.
A cruz, considerada em si mesma, não
tem valor salvífico. Ela passou a ser salvadora por causa do amor de Jesus por
nós todos levado e vivido até as ultimas conseqüências.
Por isso, para não entendermos
erradamente a expressão “Exaltação da Santa Cruz”, devemos saber que Deus não
queria a cruz: como iria querer semelhante desventura e ignomínia para Seu
Filho “bem amado”? (Mt 3,17; 12,18;17,5; Mc 1,11; Lc 1,35). E tampouco Jesus a
quis: “Meu Pai, se é possível, afasta-se de mim este cálice” (Mt 26,39; Mc
14,36; Lc 22,42).
Nesta
festa da exaltação da Santa Cruz lemos a seguinte frase do evangelho de São
João: “... Deus amou tanto o mundo, que entregou
o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida
eterna” (Jo
3,16).
“Deus amou tanto o mundo...”. Esta é
a credencial de Deus e com ela se apresenta desde a primeira página da Bíblia.
Por amor Deus anda em nossa busca. Deus não é Aquele que julga, e sim Aquele
que salva.
Levado por seu amor ao mundo, Deus
salta o abismo que nos separa dele e se aproxima de nós para nos dar o que mais
quer e mais valioso: Seu único Filho. Nisto se manifesta que Deus é amor. O
melhor comentário para este texto é 1Jo 4,9-10: “Nisto se manifestou o amor
de Deus para conosco: em nos ter enviado ao mundo o Seu Filho único, para que
vivamos por Ele. Nisto consiste o amor: não em termos nós amado a Deus, mas em
ter-nos ele amado, e enviado o Seu Filho para expiar os nossos pecados”.
Jesus é, então, a encarnação do amor
do Pai por nós. Ele nos amou até o fim (cf. Jo 13,1). Toda a vida de Cristo é
mistério de redenção. A redenção nos vem pelo sangue de Cristo da cruz (cf. Ef
1,7; Cl 1,13-14; 1Pd 1,18-19), mas este mistério está atuando em toda a vida de
Cristo: já em Sua encarnação porque fazendo-se pobre nos enriquece com Sua
pobreza (cf. 2Cor 8,9); em Sua vida oculta onde repara nossa insubmissão
mediante sua submissão (cf. Lc 2,51); em Sua palavra que purifica nossos
ouvidos (cf. Jo 15,3); em Suas curas pelas quais “Ele tomou as nossas
enfermidades e sobrecarregou-se dos nossos males” (Mt 8,17; cf. Is 53,4); em
Sua ressurreição pela qual somos justificados (cf. Rm 4,25).
“Deus amou
tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crer
não pereça, mas tenha a vida eterna”. Esta frase é uma síntese bíblica
que condensa todo o quarto Evangelho (Evangelho de João). O quarto Evangelho
foi escrito para que acreditemos em Jesus, oferta de amor e salvação de Deus
para a humanidade, e para que, crendo nele, tenhamos a vida em seu nome (cf. Jo
20,31). E esta oferta tem um motivo, uma finalidade e um meio. O motivo da
oferta é o amor apaixonado de Deus pela humanidade: “Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho único”. E a
finalidade desta oferta é a salvação da humanidade: “... para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”.
E o meio para que o amor de Deus chegue até a humanidade é a encarnação de Deus
em Jesus Cristo. Jesus é a manifestação tangível do amor do Pai (1Jo 4,9). O
objeto da fé em Jo é acreditar em um Deus que nos ama e que este Deus acampou
no meio de nós (Jo 1,14).
A partir da frase acima mencionada
sabemos quem é Deus? Muitas definições foram feitas sobre Deus tanto a partir
da filosofia como da teologia em geral e outras disciplinas científicas e
exatas, mas nenhuma definição mais certa e curta que a de São João: “Deus é
amor” (1Jo 4,8.16). Esta frase é carregada de mistério e de promessa, toda
nossa história. É frase nuclear e radiante. Esta frase, ao meditá-la e vivê-la
no dia-a-dia, tem a capacidade de manter a esperança no mundo. Ao compreendê-la
e vivê-la, o homem alcançará o mistério da criação, da encarnação e da redenção
e por isso, encontrará a chave para abrir o segredo de Deus e da vida:
encontrará a chave do sentido e chegará à fonte da vida que é Deus. Se Deus é
amor, então amor é a essência da realidade, a última palavra da compreensão, o
critério da maturidade e o critério definitivo do juízo (seremos julgados sobre
o amor). “Não importa se Deus existe; importa saber que Deus é amor” (Sören
Kierkegaard). E a Bíblia dá a garantia disso mesmo que Deus é amor.
Se Deus é amor, ele não pode deixar
de amar. Toda a atividade de Deus é uma atividade amorosa. Ao criar, Ele cria
por amor; ao governar as coisas, o faz no amor; quando julga, julga com amor.
Tudo quanto faz é expressão de sua natureza, e sua natureza é amar. Amar é
dar-se a si mesmo. A entrega do seu Filho único ao homem por parte de Deus é a
prova deste amor. Deus dá ao homem o que lhe é mais caro: seu Filho feito
carne. Jesus é o amor de Deus feito carne. Nenhum espírito humano teria podido
conceber fato semelhante. Deus ama não para completar-se, mas para completar;
não para realizar-se, mas para realizar. Deus, amando, não procura sequer a sua
glória, mas esta glória nada mais é do que amar o homem gratuitamente a fim de
salvá-lo.
Num mundo acostumado ao comércio, ao
preço das coisas, é difícil entender a gratuidade, é difícil entender a ação de
Deus que quer dialogar, amar com liberdade a todos, oferecendo a oportunidade
de salvação, graça e vida. Nós, na nossa vida cotidiana, damos uma parte de
nossa vida, enquanto Deus dá tudo para a humanidade. Por isso, quando ele pedir
do homem, Deus não pede muito do homem, mas pede tudo do homem.
O homem, para acontecer sua
realização plena que é a salvação, é convidado a caminhar na direção do “Deus
de amor”. O resto equivale a se perder. Basta o homem deixar-se levar por “Deus
de amor”, ele terá uma força transformadora na sua vida. E com esta força o
homem será capaz de apresentar-se com o aspecto mais compassivo e
misericordioso, e falar com o estilo mais humano e viver com outro calor humano
na fraternidade.
P. Vitus Gustama,svd
Para Meditar:
“Eu
carrego uma cruz no meu bolso, uma simples lembrança para mim do fato de ser
cristão. Esta pequena cruz não é mágica nem muito bonita também, e não
significa que ela me proteja de qualquer problema físico. Ela não é para
identificação, para todo mundo ver. Ela é simplesmente um entendimento entre
mim e meu Senhor. Quando eu coloco a minha mão no bolso para pegar uma moeda ou
uma chave, a cruz está lá para me lembrar o preço que Ele pagou por mim. Ela me
lembra também de ser agradecido pelas graças recebidas diariamente e de me
empenhar em servi-Lo cada vez melhor em tudo aquilo que eu faço e digo. Ela
também é uma lembrança diária da paz e do conforto que eu compartilho com todos
aqueles que conhecem meu Mestre e se entregam para uma presença. Então, eu
carrego uma cruz no bolso lembrando a mim e a mais ninguém que Jesus Cristo é o
Senhor da minha vida se assim eu quiser”.
(Robert Kennedy)
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